O café das matas de Minas: Carangola tem colheita manual e nome de família no rótulo

Produção cafeeira na Zona da Mata ainda preza pelo artesanal e por tradições

por Edson Puiati 20/07/2014 15:23

No Brasil, o café é um agronegócio que envolve, atualmente, cerca de oito milhões de brasileiros dependentes da atividade: são doze Estados produtores, 1900 municípios, 370 mil cafeicultores, um milhão de trabalhadores fixos na lavoura, cinco milhões de familiares dependentes da cultura, um milhão de trabalhadores na indústria e no comércio, de acordo com dados do site Cafés do Brasil.

 

Minas Gerais possui quatro regiões cafeeiras: o Sul de Minas, o Cerrado, a Chapada e as Matas de Minas. Hoje vou destacar um trabalho desenvolvido na região de Carangola, Zona da Mata, área caracterizada por uma topografia acidentada e grandes variações de altitude. A título de curiosidade, os fundos dos vales estão a 400 metros de altura, enquanto as encostas das montanhas chegam a 1.100 metros.


De um total de 500 cafeicultores, cerca de 60% estão localizados na faixa intermediária, com média de 700 metros de altitude – ideal para o plantio do café. Características como as encostas íngremes, as chuvas e o solo favorável tornam o cultivo do café uma das poucas alternativas agrícolas viáveis na região. Por isso o produto se tornou responsável por 70% da renda rural. O perfil do sabor dos cafés arábica das matas de Minas está diretamente ligado à altitude. Cafés plantados em altitudes superiores possuem boa qualidade quando colhidos e secados da forma correta.


Em Carangola, o Centro Comunitário Rural de Conceição, pertencente ao circuito turístico do Pico da Bandeira, tem buscado uma denominação de origem controlada com o café Fruto Fino, criando um blend próprio da região. Durante a Feira Aproxima, aqui em BH, Julenia e Helmuth, representando a zona rural de Conceição, apresentaram seu Café Fruto Fino, criado há dez meses. Segundo eles, dos 500 produtores existentes na região da Zona da Mata, apenas 18 são responsáveis pela produção de cinco mil sacas/ano e estão inseridos no programa "Certifica Minas Café".


Na fazenda Boa Sorte, em cinco hectares de terra, a 734 metros de altitude, Julenia e Helmuth produzem seu café artesanal, livre de agrotóxicos. São 10 mil pés de café com idade de 15 anos. O produto possui características de bom corpo, acidez moderada com doçura de rapadura e/ou chocolate. Para obter a qualidade desejada com notas superiores a 80, um dos pontos importantes para certificação é a análise do solo.

 

Algo que despertou minha atenção foi a valorização da embalagem do produto, que especifica o nome do casal produtor, a quantidade de pés e a altitude do terreno. O nome da mulher vem antes do nome do homem, isso para valorizar o trabalho manual e cuidadoso realizado pelas mulheres. E eles justificam: os homens focam nas atividades da colheita e da terra, mas as mulheres se dedicam ao café, a mexê-lo de 20 em 20 minutos, entre as atividades do lar. Para Julenia, esse é um segredo do sabor do café.


Outro diferencial é a colheita manual feita até quatro vezes no mesmo pé, a cada 15 dias a partir da primeira colheita – quando se colhe apenas os frutos vermelhos. A agricultora explica que o café produzido por eles tem uma secagem em tabuleiros telados, de fabricação própria, que evitam contato com o solo e, consequentemente, evitam uma possível fermentação.Este é mais um exemplo de uma região das nossas Minas Gerais onde a agricultura familiar coloca, nos
mercados nacional e internacional, produtos de excelente qualidade.

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