Rosa Passos canta no Parque Municipal com a Orquestra Sinfônica de Minas

Com carreira consolidada no exterior, ela agora quer ser conhecida no Brasil

por Carolina Braga 31/08/2013 07:02

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“Lá vou eu atrás de vocês”, brinca Rosa Passos. Com sorriso no rosto, diante da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, olha para o baterista, no fundo da sala, e orienta, com a peculiar voz suave: “Você pode ir um pouco mais sutil, tá? Obrigada”. Sutileza, aliás, é palavra adequada para descrever a cantora, compositora, instrumentista baiana, radicada em Brasília. Leveza também.


É assim, por exemplo, que ela se aproxima do violonista e didaticamente dedilha a batida perfeita para acompanhá-la. Sem qualquer arrogância e com muita vontade de compartilhar. “Sempre digo que sou uma missionária da música. Ela não é minha. Sou instrumento catalisador”, ressalta. É para isso que Rosa Passos está em Belo Horizonte.

A cantora é a convidada da série especial do projeto Concertos no Parque, promovido pela Fundação Clóvis Salgado. Amanhã, às 10h, sob a regência do maestro Marcelo Ramos, ela apresenta com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais 12 canções de seu repertório, especialmente arranjadas para a ocasião. Serão clássicos da MPB, como Aquarela do Brasil, de Ary Barroso; Linha do Equador, de Djavan; Desenho de giz, de João Bosco; e Vivo sonhando, de Tom Jobim, entre outras canções, inclusive temas autorais.

“Estou muito feliz, porque houve uma coisa mágica nesse encontro. Fico muito contente de poder fazer isso no meu país”, disse, logo depois do primeiro ensaio, na manhã de quinta-feira. Ser acompanhada por orquestras não é novidade na carreira da cantora. No mesmo formato, já se apresentou na Alemanha e nos Estados Unidos. “Sou muito mais conhecida lá fora do que aqui. Nem se compara. Em 2006, fiz dois shows no Carnegie Hall, em Nova York, sozinha com meu violão. Os ingressos se esgotaram um mês antes.”
Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Rosa Passos já se apresentou com Yo-Yo Ma e Winton Marsallis, mas gosta mesmo é de ser convidada para cantar em seu país (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)

A carreira no exterior começou de maneira despretensiosa na década de 1990 e foi crescendo. Rosa Passos gravou com Ron Carter, considerado um dos melhores baixistas de jazz do mundo, e fez turnê com o violoncelista Yo-Yo Ma, com participações com Paquito D'Rivera e Winton Marsallis. O prestígio no exterior tomou tamanha envergadura que Rosa Passos foi obrigada a fazer uma pausa de quatro anos.

“Precisei de um tempo sabático, pois estava estressada de muitas viagens. De tantos compromissos internacionais, a Rosa Passos engoliu a Rosa Maria. Aí, a Rosa Maria colocou a Rosa Passos em um baú e ficou em casa, curtindo as plantas, os bichinhos”, recorda. Sempre acompanhada dos cinco cães e quatro gatos, dedicou-se à cerâmica, tapeçaria e outras artes manuais. “A primeira coisa que me bloqueou foi o medo de avião, que é o veículo de trabalho. Estou bem, viajando de novo”, diz.

Desde que retomou a carreira, Rosa Passos diz estar em fase totalmente nacional, embora, vez ou outra, ainda aceite convite para outros países. “Desde o ano passado estou investindo muito aqui, porque lá fora sou uma pessoa completamente realizada.”

Se é assim, o que falta? “Ser convidada para fazer shows”, responde. Indo um pouco mais a fundo nesse diagnóstico, a única latino-americana doutora honoris causa pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Rosa Passos atribui à dificuldade de distribuição de criações mais sofisticadas o avanço do que chama de música popularesca. “Ela toma conta de tudo. A música de qualidade não tem espaço e está cada vez pior. Tenho colegas famosos que estão até querendo parar de cantar porque não conseguem trabalhar. Não tenho nada contra qualquer ritmo, nem o sertanejo, nem o pop, nem o pagode, mas deveria existir um esquema em que todos conseguissem mostrar seu trabalho no mercado brasileiro”, sugere.

Parceria

Humildemente, Rosa Passos confessa que seu maior sonho é conseguir fazer uma turnê brasileira. “Meus shows no exterior são fechados oito meses antes. Já fui para Paris não sei quantas vezes. Tenho propostas para Londres, mas raramente para o Recife”, compara. É por isso que experiências como esta, ao lado da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, surgem como um bálsamo para ela. “O Marcelo Ramos (regente da OSMG) tem postura, presença. Sabe se impor. O maestro pode ser muito bom, mas se ele não tiver essas ferramentas para se impor diante de uma orquestra, as coisas não acontecem”, ensina. As conversas em torno da participação no concerto de amanhã começaram há mais de um ano e se estreitaram nas últimas duas semanas.

Enquanto Marcelo Ramos ensaiava com a orquestra em Belo Horizonte, de onde quer que estivesse, Rosa Passos recebia o arquivo de áudio pelo computador e passava sugestões por e-mail. Como cantora, instrumentista e compositora, tem a consciência de que interpretar acompanhada de grande orquestra requer uma boa dose de doação. “Não pode se conectar somente em você. É preciso estar ligada em todos os instrumentos, nos solistas, nos arranjos, no que o maestro está regendo. É a união de muitas pessoas. É um desafio que adoro”, garante.

“O projeto é tão desafiador para o músico quanto tocar uma sinfonia de Beethoven, Tchaikovsky. É o mesmo trabalho. Existe uma falsa impressão de que a música popular é: ‘senta lá e lê na hora’. Não tem isso”, completa Marcelo Ramos. O maestro se surpreendeu com o nível de troca estabelecido com a cantora.

A própria Rosa Passos cuidou da escolha do repertório, assim como de fazer pequenos ajustes com os músicos durante o ensaio. A apresentação será oportunidade de se reencontrar com canções antigas, como Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça, que desde 1998 não aparece nos shows de Rosa. Outra novidade são os arranjos orquestrais para algumas faixas de Samba dobrado, a homenagem que a cantora faz a Djavan em seu disco mais recente, lançado em junho. “É um momento muito mágico para mim. Tinha curiosidade de ouvir isso com uma grande orquestra”, confessa.

Sem perder o contato

Como se considera uma ativista da música, Rosa Passos se conecta com o que Milton Nascimento cantou em Nos bailes da vida. “Todo artista tem que ir aonde o povo está. Tenho uma relação muito próxima com os fãs, desde que não invadam a minha privacidade. Falo com os meus fãs daqui, da Alemanha, da França, do mundo todo”, conta. Detalhe: pelo Facebook.

“A Rosa é ativíssima”, confirma Marcelo Ramos. Foi exatamente pela rede social que o maestro conseguiu o contato com a cantora. “Entrei e vi umas fotos de cachorros, família e pensei: é ela mesma. Escrevi e logo ela me respondeu com o contato do empresário”, lembra. “Costumo falar que sou agraciada com a música, mas também tenho bichinhos, cozinho muito bem, faço comida baiana, bolo muito gostoso, gosto de brincar com os meus cachorros, de plantar”, completa a cantora.
Rosa Passos não vê motivos para separar o lado artístico da pessoa que é. “Dou oficinas discretamente pelo Face. Recebo muitas mensagens de jovens que pedem informação sobre respiração, técnica. Aí, pego um clássico, tipo Body and soul, e coloco com vários cantores, vários pianistas e digo: ‘Quem canta tem que ouvir piano, porque é o instrumento mais próximo da voz humana”, ensina.

O empenho didático não fica nisso. A cantora também inventou a Rádio RP. Todos os dias, entre as 18h e as 20h, ela publica vídeos de música, seja dela ou o que está ouvindo no momento. “Se ficar dois dias sem entrar no Facebook você precisa ver a agonia”, conta, antes de cair na risada.

Sinfônica Pop


Repertório
Meditação (Tom Jobim)
Vivo sonhando (Tom Jobim)
Dindi (Tom Jobim)
É luxo só (Ary Barroso)
Aquarela do Brasil (Ary Barroso)
Desenho de giz (João Bosco)
Marina (Dorival Caymmi)
Dunas (Rosa Passos)
Juras (Rosa Passos)
Cigano (Djavan)
Linha do Equador (Djavan)
Samba dobrado (Djavan)


SINFÔNICA
POP com Rosa Passos

Amanhã, 10h. Parque Municipal Renné Gianetti. Avenida Afonso Pena s/nº, (31) 3236-7400. Entrada franca.

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