Curadores do FIT-BH apontam as diretrizes para escolha dos grupos de teatro locais

Reunidos pelo Estado de Minas, Carloman Bonfim, Luiz Hippert e Sérgio Abritta comentam os desafios da próxima edição do festival marcada para maio

por Eduardo Tristão Girão 15/02/2016 08:42
Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Carloman Bonfim, Sergio Abritta e Luiz Hippert apostam na diversidade (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
Belo Horizonte tem produção teatral boa em qualidade e diversidade. O problema eterno é descobrir como levar o público ao teatro. A época é de efervescência, sobretudo graças aos coletivos que ocupam espaços como galpões, garagens e a própria rua. O dito “teatro comercial”, de linguagem convencional, ajuda a encorpar essa cena na cidade. Grupos que mantêm sede própria, por sua vez, desempenham importante papel de resistência. Por fim, dramaturgos muito bons têm sido revelados, o que estimula o desenvolvimento da crítica teatral local.


Estão aí algumas das opiniões dos novos curadores do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), reunidos pelo Estado de Minas para uma conversa sobre o evento, previsto para maio. No momento, Carloman Bonfim, Luiz Hippert e Sérgio Abritta estão no meio do processo de seleção das montagens locais que farão parte da grade de programação do evento, que tradicionalmente reúne também produções de outros estados e países.


Eles começaram a assistir às peças da capital mineira e região metropolitana no início do ano e têm até o fim do mês que vem para decidir o que entra ou não. Ao contrário das edições anteriores, não houve chamamento público para realizar essa seleção. O trio de curadores é que deverá encontrar produções em consonância com o tema do festival: resiliência. Ou seja, as produções devem ter a ver com a ideia de recuperação, de adaptação diante de situações desfavoráveis.

“Não basta que o espetáculo seja político. No meu entendimento, é resistência contra a opressão de grupos vulneráveis ou pressionados pelo capital, por exemplo. Há diversos temas que podem se adequar a isso, enfrentando questões como essas, que são prementes na nossa sociedade”, esclarece o dramaturgo, produtor e diretor Sérgio Abritta. E, nesse sentido, os três acreditam que o teatro leva certa vantagem em relação às demais formas de arte.

“Uma das principais armas do teatro é a presença, pois ele se dá no tête-à-tête, no olhar entre o espectador e o ator. Isso propõe uma vivência, você está em convívio com as pessoas. E, dependendo do que o teatro propõe, você pode se pronunciar e colocar sua opinião dentro do que está sendo discutido. Além disso, há a própria reflexão que todo espetáculo estimula no espectador”, comenta o ator, diretor e figurinista Carloman Bonfim.

Para o cronista, diretor e produtor cultural Luiz Hippert, o teatro é a única arte que permite esse tipo de comunicação. “Hoje se fala muito em interação, mas, no teatro, isso é mais quente”, resume. Na avaliação dele, a grande dificuldade do FIT será a de deixar espetáculos de fora entre opções aptas a compor a grade do festival. Abritta acrescenta: “Todo teatro é político, mesmo aquele que se diz não político. O grande momento de decisão é esse.”

DIFERENCIAL Outro critério que norteará as escolhas do trio será o de pinçar o que foge do lugar-comum – ou, nas palavras de Abritta, montagens que “o espectador não quer ver”. Ele mesmo explica: “São espetáculos absolutamente importantes, mas que são diferentes daquilo que é mostrado pela indústria cultural ao longo do ano. O FIT resgata essas peças e, como se trata de um grande evento, grande parte da população acaba tendo contato com elas”.

Já Hippert destaca o fato de o evento reunir produções de diferentes origens e servir como importante vitrine para as produções locais. “Às vezes, o público não deu muita atenção a um determinado espetáculo e acaba assistindo a ele durante o festival.” Carloman lembra que o FIT também atrai produtores e olheiros do setor vindos de outras regiões e países, transformando as apresentações em oportunidades valiosas para grupos locais. “E por mais que seja um grande evento, ainda há pessoas daqui que não conhecem esses grupos”, diz ele.

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