Restaurantes famosos de BH amargam pouca procura de estrangeiros na Copa

Ao contrário dos comerciantes da Savassi, donos de restaurantes requintados reclamam do pouco faturamento durante do período do Mundial

por Eduardo Tristão Girão 27/06/2014 08:26
Marcos Michelin/EM/D.A Press
O chileno Cristóbal Pérez aprovou o cardápio e a carta de vinhos do Restaurante Trindade (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Se, na Savassi, proprietários de bares estão arrancando os cabelos (e enchendo os bolsos) por causa da quantidade de fregueses, o mesmo não ocorre nos restaurantes mais famosos de Belo Horizonte. Não que estejam tendo prejuízo, mas a maioria esperava faturar mais durante a Copa do Mundo. Os estrangeiros têm comparecido, mas de forma bastante irregular, e dias de jogos não necessariamente são sinônimo de mesas ocupadas. Publicações do exterior auxiliam com dicas, mas a maioria cita poucos endereços ou está desatualizada.

O uruguaio Fernando Areco, proprietário do A Favorita, é um dos descontentes: “Mantive o movimento habitual, mas em dia de jogo isso piora. Recebo muita gente que vem à cidade a negócios e, como não há esse tipo de turista durante a Copa, o movimento não tem sido bom”.

No La Victoria, em Nova Lima, outro restaurante do qual Areco é sócio, nenhum estrangeiro foi recebido nos últimos dias. “O público que tivemos por causa da Copa não é muito gastronômico, de poder aquisitivo alto. É um pessoal mais Savassi. Todos os donos de restaurantes estão reclamando disso”, observa. Entretanto, a sorte dele vai mudar. O jogo Brasil x Chile já se refletiu nas reservas feitas até amanhã.

O Vecchio Sogno, um dos restaurantes belo-horizontinos mais conhecidos nacionalmente, é citado em poucos guias de viagem estrangeiros. Mesmo assim, essas publicações prestaram serviço significativo à casa de Ivo Faria. “Vários clientes vieram por causa dos guias. Um chileno me reconheceu na rua por causa da foto que viu num site. Todo eufórico, ele me parou na rua para avisar que viria com oito pessoas”, conta o chef.

A casa está com reservas esgotadas para o fim de semana, mas Faria não se mostra tão animado, pois o volume de clientes estrangeiros está aquém do esperado. “Perto dos jogos, temos muita gente, mas não há turista hospedado aqui por mais dias. Eles vêm à cidade no esquema bate e volta. Além disso, a Fifa Fan Fest esvaziou os bares”, analisa.
Atual queridinha do público belo-horizontino, a Mercearia 130 foi recomendada recentemente em matérias de dois jornais internacionais de peso, o norte-americano The New York Times e o inglês The Guardian. “Percebemos a presença de gringos, mas só uns dois ou três por dia”, informa o chef Raoni Ribeiro.

Eventos No Trindade, o chef Felipe Rameh comemora. “Está ótimo, embora esperássemos um estrondo. O movimento de fim de semana e eventos corporativos ligados à Copa compensam os dias de jogo, que são ruins.” Durante a semana, para cada cliente brasileiro há 10 estrangeiros, que se informaram sobre a casa em jornais no exterior, indicações de blogueiros e amigos dos proprietários, como o chef paulistano Alex Atala, do mundialmente famoso restaurante D.O.M.

Um deles é o sommelier chileno Cristóbal Pérez, de 27 anos, que foi ao Trindade com dois amigos. “Estou gostando muito. A carta de vinhos é muito boa, assim como o atendimento e o cardápio”, afirma. Ele aproveitou para fazer negócio: fechou com o restaurante a venda de caixas do vinho que representa. Já o sul-africano Bruce Gregório Ferreira, de 61, conheceu a casa pelo Facebook. “Os donos fizeram uma postagem com o cantor Lenine e logo pensamos em conhecer o restaurante”, contou.
Flávio Trombino, proprietário do Xapuri, diz que a clientela da tradicional casa de comida mineira aumentou 30%.

“Normalmente, já recebemos estrangeiros. O que mudou foi a quantidade e a diversidade: vêm pessoas do mundo inteiro, incluindo muitos jornalistas. Alguns aproveitam para divulgar a casa e os produtos mineiros em suas reportagens”, conta.

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