Marco André mistura pop e brega no seu sexto disco, Nem revi nem laite

Músico e produtor paraense reclama de as rádios não tocarem a música de sua região

por Eduardo Tristão Girão 23/11/2013 00:13

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Nem revi nem laite, sexto e recém-lançado disco do músico e compositor paraense Marco André, é uma benfeita mistura de pop com brega e ritmos regionais como carimbó – sem deixar de lado o tempero caribenho, que, dada a proximidade geográfica com o Norte, geralmente se faz presente nos trabalhos de artistas da região. Também produtor experiente, ele sabe bem como fazer essa mistura: assinou o primeiro álbum de Dona Onete, rainha do tecnobrega.

“O mercado precisa sempre de algo novo para estabelecer contato direto com os padrões do consumo. A Amazônia mais ‘roots’ continua praticamente intacta, pois o país nunca voltou os olhos à sua verdadeira alma musical. Depois que o Sudeste acordou para o fato de que existia vida inteligente em Belém, por meio de um movimento envolto na tecnologia, que ocorria nas periferias e que não dependia de gravadoras, o das aparelhagens de tecnobrega, o Brasil acordou para o Pará”, analisa Marco.

Todo gravado no Rio de Janeiro, o novo álbum é, para o artista, continuação de seus dois últimos lançamentos: Amazônia groove e Beat iú. “A conexão entre eles se dá pela espontaneidade, por brotar dentro de mim a vontade imensa de fazer com que alguns ritmos paraenses se conectem com o Brasil da forma mais natural possível, sem ter que procurar um caminho mais fácil ou longe da minha verdade apenas para tentar chegar ao sucesso”, explica.

Daniela Dacorso/Divulgação
'O mercado precisa sempre de algo novo para estabelecer contato direto com os padrões de consumo' (foto: Daniela Dacorso/Divulgação)
São 10 faixas, todas assinadas por ele. O bullying do brega abre o disco, com letra que ironiza a “descoberta” do brega pela grande mídia nacional, repentinamente transformando seus compositores em mestres. Segue-se mistura de rumba, guitarrada, brega, frevo, carimbó e outros ritmos, conferindo tons interessantes do restante do repertório. Se liga no tremor da língua remete automaticamente a Dona Onete, que também cantou o poder do jambu, erva local conhecida pela sensação de anestesia na boca.

Regional

Marco toca vários instrumentos no disco, como violão, cavaquinho, percussão e guitarra. Divide as programações, arranjos e produção com Alex Moreira, integrante do grupo Bossacucanova e seu antigo parceiro. Instrumentos artesanais também foram usados, como o banjo de carimbó: feito por pescadores da região paraense do Salgado, tem cordas de linha de pesca e corpo feito de panela de aço. Sem falar no curimbó, tambor feito de tronco de árvore maciço e escavado, com couro de pele de veado.

A propósito, vale lembrar que Marco é também idealizador do CaBloco Muderno, coletivo musical com participação de outros artistas da cena paraense. Nesse projeto, eles misturam tambores amazônicos com os instrumentos do samba e a mistura vem chamando a atenção pelas levadas inusitadas da bateria, composta por curimbós, barricas, caixas de marabaixo, surdos, tamborins e repiques. O grupo gravou recentemente seu primeiro disco, com participações de Pepeu Gomes, Paulinho Moska e Pedro Luís.

 

 

 

Duas perguntas para...

Marco André
músico, compositor e produtor

Você tem bastante experiência como produtor e em estúdio. Você vê possibilidade de influência mais forte da música paraense na produção de artistas de outros estados, como ocorreu com o forró?

O que mais atravancava a música produzida no Pará eram os textos carregados de expressões amazônicas, tornando-a excessivamente regional. O sotaque musical paraense sempre esteve próximo ao suingue caribenho, cubano, consumido largamente no mundo inteiro. Logo, não creio que estivéssemos tão próximos à estranheza para não chamar a atenção das demais regiões. O maior problema está na falta de músicas pertencentes a essa cena nas programações de nossas rádios. A imprensa escrita tem falado bastante, mas os programadores das rádios não compraram essa ideia. Até mesmo em Belém, tudo o que foi produzido fora da cena do brega só tocou em uma única emissora local. Quando passarmos a escutar músicas produzidas no Pará nas rádios de todo o Brasil, como ocorre com o forró, mesmo que seja nas mais alternativas e de menor alcance, acredito que poderemos influenciar autores de outras regiões como os mesmos têm nos influenciado ao longo dos anos.

Quais são os novos nomes da cena paraense que vêm chamando sua atenção? Há novas tendências se formando no estado?

Curtia muito um grupo chamado La Pupunha, que misturava guitarrada com surf music. O grupo acabou, mas, de vez em quando, se reúne e faz show. Eu os adorava. Também curto o trabalho instrumental de um duo formado pelo Arthur Kunz e Leo Chermont, o Strobo. É música eletrônica misturada com guitarrada, entre outras coisas. Gosto também da Luê Soares, que canta muito bem e mistura sua rabeca servida de influências muito verdadeiras à sonoridade do momento atual. Sou apaixonado pelo trabalho de Dona Onete, principalmente o fincado na negritude, que poucos conhecem mas está no disco dela que produzi. Tem também o Trio Manari, um dos responsáveis por levar esses ritmos de forma moderna aos estúdios, e que me ajudou a conceber vários trabalhos, entre eles meus CDs Amazônia groove e Beat Iú. Atualmente, espero ansioso pelo disco do amigo Manoel Cordeiro, de quem sempre fui fã incondicional desde a década de 1980.

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