No cenário eletrônico pós-contemporâneo, niilismo ainda serve de sinônimo para Trent Reznor. Desde que emergiu das vielas mais infectas de Nova Orleans para brutalizar tímpanos alheios com a música mais abrasiva e furiosa que se fez ouvir durante a década de 1990, esse multi-instrumentista e seu projeto Nine Inch Nails se notabilizaram por extravasar temas – em aclimatações sônicas techno-thrash-industriais de puro pesadelo – sobre sofrimento, dor, suicídio e confusão mental e brutalidade de natureza paroxística. De acordo, não foram poucos aqueles que enxergaram nele a encarnação rocker do alucinado e perversamente subversivo poeta uruguaio Lautreámont.
Mesmo elaborado com requintes tecnológicos de áudio state-of-theart no intuito de criar a ambiência de um futuro distópico, Hesitation marks não deixa de inquietar e nos assombrar com vislumbres dantescos como os de Come back hunted. Neste funk-psych-rock esquisitão, mas imperativamente dançante, seu descrente protagonista tem o azar de bater frente a frente com o Senhor das moscas; a mesma pestilenta entidade que o universo católico teme sob o nome Belzebu.
Aplicativo
Já em Copy of a – no qual ele de certa forma retoma o sarcástico aplicativo que David Bowie criou para qualquer um servir de rosto ao “anti-hero(es)” da capa do apocalíptico The next day – Reznor cria um redemoinho propulsionado a synths e percussão tribal, que eleva ao cubo a sonoridade do finado LCD System, e, en passant, forja uma réplica de si próprio – só para aplacar a sanha daquilo que o público em geral espera que ele venha a ser. E para quem teima em reclamar da sonoridade “demasiadamente frouxa” do novo NIN, sugiro a dinâmica das frequências que torna In two progressivamente ensurdecedora. Ou, quem sabe, a reapropriação que Reznor fez das mutilações glitch – ao final dos anos 90, definida como “a estética da falha” – na ruidosamente mórbida Various methods of escape.
Pop? Bem, se alguém se dignar a ouvir de novo o referencial Pretty hate machine, álbum que assinalou a estreia em CD do NIN, o que dizer dos refrões ganchudos, das estruturações versos-melodia e batidas altamente dançantes presentes em Head like a hole, Down on it ou Sin? Portanto, amantes da rigor mortis ou da catatonia cérica, tratem logo de eleger outro ídolo “radical” para sua veneração estanque.
Sem gravar material novo em estúdio desde 2009, Reznor resgatou seu Nine Inch Nails do limbo onde hibernava para confrontar seu público com Hesitation marks (Null Corporation/Universal). Se para fãs de primeira hora a audição apressada do novo registro pode sugerir uma rendição de Reznor a um conformismo comercial quase pop, Hesitation marks haverá de soar aos mais atentos como uma espécie de revisitação – ainda que mais reflexiva e densa – ao universo infernal descortinado há quase 10 anos pelo artista em sua tresloucada obra-prima The downward spiral.
Mesmo elaborado com requintes tecnológicos de áudio state-of-theart no intuito de criar a ambiência de um futuro distópico, Hesitation marks não deixa de inquietar e nos assombrar com vislumbres dantescos como os de Come back hunted. Neste funk-psych-rock esquisitão, mas imperativamente dançante, seu descrente protagonista tem o azar de bater frente a frente com o Senhor das moscas; a mesma pestilenta entidade que o universo católico teme sob o nome Belzebu.
Aplicativo
Já em Copy of a – no qual ele de certa forma retoma o sarcástico aplicativo que David Bowie criou para qualquer um servir de rosto ao “anti-hero(es)” da capa do apocalíptico The next day – Reznor cria um redemoinho propulsionado a synths e percussão tribal, que eleva ao cubo a sonoridade do finado LCD System, e, en passant, forja uma réplica de si próprio – só para aplacar a sanha daquilo que o público em geral espera que ele venha a ser. E para quem teima em reclamar da sonoridade “demasiadamente frouxa” do novo NIN, sugiro a dinâmica das frequências que torna In two progressivamente ensurdecedora. Ou, quem sabe, a reapropriação que Reznor fez das mutilações glitch – ao final dos anos 90, definida como “a estética da falha” – na ruidosamente mórbida Various methods of escape.
Pop? Bem, se alguém se dignar a ouvir de novo o referencial Pretty hate machine, álbum que assinalou a estreia em CD do NIN, o que dizer dos refrões ganchudos, das estruturações versos-melodia e batidas altamente dançantes presentes em Head like a hole, Down on it ou Sin? Portanto, amantes da rigor mortis ou da catatonia cérica, tratem logo de eleger outro ídolo “radical” para sua veneração estanque.