Filho de dona de casa com caixeiro viajante, José Wilker nasceu no interior do Ceará, cresceu no Recife e mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. A partir de então, tornou-se conhecido em todo o Brasil por sua trajetória nos palcos e telas, à frente ou atrás das câmeras. Morto aos 66 anos por um infarto neste sábado, 5, o artista nordestino deixa legado que impressiona tanto pela extensão quanto pelos números.
Relembre a carreira de José Wilker em fotos
Em meio século de carreira, Wilker atuou em cerca de 50 produções na TV, assinou a direção de quatro novelas — 'Louco amor' (1983) e 'Transas e caretas' (1984) na Rede Globo, Carmem (1987) e Corpo Santo (1987) na TV Manchete — e comandou o seriado 'Sai de baixo' de 1996 a 2002. No cinema, dirigiu 'Cinderela' e 'Giovanni Improtta' (2012), além de emprestar seus talentos de ator a quase 70 títulos. Aficcionado pela sétima arte, o artista dizia manter acervo pessoal com mais de quatro mil obras.
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A mudança para o Rio de Janeiro, em 1967, tinha motivação ideológica: aos 19 anos, José pretendia estudar sociologia. Recém-chegado à capital fluminense, foi envolvido pela efervescente cena cultural e deixou de frequentar o curso, concentrando-se novamente na vocação para a atuação. Equilibrava a conquista de papéis cada vez mais expressivos no teatro com oportunidades de crescimento no cinema.
A primeira ponta em um longa-metragem aconteceu em 'A falecida' (1965), estrelado por Fernanda Montenegro; quatro anos mais tarde, já acumulava cinco longas no currículo. Em 1970, aos 23 anos, recebeu o prêmio Moliére de Melhor Ator com a peça 'O arquiteto e o imperador da Assírai', de Fernando Arrabal.
A revelação do jovem ator chamou a atenção de Dias Gomes, que lhe abriu as portas para a TV com o personagem Zelito, de 'Bandeira 2' (1971). Passou a emplacar personagens seguidos nas telinhas, em trajetória marcada por figuras carismáticas como Mundinho Falcão, de 'Gabriela' (1975) e o protagonista Rodrigo, de 'Anjo mau' (1976).
Retomando a parceria com o padrinho Dias gomes, protagonizou a primeira versão de 'Roque Santeiro', novela que teve estreia impedida pela censura durante a ditadura militar, em 1975. Dez anos mais tarde, estrelou a segunda montagem da trama na pele do personagem-título, ao lado de Regina Duarte (Viúva Porcina) e Lima Duarte (Sinhozinho Malta) — um marco na história da teledramaturgia nacional.
Ator constante e já consagrado nas novelas, José Wilker jamais deixava de investir em personagens ousados no cinema. Alcançou reconhecimento internacional por sua leitura de Vadinho, o vértice boêmio do triângulo de 'Dona Flor e seus dois maridos' (1976), de Bruno Barreto. Também integrou o elenco de produções icônicas como 'Xica da Silva' (1976) e 'Bye, bye, Brasil' (1979), além de dedicar-se a projetos menores nas telonas, por pura paixão ao meio. Dirigiu e atuou na jornada do personagem Giovanni Improtta, que transportou-se da novela 'Senhora do destino' (2004) a um longa-metragem próprio em 2013.
A maturidade lhe trouxe ainda mais reconhecimento na TV, onde dedicou-se recentemente a papeis biográficos como Juscelino Kubitschek em 'JK' (2006) e Luis Gálvez, de 'Amazônia' (2007). Reviveu o inesquecível Zeca Diabo na segunda versão de 'O bem amado' (2011), uma releitura da obra do amigo Dias Gomes. Também revisitou uma trama do passado ao assumir o coronel Jesuíno Mendonça no remake de 'Gabriela' (2012), antes de interpretar o médico Herbert Marques em 'Amor à vida', seu último papel nas telinhas".
Uma das últimas missões de Wilker nos cinemas se passou no sertão mineiro, através da obra de Guimarães Rosa. O ator surgirá nas telonas como o cangaceiro Joãozinho Bem Bem na adaptação de 'A hora e a vez de Augusto Matraga', conto do autor de 'Sagarana' transformado em longa sob direção de Vinícius Coimbra. Lançado há dois anos, o filme deve ganhar distribuição comercial ainda em 2014.