Chef cria aplicativo que traduz mais de nove mil termos gastronômicos

por Laura Valente 06/01/2013 10:27
Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Adelaide Engler, chef de cozinha (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
A cena é supercomum para uma viajante contumaz e observadora como Adelaide Engler, economista com atuação nos maiores centros financeiros do planeta, que deixou a carreira em business para ser chef e jornalista especializada em gastronomia: o turista chega a um restaurante estrangeiro e tem dificuldades para entender o cardápio. O resultado é uma refeição frustrada, que muitas vezes não tem a ver com o prato que o cliente realmente queria degustar, como ela descreve: “Fui jantar com um amigo em Nova York e, como ele fala inglês, não quis ajuda para fazer o pedido. Assim, solicitou ao garçon scallops. Quando a refeição chegou à mesa, ficou surpreso por se tratar de vieiras, molusco marinho do qual não gostava. Ou seja, ele escolheu por engano”. Na ocasião, o problema foi resolvido pela troca de pratos entre eles, mas como frisa Adelaide, a confusão pode ocorrer mesmo quando o comensal domina uma língua, porém desconhece certos termos gastronômicos. Um novo projeto criado por ela objetiva justamente evitar esse tipo de saia justa, além de melhorar a qualidade do turismo gastronômico: o foodtranslator by Adelaide Engler.

Como já morou em vãrios países, ela começou a pesquisar, escrever e falar sobre gastronomia em grandes veículos de comunicação nacionais. Com a nova demanda buscou, também, a formação acadêmica em comunicação social. Logo, decidiu escrever o primeiro livro, Guia gourmet de Nova York. Dali não parou mais de pesquisar e publicar outros títulos sobre o assunto.

O trabalho mais recente, porém, contempla o mundo virtual: trata-se de um aplicativo para tablet e smartphone da Apple que funciona como tradutor de termos gastronômicos em nada menos que seis línguas. Com mais de nove mil palavras nos idiomas alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português, o programa pode ser baixado por US$ 0,99, pouco mais de R$ 2 , e, uma vez instalado, funciona independentemente da conexão à internet. A interface lembra a do tradutor do Google, de fácil entendimento mesmo para os que não dominam tão bem assim as artimanhas do mundo virtual.

De água com gás a redanho Recém-lançado, o aplicativo pretende auxiliar turistas, mas também funcionar como ferramenta de trabalho para profissionais envolvidos na cadeia produtiva da gastronomia como chefs, garçons, maïtres, sommelieres, produtores e por aí vai, além de ser uma mão na roda para estudantes, pesquisadores e amantes da boa cozinha em geral.

O grande diferencial do aplicativo em comparação a outros tradutores da Internet fica por conta da reunião de grande número de termos específicos da área gastronômica e de bebidas. Para ser tão precisa, já que existem palavras que são comuns a mais de uma função, Adelaide conta que a criação do aplicativo demandou anos e anos de pesquisa intensa, em cardápios dos seis países, literatura especializada e até em livros de biologia.“ Agulha, por exemplo, pode ser a de costura, o peixe ou o nome dado ao corte bovino acém em alguns estados brasileiros. Além da bagagem que já tinha, estudei por mais sete anos em várias fontes para chegar a um resultado que julgo ser o mais completo da área.”

Um exemplo da dedicação vem do esforço para encontrar a tradução nos seis idiomas para uma iguaria muito apreciada pelos franceses, mas pouco comum em outros países, o crépine, tipo de víscera suína (redanho em português, crepineta ou reticella di maiale em italiano, fettgewebe, netz em alemão, pig’s caul em inglês). Em contrapartida, mesmo um pedido banal como água com gás costuma gerar confusão, principalmente entre quem viaja para os EUA ou Inglaterra. “Já cansei de observar brasileiros solicitarem ao garçon wather with gas, mas tal termo não existe. A forma correta de pedir é sparkling water (na América) ou fissy water (no Reino Unido)”, indica.

Adelaide também relaciona as traduções de acordo com categorias de alimentos. O “capítulo” peixes, por exemplo, traz mais de 100 termos e é dividido entre espécimes de água doce e salgada, além de frutos do mar como o camarão (veja a sugestão de receita com o crustáceo na página), tipos de cozimento e de cortes de carnes, entre outras. No quesito, a picanha tão apreciada pelos mineiros deve ser uma das campeãs de acesso. Por aqui, fica a dica para quem for viajar nas férias e quiser matar as saudades do corte suculento: em inglês, peça rumpcover ou sirloin top; na França, solicite um aiguillette; e, na Alemanha, um hüftendecke. Para saber mais, acesse a página de Adelaide na internet: www.adelaideengler.com.br.

Com uma emoção forte só transmitida por quem tem verdadeira paixão pela profissão, Adelaide descreve o que espera de repercussão com o lançamento do novo aplicativo. “Quando retornam de uma viagem, as pessoas falam an passant de pontos turísticos e ficam por horas contando sobre as experiências gastronômicas. Isso porque a mesa de um povo reúne o que há melhor em um passeio: arte, cultura, entretenimento. E emociona. Espero poder contribuir para tornar esse prazer ainda mais completo”.

Camarões com arroz basmati e especiarias

INGREDIENTES PARA QUATRO PESSOAS

800g de camarões VG, 200g de arroz basmati, 8 aspargos frescos verdes, 2 dentes de alho, 30g de manteiga, 50ml de azeite, 1 colher de chá de curry indiano, 1 pitada de canela, páprica picante, noz-moscada e cominho, sal a gosto, castanhas
para decorar.

MODO DE FAZER

Tempere os camarões com um pouco das especiarias e o alho picado e deixe marinar. Enquanto isso, cozinhe o arroz com água e sal e acrescente todas as especiarias. Cozinhe os aspargos no vapor e refogue rapidamente na frigideira com a manteiga, temperando com sal. Por fim, refogue os camarões com azeite. MONTAGEM: Coloque o arroz no centro do prato, os camarões por cima e os aspargos na lateral. Decore os pratos com castanhas (opcional) e sirva imediatamente.

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