Geraldo Carneiro lança a antologia 'Subúrbios da galáxia'

Autor prepara quatro obras para o teatro e escreve letras para vários compositores

por Carolina Braga 13/02/2016 08:00
Antônio Guerreiro/Divulgação
(foto: Antônio Guerreiro/Divulgação)
Geraldo Carneiro diz ser um homem de paradoxos. Na semana passada, recebeu uma ligação de Martinho da Vila. Era a encomenda de uma canção sobre a relação entre o violão e o cavaquinho. No segundo seguinte em que conta isso, já se lembra de outro pedido: a ópera feita a pedido de Wagner Tiso. Também foram assim com novelas, musicais e, claro, no meio de tudo isso, há sempre lugar para a poesia.


“Encaro a arte como uma confluência. Sem preconceitos de gêneros ou de espaços previamente canonizados. Estou sempre em busca de uma coisa que ainda não fiz”, assegura o mineiro, radicado no Rio desde os 3 anos. Geraldo Carneiro lança pela Editora Nova Fronteira Suburbios da galáxia (antologia poética). Ele comemora 40 anos desse ofício.
Começou a se destacar desde que publicou o “poema que achei menos ruim, ou pelo menos razoável”. Geraldo Carneiro confessa que não costuma gostar dos próprios escritos, a não ser que seja referendado por outra pessoa. Assim, foi desta forma que Ana Paula Pedro selecionou os 65 poemas. Nenhum deles aparece datado, propositalmente.
Para o autor, a poesia é composta de recortes de pequenos acontecimentos biográficos. “Sob esse disfarce precário, quando leio, fico escandalizado e parto imediatamente para escrever outros. Poesia tem um negócio engraçado: no dia que não te pertence mais, passa a ser um acontecimento da linguagem”, define.


Geraldo Carneiro disse que sempre viveu de escrever poesia e a prática é despertada por ausências fundamentais de coisas ou pessoas. No intervalo de uma encomenda e outra, seja para teatro, televisão, cinema ou outra mídia, a poesia é a expressão imprescindível. “Surge muito por acaso, não tenho uma sistemática”, conta.
No livro, estão poemas dedicados a Tônia Carrero (Sobre o amor), Amora Mautner (À flor da fala), João Ubaldo Ribeiro (Manual dos cinquenta) e outros amigos. Para Geraldo Carneiro, a capacidade da poesia é cada vez mais valorizada no mundo. “A poesia é contra a sintaxe do poder. Naturalmente, sempre será marginal”, acredita.

PLANOS Para 2016, Carneiro tem agenda cheia. Além de se dedicar a um projeto na televisão, serão pelo menos quatro estreias teatrais com dramaturgia assinada por ele. Fez o libreto para Rio, o musical, com direção de Ulysses Cruz, mergulhou na obra do russo Antón Tchekov para escrever Uma peça para Tchékov, para a atriz Maria Padilha, e fez o mesmo, porém com os vilões de Shakespeare, para Marcelo Serrado. Além disso, o ator Tonico Pereira encena um de seus poemas, sob a direção de Bruce Gomlevsky.


Há dois anos, o escritor chegou a anunciar que trabalhava em um texto de musical sobre Hilda Furacão. O projeto não vingou. “Estamos em busca de uma forma brasileira de fazer musical. Acredito que já temos algumas novidades nesse campo”, apostou. Apesar de criativamente muito ativo, Carneiro não tem se animado muito a sair de casa. A última experiência foi com o musical Kiss me, Kate, protagonizado por José Mayer.


Na seara musical, Carneiro colaborou recentemente com Francis Hime e Danilo Caymmi. Com ele funciona assim: quando encomendam, ele faz. “Mas as encomendas têm raleado. Preciso conhecer compositores novos”, brinca. A todo momento da conversa, o poeta e letrista faz questão de salientar o quanto se sente seduzido por jogar em todas as posições. “Confesso que adoro quando uma linguagem invade o domínio da outra. Não tenho o menor respeito pelos limites dos gêneros”, reconhece.

 

 

Subúrbios da galáxia
(antologia poética)
Seleção e organização
de Ana Paula Pedro
De Geraldo Carneiro
Nova Fronteira,
128 páginas, R$ 24,90

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