Melancia fica mais doce e conquista o gosto popular em receitas

Consumida o ano inteiro, fruta originária da África tem forte apelo entre brasileiros

por Patrícia Crespo 24/03/2013 12:18

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(foto: morgue/divulgação)
No Nordeste do país, os vendedores ambulantes de frutas atraem os passantes com nacos generosos de melancia cortada. Cena agradável de se ver e muito mais ainda de se participar. Nada melhor que uma fatia suculenta e doce da fruta, comida assim, no meio da rua, para atenuar o calor e matar a sede.

 

Um cenário semelhante deve ter inspirado o escritor americano Mark Twain a declarar sua paixão pelas melancias. Em seu bem-humorado manual de 'Dicas úteis para uma vida fútil' ele coloca a fruta no trono e afirma: “Depois de provar uma, sabemos o que comem os anjos”. Que os anjos a comem, não se pode afirmar, mas que a fruta era a favorita dos faraós do Egito Antigo, isso sim se pode comprovar.

 

Segundo o pesquisador moçambicano Domingos Almeida, da Universidade do Porto, em Portugal, a melancia é originária das regiões secas da África tropical, onde ainda cresce selvagem, embora, na Índia, seja encontrada uma grande diversidade dessa espécie, o que acabou gerando uma controvérsia sobre sua real origem. O professor afirma ainda em sua tese de mestrado, que tem como tema principal o cultivo da fruta, que há evidências de seu consumo no Egito e no Oriente Médio há mais de 4 mil anos e que indícios das sementinhas pretas da melancia foram encontrados no túmulo do célebre faraó Tutancâmon.


Os chineses a conheceram por volta do século 10 e os europeus mais tarde, no século 13. Os escravos africanos a trouxeram para as Américas e desde então nos refrescamos com a colorida irmã das abóboras e dos pepinos. A China é hoje o país que mais cultiva a fruta. Entretanto, Estados Unidos e Brasil estão na lista dos principais produtores.

 

Fruta de peso generoso, mas de nutrientes leves e saudáveis, é composta basicamente por água. Também é fonte de vitaminas e licopeno, substância responsável pela sua magnífica cor vermelha e que atua no organismo como poderoso antioxidante. Ao natural, é muto apreciada tanto no café da manhã como nos lanches ao longo do dia. Sua casca é utilizada para se fazer doces e picles e o suco de sua polpa é um poderoso diurético se batido com semente e tudo. Os indianos costumam fazer um pão feito com farinha de sementes de melancia e no Oriente Médio é hábito comê-las assadas.


Por ser muito apreciada por aqui na sua forma natural, seu uso como ingrediente culinário tem sido um desafio e tanto para a brigada da cozinha. A fruta barata e popular, cuja safra principal se estende até meados de maio, tem sido vista protagonizando requintados pratos da gastronomia contemporânea. Vai à mesa com muita versatilidade tanto em drinque e entradinhas quanto nos pratos principais e sobremesas.

 

Seu adocicado harmoniza-se muito bem com toques de acidez e untuosidade. A nossa sugestão de hoje para os gourmets de plantão não chegou para mim com assinatura, mas tenho certeza de que seu modo de preparo veio da Espanha, que tradicionalmente serve o gaspacho, uma deliciosa e refrescante sopa fria para ser degustada nas estações mais quentes do ano. Surpreenda-se com os sabores da melancia combinados com os tomates, para acompanhar um espetinho de mexilhões grelhados.

Gaspacho de melancia com espeto de mexilhões

:: Ingredientes

 

500g de mexilhões limpos; 1000g de polpa de melancia livre das sementes; 1 lata de 400g de tomates pelados; 100ml de azeite extravirgem;100 ml de água; sal, pimenta tabasco, pimenta-do-reino moída na hora e folhas de coentro a gosto.

:: Modo de fazer

Temperar os mexilhões com sal e pimenta. Salteá-los na metade do azeite. Reservá-los. Passar a melancia e os tomates no liquidificador e numa peneira bem fina. Colocar o restante do azeite e os temperos. Servir muitíssimo gelado. Montar as verrines (copinhos) com o líquido e o mexilhão espetado. 

 

Patrícia Crespo é formada em jornalismo pela Puc-Minas e em gastronomia pela Estácio de Sá

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