Meio a meio: estilista Graça Ottoni mescla produção própria com grifes parceiras

Famosa por imprimir técnicas de caráter autoral sobre tecidos, estilista lança coleção com o foco na curadoria de moda. Em linhas contemporâneas ricas de propostas handmade, as peças falam a mesma língua estética em modelos que se complementam

por Laura Valente 12/07/2017 16:27

Breno Meyer/Divulgação
Graça Ottoni e Anne est Folle (foto: Breno Meyer/Divulgação)
Vivida, no melhor sentido do termo, a estilista Graça Ottoni esbanja habilidade criativa no território da moda. Tanto que é reconhecida desde a década de 1980 por revestir de expressão singular os tecidos, mesmo aqueles pouco valorizados pelo mercado. Desde então, lança a cada temporada coleções repletas de identidade, peças construídas a partir de processos realmente manuais que envolvem desde identificar o tecido de melhor caimento até transformá-lo em algo totalmente novo a partir de intervenções que envolvem tingimento, bordados, aplicações. “No início da carreira, transformava tecidos de segunda linha como carne seca, faillet e até pano de saco alvejado em batas, calças e vestidos”, lembra.


De lá para cá, levou a grife de mesmo nome ao Olimpo fashion, desfilou em 10 edições do já extinto Fashion Rio, participou de feiras de lançamento para o atacado, consagrou sua assinatura entre os estilistas mais inventivos do país. Chegou a ter 70 funcionários diretos. Percorreu com fôlego de atleta a maratona imposta pelo ritmo frenético da moda. Quando os dois filhos, Pedro e João, deixaram a empresa para seguir rumos próprios, Graça fez uma pausa e percebeu que o momento pedia uma reinvenção. Decidiu encerrar as vendas de atacado e voltar as atenções para uma proposta de produção mais suave, totalmente dedicada ao consumidor final, à venda de varejo.

Breno Meyer/Divulgação
(foto: Breno Meyer/Divulgação)

Curadoria de inverno Desde 2012, Graça vem implementando o no novo formato. A produção desenvolvida no ateliê ainda é diversificada, cerca de 110 modelos diferentes por temporada, todos disponíveis em loja própria, no Bairro de Lourdes. Mas vai além: a esta produção, que corresponde a cerca de 50% do estoque, ela acrescenta peças de grifes que acompanha, gosta, que têm a ver com o estilo e proposta estética que aprecia. “Faço uma curadoria, elegendo marcas de vestuário, bolsas, calçados e bijuterias contemporâneas. Compro das marcas e disponibilizo aqui, até para oferecer à cliente possibilidades para uma produção. Essa oferta compõe os outros 50% do estoque”.

Breno Meyer/Divulgação
(foto: Breno Meyer/Divulgação)

Na linha própria, que chama de especial, Graça se permite o prazer de trabalhar com tecidos naturais como seda, linho, algodão, os prediletos. “Investir em um tecido de qualidade já é meio caminho andado para o sucesso de uma coleção”, justifica. No entanto, adora percorrer prateleiras esquecidas nos estoques de tecidos, num garimpagem que ela chama de “achar peças inca” (brincando com o termo encalhado), valorizando uma potência criativa da matéria-prima que nem todo mundo enxerga, ou conhece.

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(foto: Breno Meyer/Divulgação)

Sem determinar um tema específico para as coleções, conta que acessa um arquivo de imagens que vai colecionando ao longo do tempo, tanto atuais quanto históricos, clássicos. Também analisa a oferta de tecidos, assiste a desfiles e percorre o ilimitado universo da Internet, campo vasto em que navega com frequência e curiosidade. Ela revela ainda que aposta em modelagens de base clássica, e modifica os modelos ao sabor das tendências, ouvindo com atenção as demandas do público, mulheres de faixa etária ampla, que valorizam o aspecto diferenciado da moda artesanal.

Breno Meyer/Divulgação
Graça Ottoni e Anne est Folle (foto: Breno Meyer/Divulgação)

Neste inverno, a estilista aposta principalmente em sobreposições de texturas variadas. Trabalhou cores neutras como preto e cinza, ousou em aceso tom de açafrão, e pincelou drama em peças totalmente vermelhas. “ As texturas são importantíssimas, enriquecem a roupa, inspiram composições”, detalha. Entre os tecidos, os clássicos de fibra natural, além de malhas de algodão, modal e um “inca” de trama flanelada, dupla face.

Breno Meyer/Divulgação
(foto: Breno Meyer/Divulgação)