Estrelas não abrem mão do auxílio luxuoso de backing vocals no palco

Se Vânia Bastos e Jane Duboc abraçaram a carreira solo, o mineiro Play brilha ao lado da banda Jota Quest

por Mariana Peixoto 18/08/2013 08:20

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Play cantou com O Rappa e Vanessa da Mata. Atualmente, está em estúdio gravando com o Jota Quest (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
São Paulo, início da década de 1980. Com a banda Sabor de Veneno, Arrigo Barnabé grava o álbum independente Clara crocodilo, que mistura rock com música atonal. Incensado pela crítica, o trabalho acaba se tornando o marco inicial da chamada Vanguarda Paulista. Na mesma época, Fábio Jr., em alta na TV graça às novelas Cabocla e Pai herói e ao filme Bye bye Brasil, aproveita a boa safra para alavancar a carreira de cantor. Lança seu primeiro LP. Onde a música vanguardista se encontra com a canção romântica? Na voz de Vânia Bastos. Depois de gravar e fazer uma série de shows com Arrigo, ela é convidada para cantar com Fábio Jr.

“Fiquei dois meses como backing vocal da banda dele. Queria passar pela experiência, pois não havia tido a oportunidade de viajar. Fiquei encantada com tudo aquilo, não gastava com nada”, relembra Vânia Bastos. Depois de Fábio Jr., ela fez vocais para Rita Lee. Até chegar o convite para acompanhá-la numa turnê grande, Europa incluída. Sem pensar duas vezes, Vânia dispensou: “A grana era bem-vinda, mas, se eu fosse, poderia me acomodar. Disse adeus e fui tratar do meu primeiro show solo”.

A atividade de vocal de apoio é parte do passado de muitos cantores que hoje têm carreira estabelecida. Daniela Mercury acompanhou Gilberto Gil no início dos anos 1980; Paula Fernandes fez voz para Marcus Viana. Jane Duboc, que iniciou sua carreira na década de 1980, chegou ao mercado como artista solo depois de fazer vocal de apoio – e também solos – para Egberto Gismonti, Toquinho e Oswaldo Montenegro. Ela gravou também muitos jingles e fez vocalises (solos, como se a voz fosse instrumento para a música instrumental) para Hermeto Pascoal.

Jam Music/divulgação
"Meu foco não é ser famosa, rica ou estrela", Jane Duboc, cantora (foto: Jam Music/divulgação)
Jane Duboc gosta da atividade, mas pondera: “No Brasil, ainda há a cultura de achar que vocal é uma coisa menor”. Hoje, ela faz – e sem cobrar – para os amigos. “Sempre gostei de música. Meu foco não é ser famosa, rica ou estrela. Desde criança, adoro o lance de harmonizar com a voz dos outros. Isso não é uma coisa fácil”, afirma. Que o diga Nair Cândia. Em 1982, a ex-cantora de baile foi convidada para cantar no show Nossos momentos, de Maria Bethânia, dirigido por Bibi Ferreira e Gilberto Gil. “A grande escola foi o baile, pois nele você faz de tudo. Mas aquela experiência com Bethânia representou a grande abertura para mim. Era aquela coisa de superprodução, iluminação maravilhosa, palcos em que nunca havia pisado”, relembra ela.

Depois de Bethânia, Nair Cândia acompanhou Elba Ramalho e Beto Guedes. Em estúdio, gravou discos de Edu Lobo, Emílio Santiago, Sérgio Mendes e Renato Russo. “Às vezes, você vai para lá sem saber o que vai cantar”, diz. Na opinião dela, a atividade de vocalista atrapalhou um pouco sua carreira solo. “Por um lado, você ganha experiência; por outro, perde o foco. Hoje em dia, não penso mais em fazer trabalho solo, gosto muito de cantar com o Jaime (Alem, marido dela e ex-maestro de Bethânia) e com o sexteto. No show dele tenho solos, então fico superfeliz.”

Outra conhecida backing vocal da MPB é Lizzie Bravo, que já acompanhou Milton Nascimento, Zé Ramalho e Joyce, além de participar, aos 16 anos, do coro de Across the universe, dos Beatles. A brasileira foi chamada para a “missão” por Paul McCartney e John Lennon na porta do Estúdio Abbey Road, em Londres, onde, em 1968, passava seus dias tentando ver os ídolos de perto.

Filha de Lizzie e do compositor Zé Rodrix, Marya Bravo teve também o seu momento backing vocal. Durante dois anos, trabalhou na turnê de Marisa Monte Memórias, crônicas e declarações de amor. “Muito da minha vida mudou, depois disso comecei a compor. Até então, só fazia teatro, não tinha muito contato com o mundo da música”, afirma. Marya atua em teatro musical, lançou dois álbuns solo e está se preparando para o terceiro.

Mesmo que a experiência tenha valido a pena, Marya deixou de atuar como backing. “Só em discos de amigos, mas não como profissão”, explica. Ainda que só mais tarde tenha abraçado a música profissionalmente, ela começou a cantar quando era criança. Aos 4 anos, tornou-se a voz do jingle do mingau Cremogema, que fez história nos anos 1970.

O bordadeiro da voz
Uma das músicas mais cantadas pelo público do Jota Quest é a balada O sol. Pois na hora em que os acordes começam, Play já sabe: é a deixa para o momento solo. E ele dá vazão a seu respeitável poderio vocal, lembrado pelos fãs quando Rogério Flausino apresenta os integrantes da banda. “Quando falam o nome Play, o público bate palmas, grita. Ali, você também é artista”, afirma o cantor. Play tem 45 anos, 30 deles dedicados à música.

Backing vocal disputado, Play tem trajetória inversa no mercado musical. Começou a carreira nos anos 1980 como cantor de bandas cover especializadas em dance music (Hans e Insight). Mais tarde, com Eduardo Toledo (ex-Agência Tass), formou o duo Two for Two. Em meados dos anos 1990, depois do sucesso do Skank, as gravadoras ficaram de olho no pop produzido em BH. Vocalista do Nepal, Play acabou contratado pela EMI. Rapidamente, a banda estourou com o CD A filosofia do Nepal (1997). Mascate virou faixa-tema da novela teen Malhação, enquanto E eu explodiu nas rádios.

Mas Toledo deixou a banda, e o Nepal ficou num disco só. Na virada da década, Play começou a pensar no disco solo, até chegar o convite que mudou tudo: ele foi chamado para gravar os vocais de Discotecagem pop variada (2001), quarto álbum do Jota Quest.

“Na realidade, o primeiro disco do Jota (J. Quest, de 1996) já tinha vocais meus, do Bauxita e da Lílian Nunes”, relembra. Quando veio o CD Ao vivo na Praça do Papa (2003), Play foi novamente convidado para gravar. Daí, embarcou na turnê e não parou mais. Ficou cinco anos só com o Jota, depois foi para O Rappa, gravou com Charlie Brown Jr. e acompanhou Vanessa da Mata por dois anos.

Há um ano, Play voltou para a banda mineira, com quem está gravando o novo disco. Inclusive, é coautor de algumas faixas do Jota – Na moral entre elas.

Com a agenda cheia, Play, quando arruma tempo, faz seu próprio show, com o repertório do álbum Soul brasileiro (2008). “Ser backing não é só chegar e cantar bem. Você soma. O cantor pode ter voz maravilhosa, mas pode esquecer a letra, a garganta falhar ou se cansar. A gente é apoio 24 horas, deve estar atento a tudo. Para mim, é como bordado: a costureira faz o lindo vestido, mas ele nada tem de diferente além do tecido. Aí vem a bordadeira e dá o tchan totalmente diferente. O backing dá colorido ao show.”

Luiz Quintino/Divulgação
Vanessa Falabella começou a fazer jingles aos 9 anos (foto: Luiz Quintino/Divulgação)


Garota prodígio
Desde pequena, Vanessa Falabella grava comerciais. Recentemente, ela se apresentou em BH com o histórico grupo vocal norte-americano The Platters (foto). Esta noite, o show deles será na Tailândia. Vanessa começou a fazer jingles aos 9 anos. Ao longo da carreira, participou de corais e festivais, trabalhou ao lado de Marcus Viana, Toninho Horta e Cyro Baptista. “Vocalista tem que ouvir música de estilos diferentes, pesquisar sonoridades e inflexões. No momento, estou aprendendo uma canção em tailandês”, avisa.

MAIS SOBRE MÚSICA