Motorhead lança o 21º álbum de estúdio, 'Aftershock'

Novo álbum traz 14 faixas inéditas

por Arthur G. Couto Duarte 04/04/2014 08:00

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Hugo Correa/Reuters
(foto: Hugo Correa/Reuters)
Se no universo fantástico que Steven Spielberg construiu para a série cinematográfica 'Jurassic Park' quem dominava o território da fictícia ilha Nubar era o gigantesco carnívoro tiranossauro rex, nos inóspitos domínios do heavy metal não há páreo para a sanha predatória de Snaggletooth; espécie de javali mutante provido de afiadíssimas presas de aço que, desde os primórdios do grupo, sumariza com perfeição o som vertido pelo Motorhead. Recusando-se a sucumbir à extinção que aniquilou outros monstrengos do gênero, esta veterana formação continua a demonstrar na música que verte uma fúria priápica nada condizente com os 68 anos de idade do líder Ian Fraser Kilmister – aquela renitente lenda viva que o mundo inteiro aprendeu a respeitar sob a alcunha de Lemmy.


“We are Motorhead and we play rock’n’roll” (Nós somos o Motorhead e tocamos rock’n’roll). Por quase 40 anos a fio Lemmy tem se valido desse adágio curto e grosso para sumarizar sua lida. Firme como uma rocha, com o dedo médio das mãos em riste para a passagem do tempo, ele ainda se dispõe a fazer do politicamente incorreto seu estilo de vida. Perseverança quase absurda que Lemmy volta a pôr à prova no recém-editado 'Aftershock' (Motorhead Music/Warner).

Não, nenhum fã de carteirinha do grupo esperaria algum choque abrupto – em termos estilísticos, é claro – diante deste que vem a ser o 21º álbum de estúdio do Motorhead. A bem da verdade, excetuando-se momentos de ins(piração) suprema que renderam ao grupo os antológicos 'Overkill' (1979), 'Ace of Sspades' (1980) ou 'Orgasmatron' (1986), a audição da maioria dos álbuns do Motorhead equivaleria a ouvir de forma aleatória qualquer disco de bandas afins como Ramones, Black Sabbath ou AC/DC. Ou seja, quem se dispor a tal experiência sônica perceberá sem esforço que tais formações se imortalizaram justamente por forjar um estilo próprio no rock, uma sonoridade pesada imediatamente reconhecível, mas ao mesmo tempo cristalizada, praticamente imutável.

Apesar disso, ou talvez por isso mesmo, se em teoria 'Aftershock' traz Motorhead despachando 14 faixas inéditas, cuja somatória soa tremendamente familiar, na prática, conseguir tocar de forma tão sanguínea e contundente o mesmo tipo de música vertiginosa e pesada, característico de sua origem, não deixa de ser um milagre. Não por acaso, boa parte da crítica especializada tem considerado a gravação um marco na longa carreira do grupo – hoje, além de Lemmy (vocal, baixo), novamente envergando o clássico formato power trio pela força que emana das performances dos também veteranos Phil Campbell (guitarra) e Mikky Dee (bateria).

Para além da eficácia limpa-trilhos de coisas como 'Queen of the damned', 'Death machine', 'End of time', 'Coup de grace', 'Paralysed' e 'Silence when you speak to me', Lemmy e seus asseclas conseguiram projetar à frente de algumas canções menos urgentes a herança recebida dos míticos Robert Johnson e Chuck Berry, que – debalde a costumeira parede de som do grupo – sempre esteve a pulsar no âmago de sua obra. Algo evidenciado em especial nas dilaceradas 'Crying shame' (destaque para o órgão Hammond à la Steve Miller Band) e 'Lost woman blues', além da sombria mescla de ZZ Top e Led Zeppelin (em seus momentos crípticos), que faz da algo estupefaciente 'Dust and glass' a faixa mais atípica da gravação.

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