Pianista Amilton Godoy fala do fim do Zimbo Trio e anuncia novos projetos

Grupo agora leva seu nome. Aos 72 anos, ele lança disco e investe em sua escola de música

por Eduardo Tristão Girão 10/11/2013 06:00

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Rafael Ianii/Divulgação
Amilton Godoy perdeu o nome de seu trio para o antigo parceiro, o baterista Rubens Barsotti, hoje afastado do grupo (foto: Rafael Ianii/Divulgação)

Foi um baque: depois de desentendimento com a família do baterista Rubens Barsotti, o pianista Amilton Godoy, um dos fundadores do lendário Zimbo Trio, abriu mão de usar o sólido nome da formação que ajudou a construir desde 1964. Hoje com 72 anos, o artista está certo de que não há tempo a perder com brigas na Justiça. Segue em plena atividade, fielmente escoltado pelos mesmos músicos da última formação do Zimbo, à exceção de Barsotti, que está doente e vinha colaborando cada vez menos nas apresentações.

Agora, ele está à frente do Amilton Godoy Trio. “Em 2001, sem que eu soubesse, o Rubinho registrou o nome Zimbo Trio como sendo dele. O prazo para contestar isso venceu este ano e levaria uns oito anos para resolver isso judicialmente. A família do Rubinho não esperava que eu fosse abrir mão de um nome pelo qual lutei a vida inteira, mas não vou me submeter a isso. Tenho grande satisfação a dar ao público brasileiro. Nunca pensei no meu nome e não estou fazendo isso por vaidade, mas porque fui impedido pela família dele”, desabafa o pianista.

A primeira providência foi relançar o disco Zimbo Trio autoral com outro nome, Autoral – Volume 1, retirando apenas a faixa na qual Barsotti tocava. Com Marinho Andreotti (baixo acústico) e Pércio Sápia (bateria), Amilton reeditou 10 composições de autoria dele, como Choro, Viva Tuca, Caucaia do alto, Antes assim e O batráquio, todas gravadas ao vivo no Teatro Fecap, em São Paulo, em 2010. Quando lançado originalmente, ano passado, o álbum rendeu ao Zimbo Trio o prêmio de melhor grupo instrumental na 23ª edição do Prêmio da Música Brasileira. O volume dois já está a caminho.

Como continuará tocando o mesmo repertório com os mesmos músicos (só o nome mudou), para o pianista o trabalho continua. “Cumprimos nossa missão, só faltou encerrar. Para minha satisfação, tenho recebido convites para trabalhos novos e desafiadores. Não acabou. Por exemplo, outro dia fui tocar em Sorocaba e, chegando lá, os jornais me chamaram de fundador do Zimbo Trio. A história continua comigo. O Zimbo faz parte da minha vida”, observa Amilton.

Legado O Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam), escola criada pelo Zimbo Trio, agora está sob controle de Amilton, que comprou a parte da sociedade que pertencia a Barsotti. “Continuamos funcionando normalmente, com nossos 150 alunos em aulas de piano, baixo, bateria, canto. Sempre fazemos um show especial no fim do ano, do qual participo tocando”, afirma. O Clam, acrescenta, é um marco no ensino da música no país: fundado há 40 anos, respondeu aos anseios dos músicos que queriam aprender e se aperfeiçoar numa época em que o acesso a métodos não era tão fácil como hoje.

O Zimbo Trio tornou-se rapidamente referência na fusão instrumental da música brasileira com o jazz. “O jazz era o objetivo de todo músico com propósitos mais aprimorados. O Zimbo foi criado com o objetivo de sairmos daquele fundo de conversa de boate. Pretendíamos ir para teatros, era um projeto ambicioso para a época. Nosso primeiro disco mostrou que a música brasileira tinha tanta qualidade que podia ter improvisação por cima. Começamos a fazer jazz com música brasileira e resgatamos a bossa nova. O momento foi propício, demos sorte”, lembra o pianista.

Adiamento

Com a divisão entre Amilton Godoy e Rubens Barsotti, projetos que estavam sendo preparados para as comemorações dos 50 anos do Zimbo Trio, ano que vem, foram cancelados. O jornalista Lauro Lisboa, por exemplo, estava escrevendo livro sobre o grupo. Da mesma forma, foi para a gaveta o disco que seria lançado com composições especialmente escritas para o trio, a cargo de nomes como Milton Nascimento e Ivan Lins.

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