Grupo Maria Cutia celebra o teatro de rua com montagem sobre decadência do rádio

Jovem companhia de Belo Horizonte reafirma em nova montagem as influências do Grupo Galpão. O elenco é o destaque da peça.

por Carolina Braga 11/10/2015 16:12

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Se há um grupo que pode ser considerado a cria mais fiel do legado que o Grupo Galpão oferece para o teatro de rua mineiro, o Maria Cutia é forte candidato. Ópera de sabão, novo espetáculo em cartaz na Praça Duque de Caxias até segunda (12), às 20h, comprova isso. A renovação da parceria com o diretor Eduardo Moreira, integrante do Galpão, reforça o desejo de alinhamento com a linguagem dos veteranos.

Os palcos são as praças; os atores são também cantores e instrumentistas; e a cada trabalho a música – autoral – ganha mais espaço. O interesse é claro pelo teatro popular e mambembe. Se a adaptação do texto de William Shakespeare, Como a gente gosta (2010), já sinalizava isso, Ópera de sabão, a quarta montagem da companhia, verticaliza a pesquisa com um olhar mais atento ao melodrama.

Tati Motta / Divulgação
'Ópera de sabão' é a quarta montagem do grupo Maria Cutia. Peça reafirma interesse pela pesquisa na linguagem do teatro de rua. (foto: Tati Motta / Divulgação)
O texto de Raysner de Paula conta sobre a Rádio Drama, emissora decadente que luta para não fechar as portas no final da década de 1950. Era a época em que radionovelas se viam ameaçadas pela chegada da televisão. Os patrocínios sumiam, a audiência também.

A escolha do tema dialoga com o nosso tempo. Hoje, é a televisão que se preocupa com o crescimento das plataformas de vídeo pela internet. Ou seja: mesmo “histórica”, Ópera de sabão não deixa de ser contemporânea, ainda que com bem elaborados figurinos e adereços de época (obra de Wanda Sgarbi, outra colaboradora do Galpão).

Camila Morena, Hugo da Silva, Leonardo Rocha, Mariana Arruda e Thales Brener Ventura demonstram sintonia. O jogo entre eles se destaca. Hugo da Silva é quem chama mais a atenção. Tem destreza como instrumentista e cantor, além de se mostrar confortável com a caricatura de seus personagens, seja na pele do conquistador Antônio Galante ou do cego Alfredo Garcia.

Ópera de sabão
se desenvolve em dois “tempos”. Há o momento em que o bastidor da rádio se descortina para o público, com a guerra de egos e seus interesses particulares. Paralelamente, os atores representam a novela radiofônica ao vivo. O cenário de William Rausch atende a essa demanda com eficiência e simplicidade. Dois tapumes no palco são responsáveis por descortinar as camadas ficcionais de Ópera de sabão.

Melhor ainda é a sacada sobre o sobe-desce do microfone. Esse elemento ícone da era do rádio também contribui para a demarcação dos “territórios ficcionais”. Sinaliza que naquele mesmo palco dividem o espaço tanto a ficção da peça como a da radionovela. A proposta é interessante, mas o trânsito entre essas dimensões ainda demanda ajuste de ritmo. Certamente, a rotina das apresentações vai tratar de equilibrar isso..

 

ÓPERA DE SABÃO
Com Grupo Maria Cutia. Praça Duque de Caxias, Santa Tereza. Até segunda-feira (dia 12), às 20h. Entrada franca. O grupo vai se apresentar também em Ibirité (dia 15), Sete Lagoas (dia 16), Sarzedo (dia 17) e Betim (dia 18).

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