Filha de Jorge Amado lança edição de obra com hábitos gastronômicos do pai

Livro 'A comida baiana de Jorge Amado', de Paloma Amado, revela a intimidade do escritor

por Sara Campos 13/10/2014 11:35
Divulgação
Paloma Amado: "O dar de comer dentro da literatura do meu pai representa um amor total dele pelos personagens e por todos que o inspiraram" (foto: Divulgação)
Coentro, azeite de dendê, caju e mandioca são alguns exemplos de ingredientes que se tornam matérias-primas das merendas orquestradas pela protagonista de 'Dona Flor e seus dois maridos', clássico do escritor Jorge Amado, que imortalizou em suas palavras o amor pela Bahia. As referências gastronômicas das obras do autor eram marcadas por personagens icônicos que marcaram a literatura brasileira. Tal expressividade inspirou duas publicações: a primeira, 'As frutas de Jorge Amado', foi escrita em 1997 pela filha do autor, Paloma Amado, e obra de referência a estudantes e entusiastas da gastronomia. A segunda etapa do projeto foi lançado em 1998 com o livro 'A comida baiana de Jorge Amado', coordenado pela chef Rita Lobo que será relançado no dia 14 deste mês, com atualizações.

A obra ganhou imagens clicadas por Livia Miglioli e Gilberto Oliveira Júnior, e produzidas com texturas, além de uma triagem de receitas. “Na versão anterior, havia várias receitas de moqueca. Optamos por uma delas, pois a base de preparo é a mesma. Todas as receitas do livro foram testadas e padronizadas”, ressalta Rita. As preparações foram separadas em duas categorias: históricas e práticas. Os pratos com ingredientes de difícil acesso para quem não está na Bahia foram mantidos na versão original — e ganharam um novo projeto gráfico, que remete a um antigo caderno de receitas.

Foram necessários seis anos de pesquisa para a elaboração do livro, escrito por Paloma durante o período em que acompanhou o exílio do pai na França, entre 1948 e 1949. “O resultado foi rico e com tantos elementos que eu tive dificuldade de eleger qual caminho tomar. Decidi que faria três livros — um dedicado às frutas; outro, à cozinha baiana e um livro de comida ritual, feitas pelos orixás. Esse último ainda precisa ser escrito e pretendo dar a ele um embasamento antropológico. Não quero escrever um livro qualquer”, ressalta a escritora.

Parcerias
Para a seleção de receitas, Paloma Amado contou com uma equipe experiente de cozinheiras anônimas e famosas, como Dadá, que comanda o restaurante Tempero da Dadá, em Salvador; e dona Canô, responsável pela receita de doce feito à base de casca de laranja, o preferido da cantora e filha, Maria Bethânia. “Dona Canô gentilmente me alertou que a receita não ficaria igual porque ela tem um jeito especial de fazer que só ela sabe. Isso prova a relação entre cozinha e afeto que os baianos têm”, ressalta Paloma.

Receitas antigas que já não fazem parte cotidiano gastronômico baiano, como a quitandeixa, vatapá preparado com feijão fradinho, também marcam presença no livro. “Em uma das obras que meu pai escreveu durante o exílio (Os subterrâneos da liberdade — agonia da noite) ficou claro a saudade que ele tinha de comer vatapá, prato que não provava há cinco anos. Aquilo tudo não era pensado: ele não era uma pessoa de psicologismos. Tudo nele era muito natural” ressalta a filha do escritor.

Paloma Amado afirma, ainda, que em cada passo da pesquisa em torno das obras do pai confirma a generosidade do escritor, que era refletida em sua obra literária. “Alimentar é o primeiro ato de amor de qualquer pessoa desde o nascimento. O dar de comer dentro da literatura do meu pai representa um amor total dele pelos personagens e por todos que o inspiraram. É uma declaração de amor ao povo da Bahia”, destaca Paloma.

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