Conheça Jane Loures, cozinheira que ganhou o YouTube com receita de bolo na garrafa de Coca-Cola

Com receitas simples para "o brasileiro que tá no aperto", a cozinheira desbancou famosos do YouTube e atraiu 1 milhão de visualizações para quitute inusitado

por Eduardo Tristão Girão 18/12/2015 10:15

Reprodução / Youtube
(foto: Reprodução / Youtube)
“Agora não posso falar, pois estou com uma receita no forno”, diz, pelo telefone, a simpática Jane Loures, cozinheira de Juiz de Fora cuja receita de bolo na garrafa de Coca-Cola virou fenômeno na internet. Publicada em outubro no Dicas Caseiras, canal que mantém no YouTube com a ajuda do filho, ela recentemente ultrapassou 1 milhão de visualizações – exatamente 1.030.064, nessa quinta-feira de manhã. Para se ter ideia, o vídeo mais acessado do Panelinha (“Como fazer a omelete perfeita”), de cinco anos atrás, tem pouco mais de 800 mil visualizações.

É uma marca considerável, seguida de dois vídeos beirando 1 milhão de exibições (mosaico de gelatina e bolo de chocolate) e mais seis acima de 500 mil (ovo de Páscoa, pizza, bolinha de queijo, empadão de frango, macarronada, cocada) – “bolo no pote para vendas” e “bolinho de chuva” estão quase lá, com cerca de 490 mil. Iniciado em maio de 2012, o canal de receitas de Jane já conta com quase 290 mil inscritos e, levando-se em conta os cerca de 500 vídeos postados, mais de 36 milhões de visualizações.

“Não sei nada de gastronomia”, resume ela, que não revela a idade, mas diz ter “53 anos de cozinha” e gozar de gratuidade no transporte público. Além de adorar cozinhar, Jane gosta de ensinar o que sabe e, por isso, sempre quis escrever um livro de receitas. Os custos de produção derrubaram o seu ânimo, mas não o de seu filho Bruno Mendes, que sugeriu a ela compartilhar esse conhecimento no YouTube. Sem imaginar a proporção que a iniciativa teria, os dois começaram as filmagens com um telefone celular na cozinha dela.

Reprodução / Youtube
(foto: Reprodução / Youtube)
A popularidade do canal aumentou pouco a pouco, até que a tal receita de bolo na garrafa PET a projetasse com ainda mais força entre os canais culinários mais populares da internet, como Ana Maria Brogui, Receita de Minuto e Rolê Gourmet, todos com produção mais sofisticada. Sobre o quitute, ela aprendeu durante curso de chocolate ministrado numa das lojas onde compra seus ingredientes, em Juiz de Fora. Mas ensinaram a fazer o bolo em apenas metade da garrafa.

“Num domingo que estava com tempo, pensei em fazer as metades e emendá-las. Elas caíam, mas fui aprimorando e resolvi fazer o bolo na garrafa inteira”, conta. Ela abre uma “janela” na garrafa, reveste por dentro com chocolate, recheia com bolo já assado e doce de coco e tampa a abertura pincelando mais chocolate. Depois de uns minutos na geladeira, é o momento de remover cuidadosamente o plástico com uma tesoura e devolver o rótulo e a tampa do refrigerante ao bolo, que, agora, tem o exato formato da garrafa.

Os comentários no YouTube, já abundantes, aumentaram de tal maneira que, atualmente, ela revela passar a noite inteira respondendo-os. “Recebo muito depoimento bonito. Um fala que eu o salvei do Miojo, outro diz que ajudei a salvar o casamento, pois o marido estava almoçando na casa da mãe”, conta. Entretanto, misturadas nisso estão as inevitáveis frases desrespeitosas do “tribunal” virtual. “Não sabia que tinha gente ruim na internet. Sempre tem um ‘pelinha’ e pessoas com palavreado horrível”, reclama.

Muitos da ala mal-educada criticavam a fala interiorana de Jane, habituada a dizer “lidileite”, enquanto outros riam da aparência das panelas velhas que ela usava. Resultado: além de trocar alguns utensílios de sua cozinha, ela passou a prestar mais atenção à maneira como fala, minimizando o sotaque e chegando a substituir mandioca por aipim e angu por polenta nos seus textos, tudo em nome de uma nacionalização do discurso. Ela garante gostar de críticas construtivas e se orgulhar de ser mineira.

Hoje aposentada, Jane ganhou a vida e criou seus três filhos cozinhando. Fez muito salgadinho, entregou pururuca em bar, vendeu 14 sabores de chup-chup. Ainda mora de aluguel e revela que o dinheiro recebido graças ao seu canal na internet é suficiente apenas para pagar os ingredientes das receitas. “Não que sejam caras, mas é que faço pelo menos uma todo dia”, explica. E ela não prova o que cozinha: “Se for coisa que o Bruno gosta, leva para ele e minha nora. Se não, levo para amigos, lojistas que conheço ou doo em hospital”.

“Minha intenção nunca foi ficar rica. Meu filho fala que nunca ganharei dinheiro, porque ajudo muita gente. O que tenho, divido. O amor pela culinária não me fez ficar rica, mas me realiza”, observa. Jane andou recusando convites para aparecer na TV – por timidez e por não oferecerem passagem – e diz nem pensar em ter programa próprio na telinha. “Sei o meu lugar e não me acho capaz. Não sei fazer pratos diferentes. Aliás, o sucesso do meu canal está nisso. O brasileiro tá no aperto, mas tem internet para aprender a fazer comidas simples.”

 

 

 

A volta de Palmirinha

Depois de passar pela televisão, Palmirinha Onofre, ícone da culinária caseira no país, voltará a ter programa, no dia 21 do mês que vem, mas na internet. Será uma websérie transmitida ao vivo, focada em receitas para vender e com acesso gratuito no site www.eduk.com.br. Os episódios serão exibidos às quintas, das 10h às 12h, com pelo menos duas receitas da cozinheira, que tem 84 anos. A primeira será de sonho.

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