Gonzaga Leal lança nono disco de sua carreira

O músico pernambucano atinge a maturidade com a gravação do álbum 'De mim', que conta com a participação das cantoras Cida Moreira e Marília Medalha

por Kiko Ferreira 19/04/2014 06:00

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Helder Ferrer /Divulgação
Gonzaga Leal diz que não sabe ser moderno. Melhro: sua música é eterna (foto: Helder Ferrer /Divulgação )
Com carreira iniciada nos anos 1970 e uma pegada eclética que ajudou a formar um repertório fonográfico que vai de Villa-Lobos a Itamar Assumpção, de Carlos Gomes a Zé Miguel Wisnik, o pernambucano Gonzaga Leal chega ao nono disco, De mim, com as marcas de um artesão de sentidos e sentimentos apurados pelo tempo. Gonzaga, para quem “cantar é essencialmente um ato de paixão” e que admite “um enorme apetite pelo brejeiro, pelo agreste, pelo sertão”, nasceu no interior pernambucano, mas cresceu em Recife, onde estudou música e apurou seu estilo. Como um cruzamento de visões de mundo de um Manoel de Barros com Ariano Suassuna, de Chico Lobo com Siba, ele busca, aqui, “cantar o tempo, a saudade, o ofício de artista, tomando como sonoridade central o som misterioso da viola brasileira”.


O intérprete, que já dedicou discos inteiros a mestres como Nelson Ferreira e Capiba, declara não fazer a menor ideia do que é ser moderno, mas a composição de elenco e repertório do CD mostra sintonia com elementos da modernidade que apontam para o eterno. Apresentado pela mineira Déa Trancoso, que fornece a música de abertura (Água serenada) e classifica o trabalho como “o auge do rigor gonzagueano”, De mim pode ter como primeiro teste de estilo a releitura de Show, de Luiz Tatit e Fábio Tagliaferri. A música, que na ótima leitura de Ná Ozzetti recebeu uma tintura de solidão urbana, de camarim, ganha de Gonzaga uma interpretação marcante, de seduzir Xangai, Elomar, Paulinho Pedra Azul e outros leitores das coisas do interior, das terras e das gentes.


Mesmo que a saudade seja elemento fundamental, em temas como A janela da casa do tempo, Da saudade e Palavra doce, o trabalho passa pela fúria das águas (Voo cego, de Lula Queiroga e Yuri Queiroga), a companhia do instrumento como antídoto para a solidão (Ainda bem que eu trouxe a viola, de Juliano Holanda), os riscos da memória (Você me disse não lembrar, de Adriana Calcanhoto) e o tempo da despedida (Canção de adeus, de Altay Veloso).


Tratando de mitos e lendas em Calorzinho de Pedra Azul (Junio Barreto) e Deusa da Lua (domínio público), Gonzaga aumenta a dramaticidade quando convida duas damas da música brasileira para participações especiais: Cida Moreira, em Janela da casa do tempo; e Marília Medalha, em Voo cego e Deusa da Lua. E parece traduzir sua tenacidade na defesa de princípios atemporais de beleza e coerência nos versos de Calmaria, do baiano J. Velloso: “quem quer singrar os mares/ sem passar por tempestades/ é melhor ficar em casa/ abraçado com a saudade”.



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