Quando a Academia Sueca anunciou no mês passado que tinha escolhido Bob Dylan para receber o Prêmio Nobel de Literatura, muitos demonstraram surpresa e perplexidade. Menos o canadense Leonard Cohen, que proferiu uma frase inusitada ao definir a premiação: “Para mim, é colocar uma medalha no Monte Everest por ser o mais alto do mundo”. Outros, porém, lançaram o questionamento: se era para premiar um compositor de música popular, por que não Cohen antes de Dylan?
A pergunta era pertinente. Afinal, o próprio Dylan considera que Leonard Cohen foi o compositor que mais se aproximou dele em termos de qualidade poética e relevância artística. Opinião, por sinal, compartilhada por dezenas de músicos e cantores. Não por acaso, as composições de Cohen receberam dezenas de regravações e o anúncio de sua morte, confirmada por meio da página oficial do artista no Facebook, causou comoção imediata entre os colegas. “É com profundo pesar que informamos que o lendário poeta, compositor e artista Leonard Cohen faleceu”, diz a nota oficial. “Perdemos um dos mais reverenciados e profícuos visionários da música. As cerimônias fúnebres em memória dele acontecerão em Los Angeles, em data a ser divulgada. A família pede privacidade durante seu período de luto.” A causa da morte não foi informada.
Nascido em 21 de setembro de 1924 na província canadense de Quebec, escreveu poesia e romances (The favourite game, de 1963, lançado no Brasil pela editora CosacNaify com o título de A brincadeira favorita e Beautiful losers, de 1966) antes de se dedicar integralmente à música. A partir da segunda metade dos anos 1960, mudou-se para Nova York e conviveu com a lendária cena alternativa da cidade, entre eles o Velvet Underground de Lou Reed e John Cale. Passou a integrar um grupo de cantores e compositores de grande influência e respeitados pela crítica, mesmo sem tanta popularidade. “Entre eles, apenas Bob Dylan alcançou uma influência mais profunda em sua geração e talvez apenas Paul Simon e sua compatriota canadense Joni Mitchell se igualem a ele como letrista”, descreveu a revista especializada Rolling Stone.
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Em 1995, Cohen desacelerou sua carreira, entrou para um mosteiro zen budista nos arredores de Los Angeles, onde foi ordenado monge budista e adotou o nome Dharma de Jikan (que significa silêncio). Voltou à música em 2001, com Ten New Songs, uma colaboração com Sharon Robinson, e Dear Hearther (2004), um projeto em parceria com a namorada Anjani Thomas. Embora nunca tenha abandonado o judaísmo, o semita respeitador do sabbath atribuiu ao budismo o controle dos episódios sombrios que sempre o cercavam.
Turnê Final O ato final da carreira de Cohen começou em 2005, quando, depois de sofrer um desfalque milionário por parte de sua empresária, decidiu refazer suas economias com uma turnê épica pelo mundo, com 247 shows entre 2008 e 2010, mas que não passou pelo Brasil.
Depois da turnê, ele continuou a gravar, lançando Old ideas (2012) e Popular problems, que chegou às lojas, nos Estados Unidos, um dia depois de seu 80º aniversário. “Você precisa de uma certa resiliência sobre a qual você não tem controle, mas que está presente”, disse Cohen à Rolling Stone, na ocasião do lançamento do álbum. “E se você sente essa resiliência ou sente essa capacidade de continuar, significa muito mais na minha idade do que quando eu tinha 30 anos e contava com ela como certa."
Ele foi também um dos poucos artistas de sua geração a experimentar o sucesso no topo de seus 80 anos, lançando um álbum final, You want it darker, no mês passado. Assim como David Bowie, que morreu semanas depois de lançar o disco Blackstar, Leonard Cohen deixa o disco como o seu epitáfio. (colaborou Liliane Corrêa, com agências)