Placebo abusa de riffs nervosos e sedução de uma imagem andrógina

Banda inglesa já fez show em Belo Horizonte no ano de 2010

por Arthur G. Couto Duarte 30/09/2013 08:34

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Gualter Naves/Divulgação
(foto: Gualter Naves/Divulgação)
Que me perdoem os fãs do incensado Muse, mas o grupo de rock que melhor conseguiu transpor o clássico formato power trio para o novo milênio chama-se Placebo. Dando as costas à impostação faraônica adotada pela banda rival para dominar o circuito dos estádios europeus, Placebo perversamente preferiu seduzir as massas pela imagem andrógina transmitida por Brian Molko. Enigmático frontman que ousou atribuir ao uso de sombras para olhos e gloss labial um poder tão impactante quanto aquele que emanava dos mais nervosos riffs de sua guitarra, Molko veio equiparar o Placebo a power trios da estatura de The Jimi Hendrix Experience, Cream, The Jam, The Police, Husker Du e Nirvana.

Em 1996, não foi mera ação do acaso que levou o ainda embrionário Placebo a se tornar – descontado o próprio The Cure – o único contratado da Fiction Records, gravadora fundada pelo empresário Chris Parry para divulgar somente os discos do grupo liderado pelo não menos sexualmente ambíguo Robert Smith. A partir de tal afiliação, Smith – assumida influência de Brian Molko – aceitaria tempos depois o convite para tocar em um show do Placebo. Aliás, pulsão assemelhada deve ter motivado os usualmente pouco acessíveis David Bowie e Michael Stipe (vocalista do extinto R.E.M.) a dividir o microfone com um extasiado Molko em subsequentes CDs do Placebo.

Enfim, ao traçar uma linha de fuga entre amargas baladas trespassadas por letras confessionais e rompantes paroxísticos de fúria e distorção, Placebo legitimou um singular amálgama musical à base de glam rock, pós-punk e guitar bands que comandaram o indie rock na virada da década de 1980 para a de 1990. Mérito de um grupo que – mal refeito da chegada do novíssimo 'Loud like love' ao mercado europeu duas semanas atrás – se empenhou em recolocar no mercado seus seis primeiros CDs em versões com áudio definitivo, em uma inédita parceria entre os selos Vertigo e Elevator Music, dois dos braços da gigante Universal, e a autogerida editora musical placeboworld.


REEDIÇÃO

PLACEBO (1996)
Lançado após o grupo ter excursionado com
o redivivo Sex Pistols e ilustrado a capa dos jornais Melody maker e NME, o álbum de estreia do Placebo já se mostrava promissor. Mesmo com
uma sonoridade bem mais áspera e crua daquela que viria a ser definida em trabalhos posteriores,
o CD se impõe pelas contundentes Teenage angst, Nancy boy e 36 degrees.

WITHOUT YOU I’M NOTHING (1998)
Definida por Brian Molko como uma “celebração
da amizade com as mulheres”, a faixa Pure
morning abre o disco de forma literalmente chapada. Se não chega a enveredar por inauditos territórios sônicos, a gravação traz um trio mais afiado, capaz de ir da arrastada melancolia melódica de Every you every me à abrasão
provida pelas guitarras de Brick shithouse.

BLACK MARKET MUSIC (2000)
Conduzido por vocais em falsete que
parecem gritar por uma identidade feminina,
o rock pesado prevalece aqui. Ok, Molko quase chega a convencer que está cantando sobre
sexo ou drogas, mas o que no fundo fustiga
canções tão densas quanto Black eyed,
Special K, Taste in men e Passive agressive
é a batalha travada pelo artista contra seus
próprios demônios.

SLEEPING WITH GHOSTS (2003)
Inesperados desvios estilísticos conduzem
o Placebo às fronteiras do heavy metal (a instrumental Bulletproof cupid), do electro-pop (English summer rain) e do neo-rock gótico (a maravilhosa faixa-título). Um enorme salto qualitativo em sincronia com recordes de
vendas a consolidar a posição do trio entre os principais grupos de rock do início do século 21.

ONCE MORE WITH FEELING:
SINGLES 1996-2004 (2004)
Esta coletânea alinha 16 faixas conhecidas,
mais as inéditas (e algo inexpressivas) Twenty
years, Protége moi e I do. De todo modo, tais deslizes não comprometem rompantes de hedonismo entremeados pela sutil
vulnerabilidade expressa em You don’t care
about us (obrigado, The Cure) ou a bizarra mescla de fetichismo e sadomasoquismo em This picture.

MEDS (2006)
Com participações especiais de Alison “W” Mosshart (a cantora do grupo The Kills simplesmente arrasa na faixa-título) e Michael Stipe (emprestando credibilidade à sonâmbula Broken promise),
o disco soa tão inventivo e convincente quanto
o prévio Sleeping with ghosts, com baladas épicas memoráveis, eficazes arranjos de cordas, guitarras fuzz a rodo e flertes com a eletrônica.

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