Gravadora investe em jovens talentos da MPB

Gravadora Kuarup acredita na força do mercado, apesar da crise da indústria fonográfica. O elenco reúne novatos dispostos a batalhar por seu espaço

por Ailton Magioli 07/12/2013 10:52

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Credito Carlos Alkmin/Divulgação
Projeto Vinagrete estreia no mercado fonográfico misturando forró, MPB e baião com funk (foto: Credito Carlos Alkmin/Divulgação)
Eles chegaram à cena no momento em que o mercado e a música passam por transformações. Responsáveis por dar continuidade à já nem mais lembrada linha evolutiva da MPB, jovens cantores e compositores, além de enfrentar a falta de fôlego de grandes gravadoras para investir, começam a experimentar novos formatos de seu produto, que passam obrigatoriamente pelo espaço virtual.

“Hoje em dia, só quem gosta de encarte procura disco”, constata a mineira Barbara Leite, que chega ao mercado com Quem, lançamento da Kuarup. Pela mesma gravadora, estreiam na carreira fonográfica Léo Versolato, de São Paulo (com Santo bom); Giovanna Farias, paraibana radicada no Rio de Janeiro (com Uyraplural); e o Projeto Vinagrete (Misturar é preciso), liderado pelo paulista Uribe Teófilo. Desde 2011, já chegaram às prateleiras, via Kuarup, 11 trabalhos de novos nomes.

“Ficamos com um pé atrás quando soubemos do interesse da gravadora por nosso trabalho”, confessa Uribe Teófilo, admitindo que a desconfiança só se desfez à medida que as conversas se aprofundaram. “O suporte que a Kuarup está nos dando faz com que alcancemos degraus a que jamais chegaríamos facilmente”, admite o cantor e compositor.

A influência familiar na escolha da profissão é assumida por Giovanna Farias, filha do genial paraibano Vital Farias, que mora em seu estado natal. “Ouço música desde a infância, não tinha como ser outra coisa na vida”, reconhece ela. A lista de filhos e netos de famosos que passaram pela gravadora – como Vital, um dos músicos de Cantorias, projeto de inegável sucesso – inclui os já lançados Alice Caymmi, filha de Danilo e neta de Dorival Caymmi; Lenine Guarani, filho de Taiguara; e o violonista Marcell Powell, filho de Baden Powell, que divide o CD Violão, voz e Zé Kéti com o cantor Augusto Martins. A paulistana Bruna Moraes, caçula da turma, de apenas 18 anos, desponta com personalidade no disco batizado com seu próprio nome.

Presente desde 1977 no combalido mercado fonográfico, a Kuarup vem fazendo história no segmento que se convencionou chamar de “música brasileira de qualidade” e se transformou em uma das principais gravadoras independentes do país. Com dois prêmos Grammy Awards e novos donos, a empresa mantém catálogo invejável: é dela o maior acervo de Heitor Villa-Lobos de que se tem notícia, além de trabalhos importantes relativos ao choro, às músicas nordestina, caipira e sertaneja, à MPB, ao samba e ao instrumental.

Em síntese, a Kuarup guarda uma bela amostra da diversidade brasileira, como propõe o disco de estreia do Projeto Vinagrete, Misturar é preciso. O cantor e compositor Uribe Teófilo diz que o trio (ou octeto, de acordo com oportunidades de trabalho) se propõe a mesclar sons. “É pura pesquisa sobre forró, funk, baião, MPB e outros ritmos e gêneros que a gente tenta atualizar e transformar em música dançante, mas sem perder a brasilidade”, explica. As baladas são o alvo do coletivo. Entre as releituras está a oportuna Aqui é o país do futebol, de Fernando Brant e Milton Nascimento.

Teófilo lembra que a relação artista-gravadora mudou: “Hoje é tudo mais independente”. Aos que imaginam ser difícil o acesso à gravadora, Barbara Leite, nascida em Ouro Branco, no interior de Minas, esclarece: “Fiquei sabendo da Kuarup, entrei no site e enviei um link de vídeo com as músicas Voar e Correnteza, que agora estão no disco Quem”.

DEVAGAR

Credito Carlos Alkmin/Divulgação - Barbara Leite
Quero uma carreira sólida, mas sigo devagar, diz Bárbara Leite (foto: Credito Carlos Alkmin/Divulgação - Barbara Leite )
Com licenciatura em música pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a cantora, habilitada em violão, credita o diferencial de sua música a esse instrumento, que conduz a harmonia enquanto as letras tratam de questões cotidianas. “Vou com o pé no chão. Claro que quero uma carreira sólida, mas sigo devagar”, anuncia a moça, apaixonada por Caetano Veloso, Chico Buarque e Djavan desde a infância. Para reafirmar a mineiridade, a jovem gravou uma releitura de Um girassol da cor de seu cabelo, de Lô e Márcio Borges. O timbre firme e forte lhe garante um bom passaporte.

A paraibana Giovanna Farias privilegia clássicos do pai, Vital Farias, como Veja (Margarida), sucesso de Elba Ramalho. Cantora de timbre empostado, ela nem sempre se sai bem na tarefa de dar voz à consagrada, porém ignorada, obra do pai. Giovanna conta com Ciranda de terreiro, do piauiense Gilvan Santos, para puxar o CD de estreia. “É um momento legal para colher a maturidade. Tenho segurança do que quero. Estou muito feliz”, conclui.

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