Mais um round entre os novos Caim e Abel

Irmãos Liam e Noel Gallagher continuam a brigar e falar mal um do outro em público

por Arthur G. Couto Duarte 27/10/2013 00:13

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Olivia Harris/Reuters
(foto: Olivia Harris/Reuters )

Ainda irreconciliáveis, os irmãos Liam e Noel Gallagher continuam a brigar e falar mal um do outro em público. Nos intervalos dessa já prolongada contenda, ambos tentam convencer os fãs de que seus novos grupos seriam projetos musicais destinados a desenvolver uma sonoridade totalmente diferente daquela que ambos haviam criado juntos no Oasis.

No mais recente round da luta travada entre os “Caim e Abel” do rock britânico, Liam passou a levar vantagem ao contra-atacar com o CD Be (Columbia-Sony Music). Tal e qual um jab (como a terminologia do boxe define o bom e velho soco direto), o segundo álbum do Beady Eye serviu para que Liam abrisse certa distância de seu oponente e, com sorte, poderia até chegar a definir qual dos dois se manteria de pé no ringue, ao fim da “luta”. No entanto, mal encaixado, seu golpe talvez só tenha sido mesmo suficiente para manter Liam afastado de Noel até ser salvo pela próxima batida do gongo.

Quando a imprensa anunciou Dave Sitek – além de integrante do conceituado grupo electro-soul-art-rock TV on The Radio, o mesmo emprestou seu conhecimento de estúdio aos discos de formações tão radicais quanto Foals, Liars, Telepathe e Bat For Lashes – como produtor do novo disco do Beady Eye, não foram poucos aqueles que passaram a acreditar que Liam Gallagher, afinal, fosse desencanar da obsessão beatle e partir para algo, digamos, mais ousado. De fato, quando a introdutória Flick of the finger irrompe de forma majestosa sob o suporte de nervosíssimos trompetes, navalhadas de guitarra e um inflado monólogo provido pelo ativista paquistanês Tarik Ali, talvez pela primeira vez em sua carreira Beady Eye tenha conseguido soar a um só tempo diferente e verdadeiramente ameaçador.

Porém, quando as demais faixas de Be vão sendo desveladas ao ouvinte, sobram apenas precárias canções a sugerir eventuais sobras do Oasis. Algo que nem sequer as detalhadas texturas, reverberações e interferências providas – a título de raras especiarias – pelo talentoso Sitekse se mostram suficientes para acrescentar sabor à requentada “quentinha” pop-psicodélica que o pretenso chef tenta, uma vez mais, nos empurrar goela abaixo, como deslumbrante e jamais provada iguaria.

Que o digam insossas baladas recheadas de citações ao Fab Four – afora os pastiches The world’s not set on stone, Dreaming of some space e Start anew, Liam ergue a voz para, de forma forçosamente casual, encaixar o verso “give peace a chance” no meio da monótona Don’t brother me (eta trocadilho infame!) – e descarados roubos gerados em outras fontes sônicas. Vide o riff de guitarra que ele pilhou dos Stooges e sua antológica 1969, na tentativa de validar a bisonha mescla de raga e sunshine pop presente em Ballroom figured.

Enfim, não serão mesmo os insistentes “yeah yeah yeahs” ouvidos ao longo do CD que levarão o mais pretensioso dos irmãos Gallagher a encarnar o espírito de John Lennon. (Let it) “Be”, caro Liam – ou talvez melhor fosse dizer “Let it bleed” (Deixa sangrar), uma vez que outro revide do igualmente truculento Noel talvez já possa estar a sua quando dobrar a próxima esquina.

MAIS SOBRE MÚSICA