Projeto Cinemúsica destaca a riqueza estética do cancioneiro de Dorival Caymmi

Concerto em Nova Lima vai reunir o pianista Marcelo Bratke, Camerata Brasil e o compositor Dori Caymmi

por Ailton Magioli 22/03/2014 00:13

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Rômulo Fialdini/divulgação
Cenário do concerto remete ao mar, eterna fonte de inspiração para Dorival Caymmi (foto: Rômulo Fialdini/divulgação)

Sem mexer na forma – ou querer ser parceiro, como faz questão de criticar Dori, filho do mestre –, a obra violonística de Dorival Caymmi ganha em riqueza harmônica ao ser vertida para piano. Isso poderá ser comprovado neste sábado à noite, no concerto multimídia que será realizado no Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima, em Nova Lima.


Produto da parceria entre o pianista Marcelo Bratke e a artista plástica Mariannita Luzzati, com acompanhamento da Camerata Brasil e participação especial de Dori Caymmi, o projeto itinerante Cinemúsica, que já promoveu concertos didáticos em 14 cidades, chegará a outras 12 este ano.


O cenário vem do filme Mar, de Mariannita Luzzati, que convida o espectador a vivenciar um estado profundo de contemplação. “Queremos levar a natureza para dentro dos teatros”, explica Marcelo Bratke. A proposta é destacar o diálogo da música erudita com o cancioneiro popular.


“A obra de Caymmi é a grande atração do concerto. Os outros compositores (John Cage, Heitor Villa-Lobos e Antônio Carlos Jobim) só pontuam o espetáculo para introduzir a estética caymminiana”, afirma o pianista.


O tema paisagem está presente já na primeira peça (In a landscape, de John Cage), passando pelo Brasil (Cirandinhas e Trenzinho do caipira, de Villa-Lobos) e por Tom Jobim (Garota de Ipanema , Stone flower e Wave). Então, chega-se a Dorival Caymmi, autor de O bem do mar, Promessa de pescador, O vento, É doce morrer no mar, Saudade da Bahia, Canção da partida, Acalanto, O que é que a baiana tem e Mãe menininha.


Além das canções praieiras do mestre Dorival, clássicos de seu repertório ganharam arranjos especialmente reescritos por Dori. Depois de participar das apresentações em Vitória (ES) e Belém do Pará (PA), o cantor, compositor e violonista, que mora nos Estados Unidos, tem um motivo especial para vir a Minas Gerais. Sua mãe, Stella Caymmi – nascida em Pequeri, na Zona da Mata –, introduziu no clã a paixão pelo estado.


“O projeto é muito interessante, pois junta um grupo completamente diferente (violoncelo, violino, flauta, clarinete e percussão) a essa coisa de câmera”, elogia Dori. Além de cantar e escrever os arranjos, ele conta casos durante o show. “É uma homenagem à música do Brasil”, ressalta, lembrando que o piano é responsável pelo diferencial.
“A preocupação foi não deformar a obra de meu pai. Muita gente faz arranjos cabeludos para ela. Fiz tudo no espírito Caymmi, que aqui ganha em riqueza harmônica. É a música do Brasil. Meu sentimento é brasileiro: sou filho de um homem brasileiro”, conclui, emocionado.


O 'VÍCIO' DE DORI

Dori Caymmi volta a dedicar um disco à sua parceria com o letrista Paulo César Pinheiro. Em 2011, Poesia musicada celebrou os 42 anos da dupla. O título Setenta anos (Acari Records) se refere à idade de Dori, mas o CD comemora também os 55 que ele dedicou ao violão.


“Fui pegar o violão para fazer música e encontrei a poesia de Paulo César Pinheiro. Agora estou completamente viciado”, brinca Dori. “Vejo a perfeição dos versos dele, que nada têm de artificial. Setenta anos é até melhor do que o outro disco”, diz. Aos 15 ele aprendeu a tocar violão com o pai. Dorival Caymmi o apresentou à brasilidade de Baden Powell, João Gilberto, Garoto e Luiz Bonfá. “É muita informação para uma geração”, resume. Depois, Dori estudou com Roberto Menescal.


O trabalho com Paulo César começou em 1969, com a canção Evangelho. A dupla fez cerca de 70 músicas. A literatura (Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e Adonias Filho) é um dos pontos fortes da parceria dos compadres. “Fico ‘suassuna’ da vida quando falam alguma coisa dele”, diz Dori, referindo-se à proverbial contundência do autor de O auto da Compadecida. (AM)


CINEMÚSICA
Com Marcelo Bratke, Camerata Brasil e Dori Caymmi. Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima, Praça Benedito Lima, s/nº, Centro de Nova Lima. Sábado, às 20h. Entrada franca. Lotação: 795 lugares. Informações: (31) 3541-4426. 

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