Circuito Liberdade lança Observatório

Iniciativa tem objetivo de melhorar diálogo com a sociedade. Professor francês Jacques Poulain é primeiro convidado para palestra.

por Carolina Braga 25/04/2016 08:00
BETO MAGALHÃES/EM/D.A.PRESS
BETO MAGALHÃES/EM/D.A.PRESS (foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A.PRESS)
Quando os responsáveis pela gestão do Circuito Liberdade começaram a analisar as formas de participação social presentes no projeto, identificaram um problema. Entre os equipamentos culturais instalados na Praça da Liberdade havia articulação. Com a comunidade de vizinhos e frequentadores é que o diálogo não era tão amplo como gostariam.

“Percebemos que a questão da democratização, da pluralidade e a necessidade de diálogo com os outros era fundamental para se repensar o circuito e legitimar uma lógica mais democrática”, afirma Michele Arroyo, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

Com o objetivo de suprir essa demanda, começa hoje no Teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa o Observatório Circuito Liberdade. A iniciativa pretende desenvolver uma dinâmica de escuta entre as mais diversas manifestações que ocupem o projeto cultural.

O formato de observatório, com discussões menos formais, foi considerado adequado por debater questões pontuais. O plano é que seja realizada uma edição a cada três meses, sempre com convidados. Considerando que transculturalidade é um tema latente tanto no cenário local como no internacional, o professor francês Jacques Poulain é o primeiro convidado do observatório. Ele deve proferir a palestra “Políticas públicas (Trans) culturais e a arte como meio de transformação social”.

  FILOSOFIA

Colaborador do filósofo Jean François Lyotard na elaboração da pesquisa que culminou no livro Crítica à razão pragmática, Poulin é hoje uma referência no pensamento contemporâneo da filosofia. A transculturalidade é um dos conceitos centrais de sua obra. Integrante da cátedra de filosofia da cultura da Unesco, ele tem percorrido o mundo analisando experiências desse tipo em países da Europa e da África, assim como no Haiti, na Venezuela e no Chile.

Segundo Poulain, as políticas transculturais não apenas colaboram, mas são necessárias para gerar transformação na sociedade. “Atualmente, todo diálogo social se tornou impossível devido a uma mundialização na qual os Estados de direito encontram-se paralisados por grandes dívidas acumuladas”, analisa.

Para o pensador, o neoliberalismo criou uma situação em que os pobres e excluídos tornaram-se incapazes de se expressar com as próprias vozes. As políticas transculturais são alternativas para se resolver esse impasse. Transculturalidade, pela perspectiva de Poulain, se contrapõe a interculturalidade. O segundo conceito prevê diálogo entre culturas diferentes, pressupondo a ideia de tolerância. A transculturalidade propõe uma contaminação bilateral entre culturas diferentes, num processo dialógico.

Uma política pública transcultural, portanto, depende de parcerias. “Para restabelecer a participação de todos na construção de um mundo que não seja apenas justo em nível social, mas que saiba também respeitar a capacidade de julgamento das diferentes culturas enquanto formas de vida”, afirma o professor.

1º OBSERVATÓRIO DO CIRCUITO LIBERDADE
“Políticas públicas (Trans) culturais e a arte como meio de transformação social”. Palestra inaugural com Jacques Poulain, Miguel Arroyo e Evandro Ouriques. Hoje, às 9h, na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Praça da Liberdade). Entrada franca.

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