Uh la lá! Toque très chic invade a gastronomia mineira

Artista plástica abre as portas de casa para oferecer aos convidados uma comida mineira "afrancesada", que mistura a rusticidade do nosso estado com o requinte importado da França

por Celina Aquino 16/04/2017 07:00

Alexandre Guzanshe/EM
Lombinho ao molho de jabuticaba com purês de banana da terra e batata-doce roxa (foto: Alexandre Guzanshe/EM)
O orgulho de ser mineira está em todo lugar. Na cozinha, então, cada receita carrega uma história, um sotaque, um sabor de Minas Gerais. Kláucia Badaró faz questão de valorizar as suas origens nos pratos que prepara. É a maneira que ela encontrou de preservar, e também divulgar, a gastronomia do nosso estado. Como uma boa mineira, a artista plástica tem o maior prazer de cozinhar em casa e ainda planeja com criatividade cada detalhe da mesa para receber os convidados. “O mineiro é assim, recebe com gosto e faz tudo com fartura, não economiza”, resume.


Kláucia não é de ir para a cozinha no dia a dia. Ela tem o hábito de se dedicar às panelas nos fins de semana, quando tem calma e tranquilidade para preparar receitas mais elaboradas. “Acho chato fazer comida todo dia. Cozinhar é para descontrair, para relaxar e para receber os amigos”, justifica. Como gosta de mesa farta, a artista plástica não mede esforços na hora de elaborar os cardápios, que mais parecem de restaurante, com entrada, prato principal e sobremesa. Para se ter uma ideia, ela já chegou a fazer menu degustação com cinco pratos em casa.

Alexandre Guzanshe/EM
Doce de leite quente, sorvete de queijo e queijo canastra ralado. (foto: Alexandre Guzanshe/EM)

Destemida, Kláucia sabe cozinhar as mais diferentes receitas, mas não esconde a sua preferência pela comida mineira “afrancesada”. Com os europeus, a artista plástica aprendeu a deixar os pratos típicos de sua terra mais sofisticados. “O refinamento está na delicadeza dos temperos, na maneira de cortar carnes e legumes, tanto que todos esses cortes têm nome francês, e na forma de apresentar os pratos. Os franceses são mestres nisso”, explica. Por isso, ela não tem dúvida de que cozinhar é uma arte. Não é para qualquer um fazer comida que seja atraentes aos olhos e tenha sabor agradável.

PRECISÃO

Alexandre Guzanshe/EM
(foto: Alexandre Guzanshe/EM)
 

Apesar de ser cozinheira amadora, a artista plástica leva a sério as panelas. Faz muitos testes na cozinha, sem medo de utilizar um novo ingrediente ou buscar um novo sabor, para chegar ao melhor resultado. Quando vai a um restaurante, Kláucia volta para casa cheia de ideias e logo tenta reproduzir a receita com o seu toque. O fogão industrial a ajuda bastante em suas experiências. “Depois que cozinhei em fogão industrial, nos cursos de culinária, não consegui mais usar fogão convencional. A diferença está na rapidez, na precisão e no poder das chamas. A comida fica pronta mais rapidamente e o ponto da carne fica perfeito”, explica.

 


Fora o empenho de Kláucia na cozinha, impressiona o capricho dela para receber os convidados. Não existe refeição simples na casa da artista plástica. Pode ser um café da tarde, que mais parecerá um banquete. Não apenas pela fartura, mas pelo cuidado de pensar em uma decoração para a mesa, normalmente temática, que tem a ver com o tipo de comida que será servida. “Amo dar presentes para as pessoas, e isso para mim é um presente: ser recebido com carinho, com atenção, com mimos. Mineiro não tem nada de clean, então as minhas mesas são cheias de coisinhas”, diz.

 

 

Lombinho ao molho de jabuticaba com purê de banana – da – terra e de batata-doce roxa



Ingredientes

300g de lombinho; limão; alho espremido; sal; mel, azeite; 2 colheres cheias de geleia de jabuticaba; 
1 banana-da-terra bem madura; 1 batata-doce roxa; 2 xícaras de creme de leite fresco; 2 colheres de manteiga

Modo de fazer


Tempere o lombinho com limão, alho espremido, sal e mel. Deixe descansar por, no mínimo, por 1 hora. Leve à panela quente com um fio de azeite e sele bem. Vá pingando água e virando (umas três vezes) até chegar ao ponto de cozido por dentro. Retire o lombinho e coloque na panela uma garrafa de vinho. Limpe com uma colher de silicone toda aquela borra (deliciosa) que fica na panela durante a preparação da carne e deixe reduzir. Coloque sal e pimenta do reino e 2 colheres cheias de geleia de jabuticaba. Deixe reduzir até o molho ficar mais espesso. Para o purê de banana da terra, tire as pontas, divida ao meio e cozinhe a fruta com casca. Em seguida, descasque a banana e retire com uma faca a linha com as sementes. Coloque 1 xícara de creme de leite e a banana por cima no liquidificador e bata até formar um purê liso e homogêneo. Leve à panela com uma colher de manteiga e uma pitada de sal. Faça o mesmo com a batata-doce roxa. Na hora de servir, corte o lombinho em fatias, disponha-o em formato de leque no prato e coloque por cima o molho de jabuticaba. Os dois purês ficam lado a lado.

 

 

Atenta ao visual

Alexandre Guzanshe/EM
Calada verde com parma, sorvete de manjericao e pesto (foto: Alexandre Guzanshe/EM)

É clichê, mas Kláucia Badaró concorda que se come com os olhos. Por isso, ela aproveita o seu lado artístico para surpreender os convidados na montagem das mesas e na apresentação dos pratos. Para combinar com a sua comida preferida, a mineira, nada melhor que incluir elementos que remetem à cultura de Minas Gerais. Toalha xadrez, jogo americano de chitão e porta-guardanapos de ninho se misturam a enfeites incomuns como vasos de ervas, pimentas de cores variadas e abóboras. Para dar o toque “afrancesado”, ela faz a composição com talheres de prata.

 

Kláucia também segue o senso estético de artista plástica para montar os pratos. A entrada do almoço mineiro é uma salada bem simples, mas que não tem nada de comum. Para começar, ela desenha no prato folhas com aceto balsâmico e molho pesto. As folhas de alface se transformam em um buquê, que é amarrado com fatias de presunto parma e servido com uma bola de sorvete de manjericão.


O prato principal também parece uma obra de arte. Pensando no visual, a artista plástica escolhe ingredientes com cores complementares para acompanhar o lombinho com molho de jabuticaba. O amarelo da banana-da-terra e o roxo da batata-doce roxa, que são servidos em forma de purê, deixam o prato bem chamativo. O verde das folhas de manjericão fazem com que a receita fique ainda mais colorida e atraente. De sobremesa, sopa de doce de leite, que chega quente à mesa, com sorvete de queijo e lascas de queijo da Serra da Canastra por cima.


A artista plástica conta que a habilidade na cozinha vem de família. Da avó materna ficou marcado o pastel de carne. Já a especialidade da avó paterna era a bala delícia. Kláucia também destaca no seu caderno de receitas a moqueca capixaba da mãe, que já morou no Espírito Santo. Tudo ela aprendeu de tanto observar, já que ninguém entregava o segredo de mão beijada. “Sou a única neta que tem a receita do pastel da vovó. Tinha paciência para acompanhar o preparo e ia anotando todas as quantidades”, relembra. Com o tempo, ela aprimorou as técnicas em cursos de culinária.

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