Aos 81 anos, o ex-contínuo Ivo Holanda se orgulha de ser "o rei das pegadinhas"

Chaves brasileiro desiste da política e diz que continuará fazendo seu trabalho "até quando Deus quiser"

por Ana Clara Brant 14/08/2016 07:00
Roberto Nemanis/SBT/Divulgação
(foto: Roberto Nemanis/SBT/Divulgação)
“O Brasil tem três reis: o do futebol, que é o Pelé; o da música, que é o Roberto Carlos e o das pegadinhas, que sou eu”, avisa, sem falsa modéstia, o ator e comediante Ivo Holanda, de 81 anos. Realmente, não há como dissociar esse paulista de Herculândia, no Oeste do estado, dos quadros de humor que fazem sucesso no SBT/Alterosa há nada menos que 35 anos, sobretudo no Programa Silvio Santos. Tanto é que o canal está reproduzindo algumas das pegadinhas mais famosas dos anos 1980 e 1990, como a do bilhete premiado e a da caveira andando de bicicleta pelas ruas de São Paulo.

Em uma conversa que durou quase duas horas, Ivo contou ao Estado de Minas sua trajetória, desde a infância no interior até os dias de hoje, quando conseguiu a proeza de ter um contrato vitalício com a emissora de Silvio Santos. “Minha relação com o Silvio se resume ao Natal e ao aniversário dele. Encontro-o muito irregularmente, mas tenho uma grande admiração e devo muito a ele. Por isso, fico 24 horas à disposição do SBT. Quando precisam de mim, vou sem titubear e só fico sabendo o que vou fazer quando chego lá”, diz Ivo, casado há 45 anos com dona Nazarena, pai de três filhos (incluindo a ex-assistente de palco e atriz Fernanda Spadotti) e avô de seis netos.

Desde menino, ele cultivava fascínio pelo mundo do espetáculo e era comum ouvir dos vizinhos e parentes que a família deveria se mudar para a capital, para ele “virar artista”. Foi o que acabou ocorrendo. Ivo Holanda começou a carreira participando de programas de calouros em rádios de São Paulo, imitando um ídolo, o cantor Vicente Celestino (1894-1968).

“Minha família era muito simples e humilde e a gente chegou a passar dificuldades. Fui engraxate, tapeceiro, marceneiro, pesquisador do Ibope, época em que rodei muito o Brasil. Mas nunca deixei de sonhar e acreditar que um dia eu ia virar um artista de verdade”, afirma.

Dos ofícios que exerceu ao longo da vida, guarda gratas recordações dos tempos de contínuo em bancos, atividade que exerceu durante três décadas. Cruzeiro do Sul, Banco da Bahia, Bradesco foram algumas das instituições para as quais trabalhou. Chegou a atuar em sindicatos, o que o levou a conhecer o ex-presidente Lula e o ex-ministro Luiz Gushiken (1950-2013). “Minha trajetória bancária foi muito bacana. Lembro com saudades e tenho muito orgulho. Sempre fui muito esforçado e a gente, naquela época, andava todo arrumado. Era muito bom.”

QUEBRA- GALHO Como trabalhava apenas meio horário, aproveitava o tempo livre para fazer teatro amador e dar uma escapulida até a antiga TVS, primeiro nome do SBT. Por lá, costumava quebrar galhos como manobrista. “Lembro muito bem do dia em que dirigi o carro da Hebe Camargo. Quando larguei o trabalho no banco, foi para a TV que acabei indo definitivamente”, conta. Foi uma questão de tempo para Ivo Holanda sair dos bastidores e dar as caras na telinha.

O começo foi no Viva a noite com Gugu Liberato, em que participava como animador de palco. A primeira das pegadinhas foi em 1981, no extinto humorístico Alegria 81. Na atração, Ivo tinha que cantar ópera no ouvido dos clientes de uma barbearia. Foi nessa época que acabou chamando a atenção de Silvio Santos. “O Silvio sabe reconhecer quando alguém tem talento e vai dar certo e investiu em mim. Sou o Chaves do Brasil! Quando uma coisa é boa, pode passar mil vezes que vai fazer sucesso eternamente. Por isso estou aí há tanto tempo e vou continuar. Quanto mais passa, mais as pessoas gostam. Precisa ver o sucesso que faço com a criançada”, declara o comediante, que tem um trio, os Malas da Alegria, com o qual se apresenta.

Ivo Holanda só se afastou da televisão quando decidiu enveredar pela política, em 2004, e se candidatou a vereador pela cidade de Pompeia, onde foi criado. A experiência não foi muito proveitosa. “Cheguei a dar mais de 5 mil autógrafos, porque naquela época não tinha essa coisa de selfie ainda. Mas sabe quantos voto eu tive? Nem 100. Meus adversários espalharam que eu estava rico, era famoso e não precisada daquilo. E aí deu no que deu. Política é uma coisa muito complicada mesmo. Nem preciso comentar o que está ocorrendo nos dias de hoje”, desabafa.

Mas as decepções não tiram o humor de Ivo. Ele sempre foi considerado o palhação entre os amigos, a família e os colegas, mesmo quando nem sonhava em ficar conhecido. Nos tempos de banco, era ele quem animava os eventos, com brincadeiras, piadas e cantoria. Garante que nunca chegou a pregar peças em ninguém. “Sabe que hoje, quando estou no meu dia a dia e vou ao supermercado, à padaria, tem gente que acha que estou ali fazendo pegadinha (risos). É engraçado. Mas é somente o meu trabalho. Apesar de já ter apanhado, ter sido xingado e até ter caído em uma das câmeras escondidas, é o que sei e adoro fazer. E vou fazer até quando Deus quiser que eu faça.”



Bilhete premiado

Exibida na semana passada, a pegadinha do bilhete premiado chegou a ser um dos assuntos mais comentados do Twitter. Ivo vai até a casa lotérica conferir seu bilhete. A atendente checa a aposta e revela que ele ganhou R$ 50 mil, mas, para receber, deve ir a um outro caixa, no centro. O ganhador fala que é muito longe, que precisa pegar ônibus, metrô e, bravo, diz que não tem tempo para isso e acaba jogando o bilhete no lixo. De repente, outro ator começa a gritar que um homem jogou o bilhete premiado no lixo. Os demais clientes da lotérica tentam recuperar o bilhete, gerando uma enorme confusão.

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