Semana de Música Antiga comprova influência de 14 séculos na produção contemporânea

Programação movimentará Belo Horizonte, Sabará, Ouro Preto, Mariana e Tiradentes até o dia 29 e conta com baile de máscaras e evento destinado ao público infantil

por Eduardo Tristão Girão 21/09/2013 09:00

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Hopkinson Smith/Divulgacao
O alaudista Hopkinson Smith, um dos instrumentistas mais respeitados do mundo, vai tocar em BH (foto: Hopkinson Smith/Divulgacao )
Com espetáculo para o público infantil e baile de máscaras que promete transportar os participantes a outras eras (além de concertos, cursos, palestras e conferências), a Semana de Música Antiga movimentará Belo Horizonte, Sabará, Ouro Preto, Mariana e Tiradentes até o dia 29. Realizado pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o evento chega à quarta edição com o tema Bizarrie alegórica – ou seja, arte bizarra que ultrapassa padrões. A programação é totalmente gratuita. Os organizadores se empenham em formar público para esse repertório.


Embora o termo música antiga remeta à produção anterior à época atual, ele é empregado para definir o repertório dos períodos medieval (500 – 1450), renascentista (1450 – 1600), barroco (1600 – 1750) e clássico (1750 – 1820). Parte da música do período romântico (1820 – 1900) é tocada até hoje e alguns de seus elementos continuam presentes ou influenciam a interpretação contemporânea, motivo pelo qual o romantismo não é considerado música antiga.

“Mantivemos o conceito de mescla acadêmica, artística e de formação, além da filosofia de incentivar a interdisciplinaridade, trazendo pensadores de áreas como filosofia, letras, linguística, arquitetura e história para contextualizar melhor a música antiga”, explica Iara Fricke Matte, coordenadora geral do evento.

O tema não está necessariamente ligado a uma época específica. Trata-se de definição empregada para certas obras com o intuito de justificar uma quebra de padrão estético. “Essas obras extrapolam a imaginação – não só nas artes visuais, mas também na música, com a exploração de instrumentos não usuais de outros países e sonoridade distinta, por exemplo. Era uma permissão, uma liberdade que o artista se permitia ter”, completa Iara.

Para comprovar que essa atitude artística permanece, ela cita como exemplo o luthier mineiro Roberto Batista Guimarães, que trabalha com instrumentos inspirados naqueles usados por intérpretes da música antiga. Hoje de manhã, ele participará, no Conservatório UFMG, de encontro com o público ao lado dos colegas Fernando Ferreira (Brasil) e Rudolf Tutz (Alemanha). Artistas vão tocar e auxiliar o público a compreender os instrumentos.

Os grupos Música Ficta (Colômbia), Ensemble Calliophon (Noruega) e Concerto Soave (França) são alguns dos destaques da programação, além do Coral Ars Nova da UFMG. Músicos renomados internacionalmente, como o norueguês Lars Henrik Johansen (cravo), o suíço Hopkinson Smith (instrumentos de corda, como alaúde barroco) e os brasileiros Luis Otávio Santos (violino barroco), Cláudio Ribeiro (cravo) e Josinéia Godinho (órgão e cravo) também vão se apresentar. Alguns concertos serão realizados em igrejas.

Para Letícia Bertelli, coordenadora artística e pedagógica do evento, o público deve ficar especialmente atento aos três concertos de professores de música. “Serão eventos muito especiais, com possibilidade de ouvir vários tipos de repertório. Essas formações inéditas reúnem artistas que nunca tocaram juntos”, justifica. Esses concertos estão marcados para quarta, quinta e sexta-feira – os dois primeiros em Belo Horizonte e o último em Sabará.

Público Além desse encontro, outras ações deverão atrair o público, como o baile de máscaras marcado para sábado que vem, no Espaço Cento e Quatro, na capital mineira. Subirão ao palco a Orquestra da Escola de Música da UFMG e grupo especial de instrumentistas, além de alunos de dança barroca e bailarinos profissionais que instigarão as pessoas a dançar à moda antiga num ambiente que recria as velhas cortes europeias.

“A ideia desse baile é que a plateia não seja passiva, mas que participe ativamente. Isso nos faz repensar a forma de apresentar nossas atividades. O público tem crescido tremendamente, o alcance do evento é muito maior, com perfil diversificado de participantes. Pelas inscrições para as aulas, receberemos gente não só de outros estados, mas de países vizinhos como a Colômbia. Há muitas pessoas investindo em música antiga”, explica Iara.

Um espetáculo se destaca: Barroco para crianças, a cargo do Estúdio Barroco, trio formado por Sueli Helena de Miranda (flauta doce), Cecilia Aprigliano (viola da gamba) e Ana Cecilia Tavares (cravo e espineta), dedicado a apresentar ao público infantil o repertório brasileiro e europeu dos séculos 17 e 18. Cenários, adereços e figurinos especiais recriarão a atmosfera da época com a ajuda de mestre de cerimônias.

“Esse espetáculo foi proposto pelo próprio grupo e o achamos fascinante, inclusive para formação de público. Ele faz releitura das obras, é trabalho de quem tem grande conhecimento pedagógico. Há a preocupação de criar laço de identidade com o público. As crianças têm muito mais abertura que os adultos, menos preconceito”, revela Iara. As apresentações do Estúdio Barroco ocorrerão na quarta-feira, em Belo Horizonte, e no sábado que vem, em Tiradentes.

Ouça Ciaconna, de Bach, pelo suíço Hopkinson Smith:



Concerto no. 1 em Fá Maior (Allegro assai - Adagio - Allegro), "Sinfonia e concerto a cinco", op. 2, de Tomaso Giovanni Albinoni:



PROGRAMAÇÃO


» HOJE
12h – …d’Amore. Com Seconda Prattica Ensemble (Brasil). Conservatório UFMG (Av. Afonso Pena, 1.534, Centro de BH)
20h30 – Oye, escucha, aguarda... Com Música Ficta (Colômbia). Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, BH)
20h30 – A quest’olmo, a quest’ombre et a quest’onde... Com Ensemble Calliophon (Noruega). Casa da Ópera, Ouro Preto

» AMANHÃ
12h15 – Stylus Phantasticus – bound to nothing. Com Lars Henrik Johansen (Noruega). Catedral da Sé de Mariana
17h – The winds of change... Com Hopkinson Smith (Suíça). Conservatório UFMG
20h30 – O violino extravagante: a gênese da sonata barroca. Com Luis Otávio Santos (Brasil) e Cláudio Ribeiro (Brasil). Conservatório UFMG
 
» SEGUNDA

20h30 – A quest’olmo, a quest’ombre
et a quest’onde.... Com Ensemble Calliophon (Noruega). Catedral da Boa Viagem, em BH

» QUARTA

14h30 – Barroco para crianças. Com Estúdio Barroco. Escola de Música da UFMG, câmpus da UFMG, Pampulha
20h30 – Concerto dos professores. Conservatório UFMG

» QUINTA

20h30 –Concerto dos professores. Conservatório UFMG
20h – Oye, escucha, aguarda... Com Música Ficta (Colômbia). Igreja de Santo Antônio, Tiradentes
20h30 – Dagli amorosi vermi consumato. Com Concerto Soave (França). Teatro Municipal de Sabará
 
» SEXTA
20h – Ibéria e Itália: o sacro e o profano na música para órgão nos séculos 16 a 18. Com Josinéia Godinho (Brasil). Igreja de Santo Antônio, em Tiradentes
20h30 – Concerto dos professores. Teatro Municipal, Sabará

» DIA 28
10h30 – Barroco para crianças. Com Estúdio Barroco (Brasil). Museu Casa Padre Toledo, Tiradentes
20h30 – Baile de máscaras. Espaço Cento e Quatro (Praça da Estação, 104, BH)

Tema de estudos
A Semana de Música Antiga é oportunidade para observar o avanço dos estudos acadêmicos na área. “Há temas mais gerais, como ópera francesa, e mais pontuais, como música barroca em Ouro Preto, além de palestras direcionadas para músicos, que completam os concertos e permitem apreciação mais rica”, diz a professora Maria Cecília Coelho, coordenadora científica do evento. Parte do trabalho dela inclui a articulação entre a música e áreas como filosofia, teatro, literatura e arquitetura.

4ª SEMANA DE MÚSICA ANTIGA DA UFMG
Até dia 29, em Belo Horizonte, Sabará, Ouro Preto, Mariana e Tiradentes. Atividades gratuitas. Informações: (31) 3224-6700 e www.semanamusicaantiga.
wordpress.com.

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