Ney Matogrosso lança disco que nasceu de seu mais recente show

Cantor aposta em novos compositores e resgata canções de Itamar Assumpção

por Ailton Magioli 08/12/2013 00:13

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Marcelo Faustini/Divulgação
(foto: Marcelo Faustini/Divulgação)
Pela terceira vez Ney Matogrosso grava em estúdio disco de repertório inédito, amplamente explorado no palco. Verdade que o impacto de Atento aos sinais ao vivo é muito maior do que na frieza da sala de gravação, mas, à medida que a audição do repertório avança, o disco vai-se igualando ao show. Isso se deve, principalmente, à força das inéditas, cuja gravação, reduzida a 14 faixas (no show eram 19), deixou de fora o que já não funcionava em cena ou foi guardado pelo cantor para o DVD, que será gravado, este sim ao vivo, no ano que vem.

“Fica tudo muito melhor, sob controle, depois de ter o repertório amadurecido no palco”, justifica Ney, que antes fez experiências do gênero em Inclassificáveis, de 2007, e Beijo bandido, de 2009, que só chegaram ao disco depois de amplamente experimentados no palco, sem necessidade de ficar lendo letras no estúdio, além de ter os arranjos das canções mais precisos. Risco na iniciativa? Ney Matogrosso não vê nenhum, mesmo porque milhares de pessoas que não tiveram oportunidade de ver o show agora terão a chance de ouvir o trabalho.

“É outra abordagem”, pondera o cantor, que optou por tirar do repertório do disco canções como Astronauta lírico, de Vitor Ramil, sob o argumento de que, mesmo gostando muito, ela não funciona no estúdio. “Guardei para o DVD, quando as pessoas vão reconhecer isto”, acrescenta, sobre um dos momentos mais emblemáticos do repertório pop-rock, belamente ilustrado com coloridos balões de gás soltos em pleno palco, ao fim da apresentação.

Com 90% do repertório inédito, Atento aos sinais ao vivo começa a pegar o público já na abertura impactante do show em que, ao som explosivo de canções politizadas como Rua da passagem, de Arnaldo Antunes e Lenine, e Incêndio, de Pedro Luiz, Ney surge esguio no centro do palco, sentado sobre trono formado por dois módulos espelhados, protagonizando uma verdadeira explosão de sons, luzes e cores, no espetáculo mais tecnológico que o cantor já fez.

“É tudo tão impactante que desarma as pessoas diante do ineditismo do repertório”, reconhece o cantor. “As pessoas me dizem que não conhecem nada das músicas, mas que gostaram”, diverte-se Ney, que nunca teve problemas com inéditas. Para se ter ideia de como o intérprete lida com o assunto vale lembrar que em Atento aos sinais há canções que ele queria cantar desde 2007, como a já citada Rua da passagem e Tupi fusão, de Vitor Pirralho. “Basta buscar que vai encontrar canções inéditas”, ensina o experiente intérprete, que está comemorando 40 anos de carreira desde a estreia no grupo Secos & Molhados.

“Para mim é muito fácil, tranquilo”, diz a respeito do processo por meio do qual o repertório inédito chega até ele. “Se não me enviam, vou atrás na internet”, afirma Ney, cujo novo repertório é calcado na chamada cena indie, em que se destacam as bandas Zabomba (SP) e Tono (RJ), além de Criolo (Freguês da meia-noite), Dan Akagawa (Todo mundo o tempo todo), Jerry e Alzira Espíndola (Beijos de imã) e o já citado Vitor Pirralho. Considerado por muitos um compositor (ainda) maldito, Itamar Assumpção (1949-2003) comparece com o rock Noite torta e Isso não vai ficar assim, que o cantor classifica de uma obra-prima.

“Gravo Itamar desde 1983. Tudo dele é interessante, uma sacada de letra, uma ideia. Os arranjos é que são muito datados, mas, se não se prender a isto, descobrem-se pérolas maravilhosas”, elogia Ney Matogrosso, que resgata também o samba Roendo as unhas, de Paulinho da Viola. Os arranjos são os mesmos do show, mas em estúdio, sob a direção musical do mesmo Sacha Amback, ele trabalhou com muita liberdade, com direito inclusive ao uso de elementos eletrônicos que agora está levando para o palco.

Vitor Ramil (A ilusão da casa), Dani Black (Oração, da qual saiu o título do trabalho), Beto Boing e Paulo Passos (Pronomes) e Rafael Rocha (Não consigo e Samba do blackberry, esta da parceria com Alberto) fecham o repertório do disco, que vai render ainda dois shows este mês. Em janeiro, Ney retoma a turnê no Rio, na expectativa de voltar a se apresentar em todas as capitais pelas quais já passou, incluindo Belo Horizonte.

Um trio de dois

Adepto da publicação de biografias, que tanta polêmica gerou nos últimos tempos, depois de Ney Matogrosso: ousar ser, de Bené Fonteles (textos) e Luiz Fernando Fonseca (fotos), o cantor volta a ser personagem de fotobiografia, desta vez assinada pelo ex-companheiro de Secos & Molhados Gerson Conrad. Trata-se de Meteórico fenômeno – Memórias de um ex-Secos & Molhados, na qual o autor transformou o trio em duo, diante da negativa de João Ricardo, o terceiro integrante da banda e detentor da marca, em participar do livro, sequer em fotografias.

“Não entendi, já que o livro não tem nenhuma ofensa ao João. Tudo isto é muito chato, gasta energia à toa”, diz Ney, que não pretende publicar algo do gênero. “Tenho vontade de fazer um levantamento das entrevistas que fiz, organizá-las cronologicamente e reunir tudo em um livro, para ver se o pensamento é coerente”, diz o cantor.

 “Totalmente a favor da liberdade de expressão”, Gerson Conrad diz que sua postura frente à polêmica é de que sempre existirá um caminho ético. “Sempre tive plena convicção de que, sem a formação mágica, os Secos & Molhados não significam absolutamente nada”, garante. Para Gerson, o que João Ricardo vem fazendo nos últimos anos é matar o mito. “Basta ver as tentativas dele em trazer o grupo de volta com cantores que imitam a voz de Ney Matogrosso. É patético”, critica.

Gerson Conrad gravou recentemente uma versão de autor para Rosa de Hiroshima, do poema de Vinicius de Moraes, que ele musicou, além da inédita Direto recado. Esta canção tem tudo a ver com a negativa de João Ricardo em autorizar a edição de fotos suas no livro Meteórico fenômeno. A publicação está sendo vendida (R$ 56) no site www.livrariadaana.com.br.


Rádio
Atento aos sinais é um disco tão radiofônico que Ney Matogrosso diz ter pedido à produção que o encaminhasse a todas as emissoras do país. “Ele tem muitas chances de tocar”, aposta o cantor, destacando o potencial de faixas como Rua da passagem, de Lenine e Arnaldo Antunes, e Roendo as unhas, de Paulinho da Viola. Freguês da meia-noite, de Criolo, já é um sucesso entre seu público, assim como Não consigo, de Rafael Rocha, da banda Tono. “Tem para todo gosto”, garante o cantor.

Cazuza
Amigo pessoal de Cazuza (1958-1990), com quem manteve um romance, Ney Matogrosso levantou por algum tempo a hipótese de dedicar um disco ao repertório inédito do artista. “Acabei ficando só com três das quais gostava, gravando-as com os autores”, revela o intérprete. Com George Israel ele registrou a inédita Quatro letras. Já Seda, ele bem que tentou, mas acabou desistindo de incluir no repertório de Inclassificáveis, por causa do arranjo, que não o satisfez.

Cinema

Presença cada vez mais marcante nas telas, o cantor, que protagonizou o filme Luz nas trevas, de Helena Ignez e Ícarro Martins, também fez participação em Primeiro dia de um ano qualquer, de Domingos de Oliveira, além do média-metragem Poder dos afetos, também de Helena Ignez. Joel Pizzini dirigiu o curta-documentário Olho nu sobre o cantor. O que fãs não conseguem entender é a ausência de Ney (como personagem) na cinebiografia Cazuza – O tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.

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