Exposição sobre a Guerra da Tríplice Aliança lança luzes sobre o conflito ocorrido no Cone Sul

'150 anos da Guerra da Tríplice Aliança: Distintas visões' está em cartaz no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto

por Walter Sebastião 05/01/2016 08:00

Eduardo Baldizan/divulgação
La paraguaya, tela de Juan Manoel Blanes, de 1879, foi emprestada pelo Museo Nacional de Artes Visuales, Uruguai (foto: Eduardo Baldizan/divulgação)
Fotos, pinturas, objetos, réplicas de acampamentos militares, ilustrações de jornais, arquivo digital, cronologia e outros documentos foram selecionados para apresentar o mais famoso e controvertido dos conflitos bélicos nacionais: a Guerra da Tríplice Aliança, conhecida no Brasil como Guerra do Paraguai. O conflito, ocorrido entre 1864 e 1870, opôs em armas o Paraguai ao Brasil, Argentina e Uruguai. O evento deixou saldo dramático, como a morte de cerca de 90% da população masculina paraguaia, o que levou as mulheres a serem protagonistas da reconstrução (política, social e econômica) do país. Um bom panorama sobre a guerra, construído com peças de acervos de várias instituições, está sendo apresentado até 28 de fevereiro, no anexo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, sob o título 150 anos da Guerra da Tríplice Aliança: Distintas visões.

Foto de maio de 1865, com vista da Praça Tiradentes, mostrando a saída da 1ª Brigada Mineira de Ouro Preto rumo à região do conflito, recorda a participação de Minas Gerais na guerra. Engenheiros, formados na Escola de Minas, também foram convocados para realizar obras necessárias às operações militares. “Criamos exposição que ajuda a compreender melhor a guerra, os fatos e as consequências. Sem julgar o papel dos envolvidos. O que acaba trazendo revelações que não se estudam na escola”, observa Margareth Monteiro, uma das curadoras da mostra. Está na exposição, observa, fotos da agência uruguaia Bate&Cia, que registrou o conflito, fazendo-o um dos mais fotografados para sua época.

Outras peças, continua Margareth Monteiro, revelam o impacto dos acontecimentos sobre toda a sociedade. Exemplo, aponta, pode ser carta de mulheres paraguaias doando joias para financiar a guerra ou retratos de intelectuais fardados, como o engenheiro Alfredo d’Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay). O episódio, conta a curadora, deixou sequelas até hoje. “Se no Brasil a Guerra da Tríplice Aliança foi esquecida, no Paraguai, que mais experimentou a dor da guerra, os acontecimentos são parte do cotidiano e são recordados como se tivessem ocorrido ontem”, observa, após ter realizado viagens ao país vizinho para pesquisa. A mostra é resultado de acordo de cooperação com o Centro Cultural El Cabildo, do Paraguai.

A exposição integra programação do Museu da Inconfidência, que vem sendo desenvolvida há cerca de três anos, enfatizando aspectos temáticos, sejam históricos ou ligados ao cotidiano, apresentada a partir de acervos históricos. Nessa linha curatorial, a instituição já realizou mostras de relógios, leques, prataria, fotos antigas etc. Entre as propostas  com o mesmo perfil, previstas para 2016, conta Margareth Monteiro, está exposição relacionando a água e o ouro, mas chamando para a importância da água, elemento que cruza todas as fases de busca do metal, associado à programação socioambiental. Entre os itens que serão apresentados estão pepitas de ouro preto, com o metal escurecido pela presença de paladium, bauxita e ferro no solo de onde foi extraído.

Rui Mourão, diretor do museu, explica que esse caminho nasceu, primeiramente,  do desejo de qualificação artística e cultural das mostras do Museu da Inconfidência, sem abandonar consideração com as mostras de arte. “É contribuição no sentido de conscientizar o brasileiro sobre a conservação e a valorização dos nossos patrimônios. E que mostra a importância dos museus dedicados à história, que são muitos no Brasil”, detalha. Para Margareth Monteiro, chefe da Divisão Técnica e coordenadora do Anexo 1, trata-se de compreensão e entendimento mais ativo e em diálogo com a comunidade e o visitante do que pode ser um programa de mostras museológicas. Para ela, a mostra tem impacto sobre o público: escolas e universidade vêm inserindo as exposições no seu calendário de atividades.

SAIBA MAIS

Uma disputa comercial


A Guerra da Tríplice Aliança durou de dezembro de 1864 a março de 1870. Foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. De um lado, o Paraguai. De outro, Brasil, Argentina e Uruguai. Os interesses comerciais opuseram o país governado por Solano López, que controlava as terras na bacia do Rio Prata e, portanto, a saída fluvial ao Oceano Atlântico. O estopim para os combates foi a apreensão de um vapor brasileiro, em novembro de 1864. A intervenção armada brasileira ocorreu em território uruguaio, que coincidiu com o fim da guerra civil daquele país. Em dezembro de 1864, o Exército paraguaio invadiu a província de Mato Grosso e, no começo de 1865, Corrientes (Argentina) e o Rio Grande do Sul. Em 1º de maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai selam um acordo para enfrentar o Paraguai. Foram várias batalhas, sendo a mais destacada a do Riachuelo, na qual o Brasil impôs a primeira grande derrota ao inimigo. A guerra terminou em 1870 ,com a morte de Francisco Solano López, em Cerro Corá. Estima-se que 50 mil dos 150 mil soldados brasileiros envolvidos nas batalhas morreram. Assim como as interpretações da guerra, também são controvertidos as estatísticas sobre o número de mortos. Há quem estime que, somando civis e militares, só no Paraguai morreram 300 mil pessoas.

EXPOSIÇÃO

150 anos da Guerra da Tríplice Aliança: Distintas visões, curadoria de Margareth Monteiro, Janine Ojeda, Aldo Araújo e Eva Pereyra. Fotos, objetos, pinturas, documentos etc. Sala Manoel da Costa Athaide, Anexo 1 do Museu da Inconfidência. Rua Vereador Antônio Pereira, 33, Centro Histórico de Ouro Preto (MG). De terça a domingo, das 10h às 18h. Até 28 de fevereiro. Entrada franca.

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