Lino de Albergaria escolhe Belo Horizonte como cenário para dois romances

Os 31 dias e Um bailarino holandês são ambientados na capital mineira

por André Di Bernardi Batista Mendes 22/08/2015 00:13

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Marcelo Rosa/Divulgação
(foto: Marcelo Rosa/Divulgação)
Conhecido por seu trabalho com a literatura juvenil – basta dizer que tem publicado cerca de 80 títulos voltados para este público –, o escritor Lino de Albergaria lança hoje, na Livraria Scriptum, dois novos romances, Os 31 dias e Um bailarino holandês, ambos publicados pela Editora Scriptum. O evento marca os 30 anos dedicados à literatura pelo artista mineiro. Lino já havia republicado pela mesma editora Em nome do filho, obra finalista da extinta Bienal Neslté de Literatura, e A estação das chuvas, obra premiada no Concurso Literário do Estado do Paraná e finalista do Prêmio Jabuti no ano de sua primeira edição.

Lino de Albergaria, em seu novo périplo, escolheu Belo Horizonte como cenário perfeito para os seus livros. Em 31 dias, ele passeia pelas ruas do estilo como um mestre, ele escolhe certo as palavras. Inspirada por Duniazade, irmã mais jovem e pouco conhecida de Sherazade, ambas personagens de As mil e uma noites, uma mulher decide escrever a própria história, na qual vê pontos de semelhanças com a narrativa oriental. Assim, durante 31 dias, recolhida em uma casa de campo, mergulha em sua tarefa, escondendo-se sob uma personalidade falsa e criando um cenário e uma vida virtuais para disfarçar suas próprias memórias.

Percorrendo um itinerário diferente, imaginário das ruas de Belo Horizonte, a personagem recorre ao fingimento para disfarçar a timidez e os momentos conflituosos vividos na juventude. Não fugindo da constatação de sua forte sexualidade, vai recompondo um espelho diante do qual, aos poucos, decide se mostrar.

Em que medida a cidade interfere nesse processo, que envolve luz e sombra, terror e encantamento? Belo Horizonte carrega doses dessas mesmas sombras, carrega doses excessivas de sobras, que o olhar do escritor capta como prego diante de um imã imenso. A carga dramática disso tudo serve de combustível para o leitor embarcar numa viagem cheia de altos e baixos, uma viagem feita de carrosséis indecifráveis. Mas isso em nada interfere para o ruim, pelo contrário.

Mas em que medida a cidade interfere? Trata-se de uma cidade que não canta, como tantas outras o fazem de forma ostensiva. Belo Horizonte é uma urbe propícia para o mistério, e para o desencanto. E um tanto bom de discrição só pode fazer bem para esse caldo grosso de vertigens, dentro de desacertos e carros, e prédios, e praças. Lino tenta, com seus livros, uma espécie de diálogo. Ele utiliza de forma precisa os recurso que possui, num fazer literário requintado, tudo entrelaçado num jogo que envolve drama e erotismo, tudo na dose exata. Palavras foram feitas para emocionar.

LIVREIRO


Já Um bailarino holandês se passa em um dos principais pontos turísticos de Belo Horizonte, o Palácio das Artes. Na livraria, no subsolo do edifício, um jovem vendedor observa um leitor folheando um livro. Trata-se de um álbum de fotografias da cidade. Intrigado com a cena, o livreiro começa mentalmente a criar uma ficção protagonizada por seu cliente, que esquece no local um bilhete para um espetáculo de dança. O bom gosto e, principalmente, o talento de Lino de Albergaria descortina a amplia significados profundos. Existem palavras revestidas de desejo, solidão, fúria e encantamento. Palavras foram feitas para morder. Lino fala de uma cidade que guarda pessoas, pessoas que guardam idiossincrasias, particularidades, sonhos, que é o combustível para encontros possíveis dentro e fora de almas abstratas, para dentro dos livros falíveis.

Toda cidade guarda verdades provisórias, questionáveis. Os personagens de Lino de Albergaria também são assim. Somos, a todo momento, crivados de esperanças e, mais que tudo, incertezas. A boa literatura incomoda na medida que redimensiona para as alturas estas pontas afiadas. Lino nos oferece um presente inusitado, uma espécie de quebra-cabeça feito de vidro, ele nos empresta uma espécie de espelho que reflete vias de labirintos.

Porque foi na cidade que deram de crescer túneis e flores que gostam de jardins. Toda cidade guarda uma usina, toda esquina guarda e amplia a dinâmica de tantos silêncios. A cidade de Lino é como um gigante delicado que aceita, que acata e sobretudo acredita e encontra beleza em ruínas e desmandos. O escritor, diante de tanto, é aquele que inventa pequenos milagres. Incêndios. Toda cidade ouve, todos os dias, um último tango. Belo Horizonte é meio isso, uma pulsação que só conhece os inversos.
Lino de Albergaria é doutor em Literatura pela PUC Minas e eventualmente realiza traduções de livros franceses, além de fazer adaptações de clássicos. Nasceu e vive hoje em Belo Horizonte, depois de passagens por Paris, São Paulo e Rio de Janeiro.

Manhã de autógrafos

Hoje, às 10h30, na Livraria Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, (31) 3223-1789.

OS 31 DIAS
De Lino de Albergaria
Editora Scriptum
208 páginas, R$ 40

UM BAILARINO HOLANDÊS

De Lino de Albergaria
Editora Scriptum
144 páginas, R$ 35

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