“Montar um concerto é uma arte”, afirma o maestro. “É que nem dar remédio para criança, tem que pôr um docinho junto. Uma sinfonia pesada de Bruch ou Mahler tem que ter antes uma peça que o público reconheça.” E continua: “No Brasil, não podemos nos dar ao luxo de não fazer isso. Preocupa-se com a qualidade artística, o que é certo, mas é preciso pensar no público. Já vi gente saindo no meio de concerto, e não era porque a orquestra tocava mal. Mas não se pode dar açúcar toda hora. É preciso saber dosá-lo e essa é a arte”.
Na avaliação de Tibiriçá, música boa não pode ser distinguida por gênero ou época e a definição do que é clássico é diferente da habitual. “A música popular brasileira, por exemplo, é muito rica, cheia de clássicos, e dá para fazer muitos arranjos com eles. A música quando é boa pode ser samba, tango. A Filarmônica de Berlim toca 'Tico-tico no fubá' com o Daniel Baremboim, que é o cara mais poderoso do mundo na música erudita. Isso é clássico. Quem vai dizer que Queen com Freddie Mercury não é classico?”, provoca.
O “maestro careta”, como gosta de dizer, é um dos maiores adversários da popularização do repertório clássico. A disciplina e a hierarquia continuam sendo vitais para o funcionamento de uma orquestra, estabelece, mas a figura do maestro carrancudo e fechado a novas ideias continua, em nada ajuda a renovar o público dos concertos. “O mundo mudou, a época é de globalização total. Hoje, o neném já nasce com o celular na mão. Nosso maior papel é o de formação de plateia”, afirma.
Retratos de artista: Molduras do pensamento
Conversa com o maestro Roberto Tibiriçá. Quarta, às 19h30, no Espaço 104 (Praça da Estação, 104, Centro). Entrada franca, mediante ordem de chegada (o local abre às 18h). Informações: (31) 3037-8691 e (31) 9979-3372 ou nos sites www.retratosdeartista.blogspot.com.br e www.facebook.com/retratosdeartista