Leo Gandelman rende tributo aos grandes mestres nordestinos em disco instrumental

Em 'Ventos do norte', músico carioca recria temas que mostram como surgiu nos país uma escola do saxofone com linguagem própria

por Eduardo Tristão Girão 19/08/2013 00:13

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Cafi/Divulgação
"A mistura desses saxofonistas nordestinos com os cariocas, quando vieram para o Rio, é que produziu essas músicas fantásticas" - Leo Gandelman (foto: Cafi/Divulgação )

Sem dúvida, 'Ventos do norte', que o saxofonista carioca Leo Gandelman lançou pela Saxsamba/Azul Music, é candidato a melhor disco de música instrumental do ano no Brasil. Com o mesmo grande talento demonstrado em seus últimos álbuns, os notáveis 'Origens' (2011) e 'Vip vop' (2012), o artista faz apanhado de 13 composições de saxofonistas nordestinos que, cada um à sua maneira, ajudaram a desenvolver uma linguagem própria para o instrumento no país.

“Foi um trabalho de pesquisa intenso, mas o resultado ficou muito musical, com peças leves”, afirma Gandelman. “Cheguei a ficar com medo de que o disco ficasse muito denso”, confessa. Saxofone porque choras, clássica composição do paraibano Ratinho (Severino Rangel), com a qual abre o repertório, foi a primeira música que o saxofonista tocou em seu instrumento, ainda no início da carreira, desvendando nota por nota de ouvido, sem auxílio de partitura.

Com estilo Gravado no Rio de Janeiro entre dezembro do ano passado e março, 'Ventos do norte' tem Gandelman se revezando entre os saxofones soprano, alto, tenor e barítono. Em estúdio, o artista contou com time de primeira linha, formado por Henrique Cazes (cavaquinho), Lula Galvão (violão), Rogério Caetano (violão de sete cordas), Alberto Continentino (baixo acústico), Beto Cazes (percussão) e Rafael Barata (bateria). Maestro Spok (saxofones), Marcelo Caldi (acordeo) e Pretinho da Serrinha (percmussão) são alguns dos convidados especiais.

Os sergipanos Netinho (Pedro Silveira Neto) e Luiz Americano Rego, o potiguar K-Ximbinho (Sebastião Barros) e os pernambucanos Severino Araújo, Moacir Santos, Zumba (José Gonçalves Júnior) e Duda (José Ursicino da Silva) completam o quadro de compositores contemplados no disco, muitos deles nascidos antes dos anos 1930. Como costurar tudo? “Com minha visão musical, interpretação e arranjos. Não houve preocupação em ser fiel demais ao texto. Usei algo mais contemporâneo para os arranjos”, responde Gandelman.

Dessa maneira, o saxofonista impressiona ao não deixar dúvidas sobre a existência do tal saxofone brasileiro em releituras inspiradas de 'Chorinha da Tula' (Netinho), 'Dancing avenida' (Luiz Americano Rego) e da maravilhosa 'Espinha de bacalhau' (Severino Araújo), esta última peça escrita em resposta a choro complicado que um colega do maestro da Orquestra Tabajara, em João Pessoa (PB), havia escrito. Outro ponto alto é tocante performance de 'Ternura' (K-Ximbinho) – para não falar do já sabido alto nível das peças de Moacir Santos.

A assinatura final do disco é feita em dois tempos com a luxuosa participação do Maestro Spok nos frevos 'Cara lisa' (Duda) e 'Bicho danado' (Zumba), que assinou os arranjos do que ele e Gandelman tocaram. “A linguagem desses saxofonistas que pesquisamos era muito diferente da dos saxofonistas norte-americanos da época. Aqui há uma linguagem própria, incluindo sonoridade e abordagem, fora as composições em si. A primeira referência dos estudantes é o jazz, mas aqui já existe uma escola de saxofone. Não faz o menor sentido quere tocar como os norte-americanos”, finaliza.

Veja vídeo: Leo Gandelman fala sobre 'Ventos do norte':


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