Débora Falabella fala da experiência de viver uma borderline na TV

Além de atuar em 'Dupla Identidade', série de Glória Perez, atriz mineira dirige peça infantil em SP, escrita pelo pai, e está em cartaz com drama 'Contrações'

por Ana Clara Brant 23/11/2014 10:52

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Estevam Avellar/Divulgação
Débora Falabella, depois do sucesso nacional de 'Avenida Brasil', prepara novo espetáculo com seu Grupo 3 de Teatro (foto: Estevam Avellar/Divulgação)

Quando Débora Falabella recebeu a sinopse de 'Dupla identidade', série de Glória Perez que vai ao ar às sextas-feiras na TV Globo, tinha uma visão, digamos, “pouco aprofundada” sobre sua personagem, a produtora de moda Ray. Mas, à medida em que foi gravando e, sobretudo, assistido aos episódios, sua perspectiva mudou. “Tenho ficado cada dia mais impressionada com a série. Quando você lê o texto pela primeira vez, não tem muita noção da história e dos personagens. Mas, depois que a trama vai se desenrolando, a gente vê como as coisas são bem desenvolvidas e planejadas”, avalia.

A atriz mineira, de 35 anos, conta que Ray começou como uma figura meio à parte e que o foco ficou todo no namorado, o psicopata e serial-killer Edu, interpretado por Bruno Gagliasso, e nos policiais vividos por Marcelo Novaes e Luana Piovani. Ao longo da trama, a produtora de moda vai se tornando uma figura importante no enredo. “Aí se percebe como foi uma personagem bem escrita e desenhada”, pontua. Débora acrescenta que Ray é um dos papéis mais ingênuos e frágeis que ela já fez e algo completamente diferente de tudo que já interpretou ao longo da carreira.

“Ela experimenta muitas sensações e cada hora está de um jeito. Isso para um ator é ótimo e um grande desafio. Tinha horas que pegava as cenas e ficava me debruçando, imaginando como seria. Quando ela fica ameaçada e sozinha, surge um ódio dentro dela. Ela tem uma vontade de viver esse amor, custe o que custar.” Débora destaca como a personagem, ao viver extremos de sua emoção, se torna ainda mais interessante para o espectador. “Quando está alegre, fica muito alegre. Quando está apaixonada, também. E tinha cenas sofridas que eram bem fortes. Ray vai de um lugar para o outro com facilidade. É tudo muito intenso”, observa

Esse tipo de comportamento da personagem é explicado porque Ray sofre do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). A autora Glória Perez se inspirou numa história da vida real, da jovem Nathalia Musa Monteiro, para criar o papel de Débora. Medo do abandono, raiva incontrolável, automutilação, impulsividade, ausência de autoidentidade, mudanças repentinas de humor, paranoia, histórico de relacionamentos instáveis e sentimento de vazio. Todas essas características podem ser consideradas bem humanas, mas, quando juntas e intensas, podem caracterizar um transtorno. Alguém que sofre de uma desregulação emocional grave, com sentimentos vividos de forma intensa.

A artista revela que nunca tinha ouvido falar de borderline antes de Dupla identidade e que pesquisou bastante sobre o tema, participando de palestras com especialistas e, inclusive, chegando a ter contato por e-mail com Nathalia, que tem um blog (borderline-girl.blogspot.com.br), no qual relata suas experiências. “Li várias histórias semelhantes às da minha personagem, mas não quis ficar totalmente ligada e preocupada com isso. A gente sabe que ela vive no limite da emoção, que é insegura, mas não segui à risca. O próprio texto da Glória tinha tudo ali. Ele foi o meu principal guia”, diz.

Surpresa Débora Falabella deve terminar ainda esta semana de gravar suas últimas cenas da produção, que está prevista para terminar em 19 de dezembro. A segunda temporada já está garantida, mas a atriz não sabe se Ray fará parte da nova série, assim como os demais personagens. Mas ela é só elogios para o resultado do trabalho. “Depois de dois anos afastada da TV e com um sucesso como foi Avenida Brasil, voltar com um produto dessa qualidade me enche de orgulho. Acho a série muito benfeita, é aquela coisa de entretenimento mesmo, e estou muito feliz e satisfeita com o resultado”, celebra.

Com relação ao desfecho da primeira temporada, a atriz belo-horizontina não pode adiantar nada, mas espera que ela surpreenda. “A gente fica querendo defender o personagem, mas não pode esquecer que essa trama é bem diferente de uma novela, que tem início, meio e fim. Não é que eu não espere um final feliz, mas o grande barato é que ela tenha um desfecho surpreendente, para dar vontade de assistir à segunda temporada”, defende.

João Caldas / Divulgação
'O rei e a coroa enfeitiçada': um espetáculo que surgiu na sala dos Falabellas em BH (foto: João Caldas / Divulgação)

A GRANDE FAMÍLIA


Se na televisão Débora Falabella está numa trama densa e pesada, no teatro a realidade é totalmente oposta. Ela não está em cena, mas, pela primeira vez, nos bastidores e ao lado da irmã Cynthia, à frente da direção de uma peça infantil. O espetáculo O rei e a coroa enfeitiçada, que estreou em setembro em São Paulo e ainda está em cartaz até o fim do mês na capital paulista, conta a história de Nicolau, rei da Felizlândia, que vive com simplicidade e pensa no bem-estar do seu povo.

Sua filha Irene, sucessora do trono, vai se casar com Augusto Valente, jovem inteligente e trabalhador. Tudo estaria tranquilo se não fosse pelo duque de Urticária, irmão do rei, que deseja tomar o trono e presenteia a majestade com uma coroa enfeitiçada. O texto foi escrito há quase 10 anos pelo patriarca dos Falabellas, o ator e diretor Rogério, quando nasceu sua primeira neta, Irene, filha de sua primogênita, Júnia.

“Só fui dirigir o espetáculo porque tinha uma história bem significativa por trás e aí fiquei muito encorajada. Uma vez, fizemos uma leitura com amigas e ficou bem legal, mas essa coisa de dirigir só foi surgir anos depois. E tudo conspirou. Já tinha uma filha, a Cynthia também, e coincidiu com um período em que não estava gravando muito”, conta Débora.

A atriz e agora diretora brinca que a história é um conto de fadas familiar que poderia se passar dentro da sala de sua casa. Além dela, da irmã Cynthia e do pai, seu ex-marido e pai de sua filha, Nina, o músico Chuck Hipolitho, é o responsável pela trilha sonora. Trabalhar em família não é novidade para Débora, que atuou com Cynthia na peça A serpente, de Nelson Rodrigues, em 2010. “Já meu pai só me dirigiu em um comercial, quando eu era criança, e de vez em quando a gente passa texto juntos. Essa experiência está sendo muito bacana e surgiu de uma maneira muito despretensiosa, sem planejar”, frisa.

No elenco da produção – que está indicada ao prêmio Arte Qualidade Brasil –, estão os atores Gustavo Haddad e Erica Montanheiro e uma turma de mineiros talentosos que inclui Fafá Rennó, Ivan Capua, Henrique Carsalade e Alexandre Vasconcelos.

“A gente quer rodar o país, mas ainda estamos buscando patrocínio. Se tudo der certo, vamos apresentar o espetáculo em BH”, planeja a atriz, que está em cartaz com Contrações, ao lado de Yara de Novaes. “Vamos voltar com ele no fim de fevereiro, mas a nossa companhia, Grupo 3 de Teatro, já está pensando no próximo espetáculo para 2015.”

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