Após de 18 anos de parceria na vida e nos palcos, Joelma e Chimbinha desembarcam no Recife, cidade berço do sucesso nacional da banda Calypso, para colocar um ponto final na relação a dois. O "quartel-general" de outrora do grupo de tecnobrega - ritmo com o qual eles atraíram o olhar do país para a música do Pará e abriram caminho a outros nomes como Companhia do Calypso e Gaby Amarantos - se tornou palco para assinatura de um divórcio, às 9h30 desta segunda-feira, no Fórum Rodolfo Aureliano, na Ilha de Joana Bezerra. A ruptura conjugal regada, há quatro meses, a acusações de traição e lavagem de roupa suja via mídia, shows e fãs extrapola o campo do privado quando põe em evidência o reino milionário e fonográfico erguido pelo grupo da cantora e do guitarrista. O desmanche dá início a uma disputa até mesmo pelos direitos do uso da marca “Calypso” em meio à perplexidade de milhões de admiradores espalhados pelo Brasil e ao ensaio de novos passos na carreira de ambos.
Há pendências financeiras e profissionais em jogo, e a separação dos bens será resolvida na Justiça. Existem duas empresas registradas pela Calypso. Uma se chama JC Show, detentora do nome da banda. No contrato, 60% é da sócia majoritária Joelma e 40% de Chimbinha - e ela teria poder sobre o nome da banda. Já a JC Locações, responsável pelos contratos de shows e funcionários, tem ações divididas - 50% para cada um. O processo inclui ainda imóveis no Recife e no Pará, o escritório e o ônibus da banda. Joelma tem três filhos, Natália, 25, Yago, 17, e Yasmin, 11. Chimbinha é pai biológico da mais nova.
E o Recife tem um papel central na vida da Calypso. A relação dos músicos com a capital pernambucana se deu no início da carreira. A cidade foi escolhida como centro de operações por ser um ponto estratégico no fluxo de viagens di grupo pelo Nordeste. Eles foram bem acolhidos pelos fãs - e a projeção da música executada inspirou bandas como a Musa (ex-Musa do Calypso), com quem Joelma gravou uma música, no mês passado, e outras de brega melody - e conseguiram fazer pontes para o país a partir da capital. Fixaram o escritório da banda em um imóvel na Ilha do Retiro - onde trabalham atualmente cerca de 60 funcionários -, com uma residência simples e um estúdio. A relação com a cidade guarda um episódio trágico: em 2008, o avião da banda caiu em San Martin e matou duas pessoas. Em 2009, Joelma e Chimbinha receberam cidadania pernambucana pela contribuição artística e a presença constante nas programações de festividades do estado, como carnaval e São João.
A banda também foi agenciada por mais de dez anos pela Luan Promoções, até 2012. A produtora hoje está no comando da carreira de Wesley Safadão, Musa e Geraldinho Lins. "A gente lamenta o fim. Eles são grandes artistas, cada um na sua área. E, se continuassem juntos, seria melhor para todos", comenta o empresário Rogério Paes. No auge do sucesso, nos anos 2000, a Calypso arrecadava cerca de R$ 500 mil por apresentação. Hoje, o cachê não ultrapassa R$ 100 mil, a depender do contratante. A despedida dos dois fundadores e principais estrelas da banda será oficialmente no revéillon no Amapá. É o último ato profissional de uma trajetória com mais de 22 milhões de discos vendidos. A partir de hoje, como ex-marido e mulher.
Os personagens
Joelma
Aos 41 anos, ela trilha um recomeço. Com o nome artístico Joelma Calypso, gravou o primeiro clipe da carreira solo no Recife - do single em espanhol Pa'lante, com lançamento em janeiro. Nos próximos dias, registra imagens para a canção Te quiero, no mesmo idioma. A paraense já escolhe composições para um disco solo, que deve sair em 2016. Em outubro, fez dueto Amor de fã, com a Musa, o primeiro registro oficial como Joelma Calypso, na gravação do DVD do grupo recifense de brega, em Olinda, onde cantou com Priscila Senna. Caracterizada por criar um estilo de dançar próprio e figurinos extravagantes, Joelma afirma que vai seguir na mesma linha da banda.
Chimbinha
Reconhecido como guitarrista e produtor, Chimbinha, 41, está no Recife preparando material inédito para o primeiro disco do novo projeto. Ele apresentou a cantora Thábata Mendes como nova parceira de palco. Neste mês, será lançado um single indicando o rumo musical adotado pela banda. “Vamos manter em sigilo por enquanto. O nome depende do processo de divórcio. Enquanto não finalizar, não poderemos usar esse nome (Calypso)”, explica o produtor pessoal de Chimbinha Diogo Leite. No estúdio, os músicos receberam o reforço de um time de compositores responsáveis por sucessos da Calypso como Beto Caju, Marquinhos Maraial, Isac Marial, Edu Luppa e Diego Rodrigues.
Os substitutos
Thábata Mendes
A vocalista de 28 anos, nascida no Rio Grande do Norte e formada musicalmente no axé e no sertanejo, é a nova parceira de Chimbinha. A loira tem sido apontada como “substituta de Joelma na Calypso”, embora a atual vocalista tenha manifestado interesse em proibir o uso do nome. A novata evita comparações. “Eu sou uma artista bem diferente. Isso não quer dizer se sou melhor ou pior que ela (Joelma). Quero mostrar meu trabalho”, disse.
Ian Marinho
12 shows por mês (média)
60 funcionários na empresa Calypso
21 CDs lançados
8 DVDs
500 fã-clubes no Brasil