Grupo de amigos de Belo Horizonte cria sua própria versão do programa MasterChef

Um dos mais populares programas gastronômicos da TV brasileira inspira roda de amigos em Belo Horizonte.. O prêmio do vencedor? Uma panela

por Eduardo Tristão Girão 12/09/2015 09:24
Marcos Vieira/EM/DA Press
Regina até se divertiu no jantar de terça-feira, mas Marcos Medeiros confessou seu nevorsismo (foto: Marcos Vieira/EM/DA Press)

“Estou mais atrasado do que nervoso”, diz o psicanalista Marcos Medeiros. São quase 19h e ele corre para lá e para cá diante da bancada da cozinha de sua casa, no Bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Entre maços de coentro e livros de receita abertos, salteia lulas para o prato principal enquanto termina os molhos que vão acompanhar a entrada – a sobremesa está pronta desde o dia anterior. Nem passou perto do seu consultório só para poder se entregar à delícia (porque dor não há) de ser um dos sete competidores do MasterChef mineiro.

Sim, um grupo de amigos da cidade resolveu criar sua própria versão do mais popular reality show gastronômico da televisão brasileira. Foi numa conversa em mesa de bar que se deram conta de que estavam todos seguindo os episódios. Por que não assistirem juntos? Claro que não ficariam de barriga vazia e pensaram em como deixar tudo mais divertido. Apenas jantar não seria o suficiente: saíram de lá com competidores e datas dos jantares definidos, sendo o último na semana que vem. Definiram regras, mas elas não são tão importantes.

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Amadorismo?
Não há tema, por exemplo, e só se conhece o cardápio na hora. Cada chef amador prepara entrada, prato principal e sobremesa e recebe em sua casa os demais concorrentes e pequeno grupo de jurados (cujo número oscila sempre) para provar de tudo. Cada um leva sua bebida. Ao final, é preciso dar notas segundo critérios como apresentação, criatividade e sabor. O voto dos jurados vale o dobro do dos concorrentes e as cédulas são colocadas numa urna que será aberta em breve, depois que o último dos sete cozinhar. O prêmio: uma panela.

“No dia em que cozinhei, fui triturar milho no liquidificador e o aparelho pifou. Até saiu fumaça. Por sorte, tinha outro em casa e consegui terminar a receita. Passei aperto. A gente não é cozinheiro, é tudo no teste. Para o crème brûlée, arrumei um maçarico emprestado e nunca tinha usado um. Hoje não vivo sem ele”, brinca Regina Magalhães, historiadora e mulher de Marcos Medeiros. Ela também competiu, mas num dia diferente do dele. “Não existe aquela coisa de ‘o meu é melhor que o seu’. Todo mundo é amigo”, garante ela.

A propósito, o marido de Regina nem gosta tanto de MasterChef: “Prefiro o The Taste Brasil, pois é menos tosco, menos agressivo. Ando com preguiça da quantidade de programas de gastronomia atualmente”, diz Marcos. Tranquilamente, ele finaliza a entrada com a ajuda dos filhos da “concorrência”, enquanto a mulher se encarrega de chamar para a mesa todos que se dispersaram pelo quintal. Pouco depois das 21h, Marcos anuncia o que será comido e recebe palmas. A campainha toca: é um motoqueiro trazendo a segunda remessa de bebidas da noite.

Notas

Pouco depois das 23h, quando todos haviam acabado de saborear o prato principal (arroz de coco com salada de lula), Marcos surge à beira da mesa e desabafa: “Preciso de um banho”. Conclui que essa competição é como festa de aniversário (“o aniversariante é o único que não aproveita”) e, feliz, volta para a cozinha para terminar a sobremesa, um potinho de creme de abóbora, vinho do Porto e rapadura servido com gelo de coco, hortelã e especiarias. E Regina volta a chamar todo mundo para a sala de jantar – teve de fazer isso três vezes.

“Normalmente, estamos mais dispersos a essa hora”, conta a socióloga (e concorrente) Nina Bittencourt. Sem qualquer preocupação em manter sigilo, ela atesta que esse doce receberá dela a nota máxima no quesito originalidade. A jurada (e médica) Maria Angélica Dias passa por ali e solta: “Votei. E não fui nem Márcia de Windsor nem Pedro de Lara”. Para quem não sabe, Márcia dava notas altas no Programa Flávio Cavalcanti e Pedro ficou conhecido pelas notas baixas no Show de calouros de Sílvio Santos.

Como de costume, ninguém assistiu ao MasterChef naquela noite. Os amigos nem sequer falaram do programa, embalados pelo velho blues de James “Son” Tomas.

Brincadeira de criança

A brincadeira é realizada às terças-feiras, coincidindo com os dias em que MasterChef vai ao ar na Rede Bandeirantes. No entanto, como todos ali estão “ocupados” demais comendo, rindo e conversando, a televisão quase sempre permanece desligada. Então, ironicamente, todo mundo acaba recorrendo às reprises. A ideia era que a final mineira fosse realizada no mesmo dia da oficial, terça-feira que vem, mas um dos competidores teve outro compromisso e o calendário foi alterado.

Veio a calhar, pois dará tempo de a piscina do sítio de Rosângela Neuenschwander ficar pronta. A turma quer aproveitar a inauguração dela e revelar o resultado final na mesma ocasião. A saber: além de advogada, Rosânegla é jurada e, como fotografa por hobby, tornou-se a responsável por registrar todas as etapas do desafio entre os amigos, incluindo cliques dos cozinheiros e dos pratos. Não por acaso, vão reunir esse material para fazer um livro com todas as receitas, a ser distribuído entre eles.

“Falando da apresentação dos pratos, o nível é altíssimo”, elogia Rosângela. Numa das rodadas anteriores, ela não pôde estar presente, mas sua filha Marie, de 13 anos, não deixou a peteca cair. Ela acompanha a mãe em todos os encontros e assumiu a câmera, sem deixar de ajudar na cozinha ao lado de Estela Nascimento, 11, filha da jornalista Sandra, a última concorrente deste peculiar MasterChef mineiro. As duas viraram mascotes e serão responsáveis pelo jantar de encerramento da competição.

Marie e Estela adoram massas e estão resolvendo que molhos farão para os pais e amigos. “Gosto de ver receitas na internet e faço doces também. Quando mamãe me explicou o que estava combinando com a turma dela, eu quis participar. Como tudo o que eles fazem e tem sido bom para perder a frescura com legumes, por exemplo”, diz Marie, especialista em molho branco. Apreciadora do mesmo molho, Estela afirma: “Também quis vir a todos os jantares. Assisto e gosto de MasterChef. Só não gosto muito de bacalhau, mas como de tudo”.

NA TELINHA


Izabel Alves e Raul Lemos farão a final do MasterChef na próxima terça-feira, às 22h30, na Bandeirantes. A segunda temporada do programa tem no comando a jornalista Ana Paula Padrão e um trio de jurados formado pelos chefs Erick Jacquin (Tartar&Co), Henrique Fogaça (Sal Gastronomia, Cão Véio e Admiral´s Place) e Paola Carosella (Arturito e La Guapa). O reality show original já foi visto por mais de 250 milhões de telespectadores em 145 países. Essa versão brasileira teve mais de 10 mil inscrições, e 75 candidatos passaram pela primeira prova por uma vaga no programa. O vencedor vai levar R$ 150 mil para abrir seu próprio negócio, R$ 1 mil por mês durante um ano para compras, um carro zero e uma bolsa de estudos na Le Cordon Bleu, em Paris, além do troféu de MasterChef.

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