Show de Anitta em boate de BH confirma o sucesso da cantora entre fãs alvoroçadas

Funkeira carioca cumpre o que promete e fãs não têm do que reclamar

por Mariana Peixoto 08/11/2013 06:00

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Marcos Vieira/EM/D.A Press
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
“Que dia é hoje?” O relógio marca 1h50 da madrugada de quarta para quinta-feira. “A vida de vocês está maravilhosa!”, fala Anitta para sua venerável plateia, que não parece entender o significado de dia útil. Para as centenas de fãs que se aboletam em frente ao palco da Swingers, é dia de festa. Para a rebolativa cantora carioca, a comemoração dos 16 anos (quatro a menos que Anitta) da boate na Avenida Raja Gabaglia é um dia a mais de trabalho. Que continuou ontem à noite em João Monlevade, prossegue nesta sexta em Pouso Alegre e termina neste sábado, em Leopoldina. Ou seja, de quarta a sábado, Anitta e sua trupe – cerca de 40 pessoas, ninguém sabe afirmar ao certo o número exato de músicos, produtores, dançarinas, técnicos – vão cruzar Minas Gerais: da região central ao Vale do Aço, passando pelo Sul de Minas e Zona da Mata. Minas são muitas, a poderosa está sentindo isso na pele.

E Minas também. Elas estão em todo lugar, mas parecem uma só. A casa noturna tem capacidade para 850 pessoas. Está lotada de meninas que não têm mais idade do que a atração principal, todas de “uniforme”: microssaias e saltos vertiginosos, que não permitem movimentos lá muito ousados. Mas não se fazem de rogadas. Se às 23h o movimento ainda é fraco e dá para conversar na pista, quando se aproxima da meia-noite o espaço vira terra de ninguém. Muitas sobem num tablado no meio da pista para sacolejar o corpinho ao som de Lana Del Rey (será que tiveram fôlego para ver a norte-americana ontem, no Chevrolet Hall?) e DJs como o sueco Avicii. De vez em quando dá até para ouvir rock ('Best of you', do Foo Fighters, e 'Use somebody', do Kings of Leon, ambos em versão remix, claro), mas para o público isso não faz lá muita diferença, já que o gosto é bem eclético. Munidos de vodca e energético, garotões sentem a “vibe” das meninas.

Ao lado de Anitta, boa parte dos entrevistados pelo Estado de Minas se diz fã de sertanejo. É o caso da estudante de engenharia civil Marília Vieira, de 23 anos, que está pela primeira vez na boate e é uma das poucas com as pernas cobertas (“sou mais discreta”, diz ela, que acha a carioca “autêntica e divertida”). É o caso também da estudante de Direito Lídia Senna, de 22 anos, assídua na Swingers – “Aqui não tem confusão” –, que gosta de funk também, “mas não o pesado”. Espera, ao lado da colega de curso Rafaela Rosa, de 21, ver Anitta pela primeira vez munida de minissaia e uma camiseta com frase de efeito (que ela desconhece o significado). “It always seems impossible until it's done” (sempre parece impossível até que seja feito), que poderia bem ser o lema de Larissa de Macedo Machado, nome impresso na carteira de identidade de Anitta, pensando na vida quatro anos atrás, época em que passava o tempo postando vídeos de covers que fazia no YouTube.

E parece impossível (mesmo!) que tudo vá dar certo nesta noite de quarta-feira. Chove lá fora, Anitta vai atrasar, avisam logo. Chega à 0h30, para começar o show à 1h30. Nesse meio-tempo, sua trupe bate-papo numa área externa no fundo do palco. Ela, com produtores e duas dançarinas, fica numa sala contígua ao palco, o chamado Espaço Mulher. É ali que conversa com a reportagem, recebe fãs, tira fotos. Aline e Ariele, lindas, cabelão black power, se juntam num canto da sala para tentar dominar o frio que o shortinho e a meia-calça não conseguem domar. Anitta agradece o elogio pelo cabelo e a maquiagem. Mesmo com uma equipe tão grande, é ela mesma quem se arruma. Aprendeu, diz, como tudo na vida, sozinha, e na base da tentativa e erro.

Na hora de posar para as fotos, só se incomoda com o cenário (nus femininos de gosto mais do que duvidoso). Não há muito o que dizer, mas ela parece ter todo o tempo do mundo, a despeito da euforia dos fãs do lado de fora: diz que há oito meses não para de fazer show, geralmente de quarta a sábado; que no pouco tempo livre que tem, dorme (passou a tarde de quarta em BH dormindo e fazendo fisioterapia); que, como seu fãs, tem gosto eclético (ouve Marisa Monte, Ivete, Pitty, Djavan e Jorge Vercillo); que gravar no fim deste mês ou no início do próximo o programa 'Sai do chão' (vespertino dominical que estreia em 2014 na Globo e vai contar com outros astros do pop atual, gente do quilate de Thiaguinho, Paula Fernandes, Naldo); que, como não tem tempo, fica no telefone sem parar (e no Instagram, com seus 1,2 milhão de seguidores; Twitter, quase 1 milhão; e Facebook, 5 milhões!). Tem uma equipe para cuidar de sua página na rede social de Mark Zuckerberg; para os outros, como é “menos gente”, ela dá conta sozinha.

Maior aperto

Bem, é hora de subir ao palco. Palco é força de expressão, porque o que há na Swingers é um tabladinho que mal dá conta da banda de Anitta. São sete homens, entre músicos e DJs, mais a cantora e as duas dançarinas (quando o show é grande, as dançarinas podem chegar a 20). No espaço exíguo ninguém parece se incomodar. Estressado mesmo, só o técnico de som, um peso-pesado com um laptop de tamanho inverso ao seu, que tem que comandar de um corredor ao lado do tablado o som de qualidade sofrível que sai das caixas. O homenzarrão tem a seu lado toda a sorte de profissionais: PMs, roadies, faxineiras, seguranças, garçons, promoters. Todo mundo quer ver o mais próximo possível a poderosa. Para os músicos, o espaço apertado não parece fazer diferença. Williams, o baterista de Anitta (sim, o nome é como o da escuderia de Fórmula 1) dá tudo de si nas baquetas com uma cara boa de fazer gosto. Toca com tanta vontade que até a comissão de frente (metal, guitarra e baixo) volta e meia olha para trás para ver a performance.

O show de Anitta dura uma hora e 20 minutos. O repertório é basicamente o mesmo, seja em BH, Monlevade, Paris, Nova York. Começa com 'Não para', música da trilha da novela 'Além do horizonte', que acabou de estrear na Globo. 'Meiga e abusada', outro hit novelesco (está em 'Amor à vida') só virá mais tarde. No meio disso, uma colagem bem trash de trechos de hits de terceiros ('Tédio', do Biquini Cavadão, com 'Tô nem aí', de Luka, com 'Toda forma de amor', de Lulu Santos). “Vocês são foda. Que saudade de BH, porra!”, grita com voz ainda infantil, um tanto anasalada. A galera do gargarejo delira, mal consegue dar alguns passos, tamanha a quantidade de gente, mas os celulares empunhados resistem a qualquer cãibra. E canta absolutamente tudo, pérolas como 'Cachorro eu tenho em casa' e 'Fica só olhando'. 'Show das poderosas' vem exatamente meia hora depois que Anitta subiu ao palco (e seria repetido no bis). “Pre… para que agora é a hora/ Do show das poderosas/ Que descem e rebolam/ Afrontam as fogosas”. Não sei, diante de tal cenário, a gente pega se imaginando se tanto poder vale a pena.

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