Com forte apelo de marketing, um iogurte denominado grego invade as prateleiras

Iguaria tem conquistado paladares ávidos por novidades

por Patrícia Crespo 28/10/2013 14:01
A alimentação, nos dias atuais, é movida por uma economia que movimenta um mercado riquíssimo e superaquecido. Se a demanda pede um alimento mais saúdavel, todo produto que vier com esse rótulo tende a cair nas graças do consumidor. Quem já leu um pouquinho sobre marketing sabe que mercados também podem ser criados, assim como demandas e tendências. De tempos em tempos, figurinhas fashions invadem o universo gourmet e muita das vezes engolimos guela abaixo desenxabidas muçarelas de búfalas, insossas burratas, sementes de não sei mais das contas e outros tantos modismos que por um tempo frequentam os cardápios e os discursos sobre gastronomia e caem em esquecimento até a próxima novidade. Com lindas embalagens predominamente azuis, as quais, oportunamente, atrelam o produto à bandeira da Grécia, um novo tipo de iogurte, que se diz grego, anda fazendo sucesso e contabilizando lucros para as indústrias de laticínios.

De uma hora para outra fomos invadidos por propagandas de TV protagonizadas por lindas e magras personagens esbaldando e vendendo saúde, bem-estar e alegria por consumir o tal creme imaculadamente branco embalado pela cor azul dos mares que circundam as ilhas gregas. Se nosso leitor já teve a oportunidade de viajar para aquele país e provar o genuíno iogurte grego, há de concordar que o que se vende por aqui passa longe do que é degustado popularmente na primeira refeição de acolá. O verdadeiro iogurte grego é sim mais cremoso e denso que o tradicional. Não deve cair da colher e não tem adição de açucar. A diferença está na quantidade de vezes que se filtram o soro, resultando um produto com muito mais teor de proteína e muito menos água. A qualidade desse produto está diretamente relacionada à qualidade do leite. Ao contrário do que tentam nos vender, como um alimento saudável, eles apresentam até o dobro de calorias e três vezes mais gordura que o iogurte tradicional. Muitos têm até creme de leite na fórmula. Portanto, quem está de dieta de baixas calorias deve fugir dele.

Consumido há milhares de anos pelos povos de origem árabe, o hábito do iogurte foi introduzido na Europa no século 16. De lá prá cá muito leite rolou e entornou. Está mais que comprovado que os tradicionais, mais líquidos e menos gordurosos, são extremamente benéficos ao organismo. Com alto teor de cálcio, se consumidos diariamente podem contribuir para uma boa função intestinal. Entretanto, me parece que as qualidades do iogurte grego vendido por aqui se prestam muito mais à sua vocação gourmet do que às atribuídas a uma alimentação saudável.

Pela sua textura encorpada e aveludada, baixo teor de acidez e alto teor de gordura, é considerado, por muito chefs, como ingrediente ideal para certos preparos de sobremesas, molhos e até como substitutos da manteiga em algumas receitas. Dizem que se harmoniza muito bem com frutas e peixes. Mas fica a dica: procure sempre por uma versão com menos adição de açucar. O resultado será um tanto melhor. Ainda não vi nas prateleiras da cidade a versão sem qualquer pitada de doce. Mas ela pode ser comprada em empórios paulistas.

O Leijontornet, restaurante norueguês estrelado com o prêmio Michelin, sob o comando do sueco Gustav Ottenberg, traz no cardápio um filé de cordeiro com risoto de beterraba e iogurte grego que atualmente é o carro-chefe da casa. Bolos caseiros, panquecas e tortas ganham textura e mais leveza quando acrescidos desse tipo de iogurte. Para testar o produto, reproduzi uma receita de cheesecake veiculada por uma revista portuguesa, a qual substitui o tradicional creme cheese por iogurte grego. Gostei do resultado!

*Formada em jornalismo pela Puc-Minas e em gastronomia pela Estácio de Sá

Cheesecake de iogurte

Ingredientes


200g de biscoito maizena; 100g de manteiga derretida; 4 folhas de gelatina transparente; raspas e suco de uma laranja; 120g de açúcar refinado 300ml de creme de leite fresco; 300g de iogurte grego; 60g de pistaches sem casca triturados grosseiramente; blue berries frescas para decorar; 20 ml de mel

Modo de fazer

 Forre uma fôrma desmontável de aproximadamente 23cm de diâmetro com papel-filme. Esmague ou triture num processador o biscoito e após isso faça uma farofa úmida com a manteiga derretida. Ajeite a misture no fundo da fôrma e pressione alisando com uma espátula. Umedeça a gelatina de acordo com as instruções do fabricante. Ferva o suco de laranja, as raspas e o açúçar. Desligue o fogo e derreta a gelatina espremida nesse líquido quente.

Numa batedeira bata o creme de leite com o iogurte até formar um creme fofo. Junte a mistura de laranja, misture
bem e despeje na forma forrada com o biscoito triturado. Leve ao refrigerador. No dia seguinte decore com mel,
pistaches e blue berries.

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