SPFW apresentou uma moda urbana sem grandes voos e devaneios

Mais próximo do varejo, o São Paulo Fashion Week promoveu, na semana passada, o "see now, buy now" e propõs discussões sobre o momento presente

por Marta De Divitiis 21/03/2017 16:47

Nelson Almeida/AFP
Patbo (foto: Nelson Almeida/AFP)
Entre os dias 13 e 17 de março, a 43ª edição do SPFW – São Paulo Fashion Week – foi apresentada no prédio da Bienal no Parque do Ibirapuera em São Paulo, sob o tema IN-Pactos. Consolidando o novo calendário ( apresentações em março e agosto) o evento pretende aproximar mais a produção do varejo de moda. De acordo com os organizadores, a rapidez que o universo virtual propõe não permite mais que se aguarde três meses para ver a passarela na vitrine das lojas. Assim as marcas tiveram que se adequar a essa nova realidade. Paralelamente o SPFWN43 trouxe um ciclo de discussões, palestras e desfiles que abordaram a sustentabilidade, no Projeto Estufa.

 Já nos três primeiros dias o que se pode observar foi que a moda tem se ajustado à nova realidade econômica, sem grandes voos e devaneios. Afinal, o momento é de cautela. A silhueta das peças é confortável e tende a uma modelagem não muito ajustada ao corpo, tanto no feminino como no masculino. Tecidos nobres e tradicionais foram utilizados ao lado do moleton, que se transformou num queridinho de todos. As cores primárias e neutras predominaram embora os tons vibrantes também estivessem presentes. Veja abaixo os melhores momentos.

SPFW/Divulgação
Animale (foto: SPFW/Divulgação)

 A Animale inaugurou a passarela, inspirada na cultura italiana. Vitorino Campos, estilista da marca, apostou no mix de materiais com destaque para o couro estampado de cobra em peças fluidas, de silhueta confortável. Detalhes em transparências sutis, em rendas e bordados deram um toque artesanal. Os vestidos e saias surgiram nas versões mini e micro. 

 Já a UMA, fiel ao seu DNA, trouxe para a apresentação montada na Pinacoteca de S. Paulo, sofisticação minimalista. Tecidos nobres em modelagens geométricas, algumas tubulares, amarrações e silhuetas bem cômodas. As calças de alfaiataria surgiram suavemente carrot ou na versão pantalona. Malhas de gola alta, alguns toques de transparência e bordado. Brincou com volumes como sempre e apostou em acessórios mais pesados. Lindas as unckle boots vermelhas e pretas. 

João Pimenta investiu não apenas em novos shapes, mas também na tecnologia têxtil. Em parceria, desenvolveu três tecidos inovadores: Dryshield, membrana impermeável criada com base em náilon (permite a transpiração, mas impede a passagem de água); Xpand, neoprene biodegradável e dupla face e o tricô 3D, usado na confecção de camisetas (geralmente é usado em cabedais de tênis), além de jaquards com desenhos de Roberto Alencar. Calças amplas, usadas com paletós mais ajustados, um dos quais acinturado (como no início de seu trabalho). Moletons com recorte em V inverso; casacos com aplicações e bordados, sobreposições, saias e camisetas. Branco; off white; marinho; roxo e cáqui na cartela de cores. Coleção bonita e com execução impecável! Delicioso de se ver!  

 

Passarela na vitrine 

Nelson Almeida/AFP
Ellus (foto: Nelson Almeida/AFP)

Fazendo 45 anos a Ellus mergulhou em seu próprio DNA repaginando ícones da marca como as jaquetas de couro, jeans e os acessórios rock & roll. Um casting estrelado por todos os modelos famosos que fizeram parte dessa história – Gelatti, Carol Ribeiro, Mariana Weickert, entre outros. Cintura no lugar, calças ora amplas, ora mais retas e curtas, camisaria e alfaiataria esmerada. Destaque para os acessórios poderosos, em especial a chocker, que tem tudo para ser a peça desejo da estação. 
2DNM - A marca paulista, estreante, apresentou uma coleção baseada no denim e no algodão Pima. Foram calças compridas, de modelagem solta, camisas amplas e lindos casacos de lã, de formas tubulares, retos, ombros caídos. A América pré-colombiana inspirou aplicações de tecidos rústicos, bordados em jaquetas jeans. As sobreposições predominaram, com saias assimétricas e calças com fendas enormes nas pernas, quase como uma saia longa. Interessante estreia.


 Isabela Capeto inspirada no sertão nordestino veio com looks em que as estampas florais e poás, combinadas com aplicações de rendas, bordados e babados se destacaram. As cores fortes predominaram em lindos vestidos longos.


 Referências de uniformes antigos de tênis e esportes de inverno na Memo, em parceria com Lilly Sarti, resultaram numa coleção em que as peças de moleton ganharam listras diagonais, em vestidos, saias e calças. Lindas as jaquetas pretas com ombros arredondados e recorte em cruz branco. Além dela o off white, marinho e vinho estiveram presentes.


 A Mulher Maravilha com toques militares inspirou a 2nd Floor que trouxe uma coleção leve, divertida e jovem, com minissaias e vestidos, calças e bermudas, parcas, jaquetas Bomber e camisas com palas sobrepostas, em verde oliva, azul, branco e vermelho. As bolsinhas derivadas de heróis dos quadrinhos foi um dos musts da plateia.


 O Projeto Estufa veio com o Vale da Seda, por Enéas Neto e Helen Rôdel. Enquanto o primeiro desenvolveu lindos vestidos fluídos, longos, em seda, Helen trouxe o crochê e o tricô em peças elaboradas em pontos mais abertos, lindas! Collants, biquínis e vestidos maravilhosos, em vermelho, preto, com toques de branco, amarelo e turquesa.

 

 

Mineiros trouxeram inovações

Nelson Almeida/AFP
Patbo (foto: Nelson Almeida/AFP)

Entre os mineiros que se apresentaram o destaque maior foi para Fabiana Milazzo e Apartamento 03. A primeira apresentou lindas peças bordadas, muitas com detalhes de rolotês formando listras de tecido. Num trabalho inovador, trouxe denim em peças que seriam extremamente casuais não fossem os bordados sofisticados, que deram brilho luxuoso. Lindos! Os vestidos transparentes, com peças rendadas embaixo têm tudo para se tornar um hit. Já a apartamento 03 veio com peças em veludo, lãs em modelagens amplas, com recortes coloridos. Bordados lindos num macacão frente única e, maravilhoso, o vestido preto com saia ampla bordada, assim como os casacos almofadados, em tecidos acetinados, que trouxeram nova proporção à silhueta.

Nelson Almeida/AFP
GIG Couture (foto: Nelson Almeida/AFP)

 PatBo  surpreendeu ao se basear no streetwear trazendo peças casuais, mas com sua característica impressa, os bordados e os tecidos nobres. Assim encontramos em sua passarela moletons e conjuntos de veludo, com toda a bossa esportiva, mas com bordados preciosos. Gig apostou num ar vintage, com muito laminado e tricôs primorosos, nas palavras de Gina Guerra “uma nostalgia urbana, um street combinado ao estilo vitoriano”. Os plissados, já tradicionais na marca, vieram em peso, ao lado de muitos babados. Os acobreados deram o tom das cores, ao lado do verde, dourado e o preto.

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