Marky Ramone revela bastidores de uma das principais bandas do punk rock

Em seu livro, o baterista conta um pedaço da história do rock e da cultura do século 20. Divertido, ele sabe entreter o leitor

por 25/07/2015 00:13

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AFP PHOTO/Guillermo Legaria - 20/5/11
Músico Marky Ramone revela como tentou pôr um pouco de ordem no caótico dia a dia de sua banda (foto: AFP PHOTO/Guillermo Legaria - 20/5/11)
Autobiografias costumam se perder na complacência de seus autores ou por se ater ao lado oficial dos fatos. Porém, quando escritas por um punk, tendem a ser bem mais verdadeiras. Assim ocorre com Punk rock blitzkrieg – Minha vida como um Ramone, do baterista Marky Ramone, que contou com a colaboração do escritor Rich Herschlag.

 

Não que o músico admita muitos erros além da tradicional ida ao inferno por conta do álcool, tão comum no meio artístico. Mas as boas histórias de uma das mais importantes bandas do século 20, contadas por quem as protagonizou ou foi testemunha, valem a leitura do catatau – são 438 páginas e nenhuma foto, a não ser na capa e contracapa.


Se a história da banda nova-iorquina criadora do estilo cru e contestador já é conhecida de outras publicações, bem como a do próprio movimento punk, desta vez há algumas novidades. Estão lá os bastidores das gravações de alguns dos discos dos Ramones, como Road to ruin e End of the century, e o dia a dia das turnês pelos EUA, Europa e América do Sul, muitas vezes dentro de uma van apertada, com regras rígidas e lugares marcados, imposições do “ditador” Johnny Ramone. Os demais companheiros de banda também merecem críticas, seja por não tomar banho e ser portador de TOC (caso de Joey Ramone), seja pelo consumo excessivo de drogas ou pelas atitudes intempestivas (caso de Dee Dee Ramone) – o baixista, aliás, é responsável por algumas das melhores passagens do livro.


O grande pecado da publicação é justamente tentar mostrar Marky como um cara equilibrado tentando dar alguma ordem ao caos ao seu redor. O menino nascido e (mal) criado no Brooklin era um delinquente em potencial. Mas, ao crescer, enquanto os demais são babacas uns com os outros, ele se dá bem com todo mundo, procura entender e relevar os defeitos de cada um, fica longe de confusões e é capaz de jogar dinheiro pela janela só para ver um bando de engravatados de Wall Street se rebaixando para pegá-lo. Se os amigos não respeitam as namoradas, ele está com a mesma mulher desde a adolescência. Se a maioria foi fundo nas drogas, ele só gostava de beber e fumar um baseado de vez em quando. Coisas como comer ração de cachorro e trabalhar de bike boy só reforçam a imagem de bom moço punk, que não nega ser capitalista, mas faz questão de se mostrar “de esquerda”.

HISTÓRIA Por outro lado, Marky Ramone, ou Marc Bell, mostra-se excelente observador. A descrição de lugares e pessoas é bacana. Há também o registro de fatos históricos como os assassinatos de John Kennedy e Martin Luther King sob a ótica de quem estava crescendo e tentando entender o mundo. Ele relata ainda sua interpretação de cenários econômicos, como a recessão nos EUA e Inglaterra nos anos 1970, que ajudaram a impulsionar o punk dos dois lados do Atlântico. Os concertos na Argentina e no Brasil merecem destaque. Afinal, não há fãs tão devotados aos Ramones em nenhum outro lugar do mundo.


Infelizmente, na tradução alguns trocadilhos envolvendo nomes de álbuns e músicas se perdem. Mas mesmo assim é possível ver que estão bem colocados e ajudam a tornar a leitura muito divertida. Sugiro ao leitor: ouça algumas canções dos Ramones enquanto lê. Impossível não ficar com hey, ho, let’s go e gabba,
gabba, hey na cabeça.

 

 

z  MINHA VIDA COMO UM RAMONE
De Marky Ramone
Editora Planeta
448 páginas, R$ 54,90

 

 

    PARA OUVIR

    l Richard Hell & The Voidoids 
    Blank generation

    l Ramones – Road to ruin, End of the
     century, Loco live, Brain drain
    e Mondo bizarro

    l Marky Ramone & The Intruders
    Don’t blame me

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