Jovens com milhares de fãs na internet estão 'bombando' no mercado literário

Fenômeno nacional, Kéfera Buchmann, de 22 anos, estreia com 195 mil cópias de sua 'autobiografia'

por Carolina Braga 14/09/2015 09:14

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Marcello Zambrana/Light Press/divulgação
Kéfera Buchmann. Recepção de popstar na Bienal. Fã-clube: 5,7 milhões (YouTube); 4 milhões (Facebook); 3 milhões (Instagram) e 1,2 milhão (Twitter) (foto: Marcello Zambrana/Light Press/divulgação)
“Enxergo nela um lado meu que não consigo colocar para fora”, diz a estudante Raquel Azevedo, de 21 anos. “Gosto da autoestima dela e como trata todos à sua volta, tanto fãs quanto as pessoas com quem trabalha”, afirma Inara Alessandra Ramos Magalhães, de 16. “Gosto da Kéfera porque ela me inspira a ser uma pessoa mais feliz”, elogia Pedro Lúcio Paiva, de 14.

Há cinco anos, Kéfera Buchmann era apenas uma adolescente de classe média em Curitiba, assim como Raquel, Inara e Pedro. Quando terminou o ensino fundamental, ela garantiu o registro profissional como atriz e se jogou na internet. Criou o canal 5inco Minutos, no YouTube, e a vida mudou.

Atualmente, a moça, de 22 anos, atrai 5,7 milhões de pessoas na plataforma de vídeos e tem 4 milhões de fãs no Facebook, além de plateia expressiva no Instagram, no aplicativo Snapchat e por aí vai. Essa multidão virtual fez com que “tiozões” do tradicional mercado editorial crescessem o olho na garotada, investindo pesado em livros dos vloggers. Assim são conhecidas as figuras como Kéfera, que gravam vídeos e fazem o maior sucesso na rede.

Na 17ª Bienal Internacional do Livro, encerrada ontem no Rio de Janeiro, Kéfera lançou 'Muito mais que 5 minutos'. Estreou no universo literário graças à Editora Paralela, que integra o grupo Companhia das Letras. A tiragem inicial soma 75 mil exemplares, mas duas reimpressões já foram encomendadas, o que totaliza 195 mil volumes. Para ter ideia do que isso significa, basta comparar: o quarto livro da aclamada série 'Millennium' foi lançado com 50 mil cópias.

“Ainda não temos o retorno das vendas, mas já sabemos: pela velocidade da procura, é algo fora da curva”, informa o editor Bruno Porto, da Paralela. Partiu dele o convite a Kéfera para lançar o primeiro livro. Tudo começou quando o editor participou de um evento paulista com a presença da garota e de vários youtubers, como são conhecidos os produtores desse tipo de conteúdo. “Já havia um clima de popstar”, revela.

Entretanto, Porto explica que sucesso da web não é sinônimo de fenômeno nas livrarias. “É sempre um mistério. Até que ponto aqueles números da rede se convertem em vendas?”, diz. Mas Kéfera é um case. Em 24 horas de pré-venda, foram comercializados 14 mil exemplares de 'Muito mais que 5 minutos'.

Durante a bienal carioca, o fuzuê dos fãs da paranaense surpreendeu a Editora Paralela. Eram principalmente meninas na faixa dos 20 anos, enlouquecidas diante da vlogger. “Ela é uma mulher que se afirma, diz o que quer. Muito autêntica, não tem papas na língua”, resume Bruno Porto.

Gualter Naves/Light Press
Rafael Moreira. Fã-clube: 455 mil (YouTube); 158 mil (Facebook); 393 mil (Instagram) e 398 mil (Twitter) (foto: Gualter Naves/Light Press )
Kéfera Buchmann posta dois vídeos por semana, em média. Os temas são variados. O primeiro, publicado em junho de 2010, abordou a febre da vuvuzela, aquela corneta barulhenta usada por torcedores de futebol. Nos vídeos mais populares, fala sobre sexo, ciúmes, depilação, TPM e até foto 3x4. Recentemente, fez comentários sobre celulite, sonhos, solidão e... pum!
 
Em 'Muito mais que 5 minutos', Kéfera conta como foi sua vida até publicar o primeiro vídeo no YouTube. E já termina o livro prometendo escrever outro. “O primeiro vai até o início do canal. O próximo deve falar do fenômeno, como a vida dela mudou”, detalha Bruno Porto.

O sucesso gerou um mercado. A Paralela já está de olho em outros vlogueiros. No fim deste mês, será lançado 'Dia de beauté – Um guia de maquiagem para a vida real', de Victoria Ceridono, a Vic, conhecida pelos tutoriais de maquiagem. Em pré-venda na internet, o livro custa R$ 79,90.
 
Na base da gritaria
 
Gualter Naves/Light Press
Christian Figueiredo. Fã-clube: 3,2 milhões (YouTube); 600 mil (Facebook); 1,1 milhão (Instagram) e 1,6 milhão (Twitter) (foto: Gualter Naves/Light Press )
O vlogger Christian Figueiredo, de 21 anos, foi outro fenômeno da bienal literária carioca, onde lançou seu segundo livro, 'Eu fico loko 2 – As histórias que tive medo de contar' (Editora Novas Páginas). “É uma espécie de ‘proibidão’ do primeiro”, brinca ele. Foram dois dias de autógrafos e, pelos cálculos do rapaz, cerca de três mil pessoas o prestigiaram no Rio de Janeiro.

Coube ao próprio Christian, que há quatro anos publica vídeos no canal Eu Fico Loko, no YouTube, decidir o momento de cruzar a fronteira entre o mundo virtual e o mercado das letras. No ano passado, durante a Bienal do Livro de São Paulo, ele marcou o primeiro encontro com os editores da Novo Conceito. Queria apresentar seu projeto, seria uma típica reunião de negócios. Como sabe que executivos das mídias tradicionais têm “pé atrás” com novidades do universo digital, pediu ajuda aos fãs. Pura demonstração de força.

“Avisei no Instagram que estaria na bienal às 11h, a hora da reunião, só para fazer barulho. Cem pessoas apareceram, começaram a gritar e o cara já marcou almoço para o outro dia”, lembra. Na pré-venda, o primeiro volume de 'Eu fico loko' ganhou tiragem tímida: 15 mil exemplares. Em sete meses, vendeu 150 mil. “O mundo editorial acordou. Desde que publiquei o livro e fiz sucesso, todos os meus amigos vloggers foram procurados por editoras querendo lançá-los”, afirma.

Na bienal carioca, Rafael Moreira, com quase meio milhão de seguidores na rede, lançou 'Diário de um adolescente apaixonado'. Outros dois livros estão planejados. Para ele, na travessia do mundo digital para as livrarias, o mais difícil foi quebrar a resistência de quem decide. “É uma leitura mais suave. Pessoas mais velhas têm preconceito”, conclui.

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