Quadra Vilarinho completa 30 anos como baile funk mais famoso de BH

O espaço de Venda Nova oferece música, dança e lazer a multidões de jovens da região metropolitana

por Ailton Magioli 16/03/2013 07:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Beto Magalhães/EM/D. A PRESS
(foto: Beto Magalhães/EM/D. A PRESS)
O calor escaldante dos últimos dias não foi capaz de afastar o público do espaço que, há três décadas, é responsável pela divulgação do funk na capital mineira, além de palco de uma lenda urbana. Afinal, quem nunca ouviu falar do capeta incorporado por um dançarino louro e de olhos azuis, que teria amaldiçoado o adversário negro ao perder um concurso de dança na quadra do Vilarinho?

Reza a lenda que o tal diabo dançarino frequenta há anos a casa de Venda Nova, onde jovens se esbaldam nos bailes de fim de semana.
Aos sábados, eles chegam de diversos pontos da Região Metropolitana de BH. Têm de 16 a 22 anos. Nas matinês de domingo, a garotada de 14 pode entrar. Essa multidão é movida por uma trilha sonora eclética sob o comando do DJ Henrique Quebra Tudo.

“Aqui na quadra fazemos o único baile regulamentado de BH que toca funk e rap, o som da periferia”, orgulha-se o DJ, residente da casa há cinco anos. Quebra Tudo se reveza com Mayron Tamborzão na cabine e no palco do Vilarinho.

Enquanto no Rio de Janeiro o funk é marcado pela sedução, com letras de forte apelo sexual, em São Paulo ganham espaço versos que remetem à ostentação de grifes de luxo. Em Belo Horizonte, porém, a cena é dominada pelo funk de raiz (ou consciente), adepto de letras mais politizadas, de protesto.

Graças aos MCs Caçula (com 'Outra chance'), Romeu ('Judas'), Yuri BH ('Bonde da Shieneray') e Dodô ('Jogado numa cela'), a capital mineira tem seus próprios hits. Associadas ao repertório de MCs cariocas, como Federado ('Lek lek'), Magrinho ('Pumba la pumba') e Luan ('Passaram açúcar em mim'), as batidas locais têm incendiado a pista.

Propriedade do comerciante Francisco Filizzola, de 67 anos, o complexo de quatro quadras de esporte localizado na Avenida Vilarinho conta com área construída de 3,4 mil metros quadrados, nove banheiros masculinos, oito femininos e um bar.

Confusão no local? “Lógico que existe”, admite o proprietário. Qualquer “alteração”, no entanto, é imediatamente resolvida por 25 seguranças assessorados por 32 câmeras de monitoramento da área, informa Filizzola. Se drogas forem encontradas com alguém, aciona-se imediatamente a Polícia Militar, garante ele. A equipe do Vilarinho reúne 65 funcionários, entre seguranças, brigadistas, enfermeiros, caixas e pessoal de limpeza.

CONTAGEM


“Venho ao Vilarinho há seis anos. Tem segurança, não se vê nem droga nem violência. Enfim, aqui a gente conhece o funk e é respeitada”, garante a operadora de marketing Sheila Sena, de 36, que mora em Contagem.

“Frequento o Vilarinho desde os 16 anos. Gosto da quadra principalmente para dançar o miami, que aprendi olhando os outros”, conta o gráfico Robson de Freitas Santos, de 22, morador do Bairro Planalto. Ele se refere ao gênero de funk inspirado na batida que se tornou famosa na cidade norte-americana.

Coordenador do Observatório da Juventude, mantido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o professor Juarez Tarcísio Dayrell é autor de 'A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude'. O livro é fruto da tese cujas pesquisas foram feitas na famosa casa de Venda Nova.


“A tradição do funk no Vilarinho é muito grande”, confirma Dayrell, salientando que a sobrevivência do espaço, um dos mais antigos da Grande BH, está diretamente associada a outras fontes de renda, com destaque para o aluguel das quadras de esporte.
O professor define a quadra do Vilarinho como um espaço paradigmático, que há 30 anos vem se abrindo a expressões culturais marginalizadas.

RODÍZIO

“Quadra do Vilarinho: o melhor som, a melhor iluminação. Vamos dançar!”, anunciava, no último domingo, Peterson Gonçalves da Silva, de 29, responsável pela produção de festas no local. Além de reservar o primeiro sábado do mês para a comemoração de aniversários, o produtor promove shows no segundo sábado, destina o terceiro também para shows e o quarto para os famosos bailes funk de Venda Nova.

 De olho na questão sociocultural, a casa firmou parceria com a Polícia Militar para a realização do projeto Funk, polícia e arte da paz, cuja segunda edição ocorrerá em julho. “Nosso objetivo é unificar a comunidade e a PM”, garante Peterson.

O CAPETA E A CRISE

Beto Magalhães/EM/D. A PRESS
Ricardo Malta, o Pato: professor universitário e dançarino militante (foto: Beto Magalhães/EM/D. A PRESS)
Inaugurado em outubro de 1982 como um conjunto de quadras de futebol de salão, o Vilarinho começou a receber bailes populares em janeiro de 1983, quando o proprietário passou a ser procurado por donos de equipes de som interessados em atrair os jovens. “Dei 90 dias de experiência para eles e estamos aqui até hoje”, comemora Francisco Filizzola, atribuindo o sucesso da iniciativa ao respeito às classes sociais menos favorecidas.

O dono do espaço não esconde que o famoso Capeta do Vilarinho foi uma forma de fixar a imagem da casa. “Hoje, somos conhecidos pelo futebol, pelo baile funk e pelo capeta”, diz, orgulhoso. A “mídia espontânea”, admite ele, surgiu em plena “crise temporária de liquidez”. “Bolamos ideias e, de repente, veio o capeta”, confessa Francisco.

Nessa estratégia “diabólica”, ele contou com a colaboração do ronda Barão. “Mandei ligar para a polícia e para uma emissora de rádio, que jogou a notícia imediatamente no ar”, entrega. Outro personagem da “trama” é Ricardo Malta, o Pato, atualmente professor do curso de administração da PUC Minas, que frequenta o espaço desde 1982.

Malta já foi auxiliar de discotecário, DJ e relações-públicas do Vilarinho. Há uma década ficou cego, vítima de glaucoma. Bem-humorado, ele não perde a oportunidade de atribuir sua doença ao famoso diabo. “Reza a lenda: o dançarino louro veio competir e, infelizmente, perdeu para o Pato”, diverte-se o professor universitário.

BAILES NA QUADRA DO VILARINHO
Hoje, às 21h. Amanhã, tem festa às 2h30 e matinê das 17h às 22h. Endereço: Avenida Vilarinho, 1.461, Venda Nova
Ingressos: R$ 5 a R$ 10
Informações: (31) 3451-5009

MAIS SOBRE MÚSICA