Rush lança o DVD 'Clockwork angels tour'

Alex Lifeson, Neil Peart e Geddy Lee mostram mais uma vez que são melhores ao vivo que em estúdio

por Arthur G. Couto Duarte 04/05/2014 07:00

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Phil McCarten/Reuters-18/4/13
(foto: Phil McCarten/Reuters-18/4/13)
Excesso jamais foi uma questão capaz de intimidar o Rush. Ainda no vácuo do lançamento da caixa de sete CDs 'The studio albums 1989–2007' da remixagem radical bancada como resposta à controversa manipulação computadorizada utilizada no CD 'Vapor trails' e no DVD 'R30', o veterano power trio canadense não aguardou sequer seis meses para desovar no mercado o mastodôntico 'Clockwork angels tour'.

Também disponibilizado nos mesmos formatos do prévio 'R30', o mais recente delírio audiovisual do grupo não só arrasta atrás de si mais de três horas de música ao vivo – em se tratando do Rush, shows desta duração são de ordem corriqueira –, além de muita pirotecnia, dois curta-metragens nos quais seus integrantes são mostrados como travessos gnomos em um universo sci-fi dilacerado entre a ordem e o caos, uma orquestra sinfônica, outakes, passagens de som, entrevistas, um documentário da própria turnê, cenas de bastidores e, ufa!, uma incomensurável sequência de desconcertantes efeitos especiais.

Mega ultra master A primeira parte do DVD reúne material extraído dos álbuns que o trio lançou ao longo da década de 1980. Alguns ouvintes mais radicais chegaram a fazer comentários maldosos que teimavam em rotular aquela série de canções mais curtas, trespassadas por rajadas de sintetizadores e propulsionadas por batidas eletrônicas como “new wave”, e certamente até hoje são considerados trabalhos menores em meio à vasta discografia do Rush, no concerto em questão discos como Signals, Power windows, Grace under pressure e Hold your fire conseguem reclamar – ainda que tardiamente – seu devido reconhecimento.

Ok, qualquer um que se disponha a escutar de novo as versões originais em estúdio das faixas 'The big money', 'Territories', 'The analog kid' ou 'The body electric' invariavelmente irá se deparar com arranjos anacrônicos e aqueles modismos execráveis de estúdio que marcaram a produção musical da época. Mas o trio não deixa mesmo pedra sobre pedra quando explode pelos alto-falantes via um impactante DTS UP Master Audio, que é hoje o máximo recurso em termos de excelência sônica, cuja baixa perda na qualidade de áudio durante a compressão faz com que a resultante final se mostre quase idêntica ao registro original – embora só disponibilizado nas edições em Blu-Ray, já que a mídia de DVD não suporta o peso de tal recurso. Pura e total devastação sensorial.

Para o segundo DVD, a banda privilegiou releituras do homônimo e mais recente disco 'Clockwork angels', álbum conceitual que alude tanto a secretas fórmulas alquímicas quanto aos geniais desatinos que deram vida ao steam punk, variante de ficção cientifica antevista por Julio Verne com ambientação em um passado distópico e plena de paradigmas de alta tecnologia que só se viabilizariam séculos depois. Talvez a mais pesada, dinâmica, inventiva e ousada gravação de toda a história musical do Rush, 'Clockwork angels' ressurge ao vivo propulsionado por rompantes de humor e performances sanguíneas de tirar o fôlego. Mesmo atormentado por nada mais nada menos do que três tecnicamente perfeitos – mas invariavelmente extralongos e maçantes – solos de bateria(!), 'Clockwork angels tour' é prova cabal dos anos-luz de distância que afastam Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart do virtuosismo gélido protagonizado não só pelo Dream Theater, mas por toda a facção do assim chamado prog-metal. 

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