Israelense Etgar Keret resgata sete anos de textos em livro

Resultado de compilação é 'Sete anos bons', lançado pela editora Rocco

por Ubiratan Brasil 19/07/2015 09:00

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WOJTEK RADWANSKI/AFP PHOTO
(foto: WOJTEK RADWANSKI/AFP PHOTO)
São Paulo – O escritor israelense Etgar Keret ganhou notoriedade por conta de suas histórias curtas – bem-humoradas, com forte componente humanístico, foram classificadas como geniais pelo The New York Times. Também ganharam fãs ilustres, como o também autor Jonathan Safran Foer, para quem as narrativas de Keret são engraçadas, assustadoras e emocionantes.

Confortável na ficção, Keret, que participou da Flip do ano passado, não podia dar as costas para a realidade que o cerca, especialmente por viver em Israel. Assim, reuniu textos escritos entre 2005 e 2012 para formar 'Sete anos bons', lançado pela Rocco, que também editou um de seus títulos mais queridos, De repente, Uma batida na porta.

O período de sete anos não é aleatório – foi durante esse tempo que Keret passou por dois fatos marcantes, o nascimento do primeiro filho e a morte do pai, depois de uma dolorosa luta contra o câncer. E, no meio do caminho, enfrentou ainda um aborto sofrido pela mulher. “Foram sete anos em que vivi entre o amor e a dor, época em que tive o privilégio de ser o pai do meu filho e o filho do meu pai”, disse Keret de Tel-Aviv, onde mora.

O escritor relaciona o período com um conceito bíblico, no qual Yossef, que recebeu o dom de profetizar por meio do sonho, dizia que sete anos bons seriam representados por sete vacas gordas e generosas espigas de milho. Assim, o primeiro texto, datado de 2005, é justamente o que narra o nascimento do menino, fato que convenceu Keret a se aventurar pela não ficção. “Nunca mantive um diário e escrevi aleatoriamente esses textos. Foi somente quando a saúde do meu pai se agravou é que senti a necessidade de organizá-los em livro.”

LINGUAGEM

Foi uma experiência nova, admite Keret – habituado a trabalhar com enredos cujo desfecho surge ao longo da escrita, agora a experiência estava justamente na linguagem, pois o assunto já estava definido. “Foi curioso, pois descobri uma emoção diferente ao manusear as palavras – havia, ao mesmo tempo, um senso de responsabilidade e uma possibilidade de brincar com as frases.”

De fato, uma das grandes qualidades de Keret é a fluência de suas narrativas, a forma como os diálogos se encaixam com as descrições e criam um ritmo agradável. “Gosto de escrever na primeira pessoa porque facilita minha identificação com os personagens. Criar uma história me estimula a ver imagens, algo cinematográfico.”

Aos 47 anos, Keret é considerado o principal nome da moderna literatura israelense. E, entre os vários elogios recebidos – o britânico Salman Rushdie, por exemplo, encanta-se com seu brilhantismo, “diferente de qualquer outro que eu conheça” –, o que ele prefere é o fato de ser o autor cuja obra é a mais furtada nas bibliotecas públicas de seu país.

O brilhantismo referido por Rushdie está em combinar em perfeito equilíbrio situações estranhas, surreais, vividas por personagens comuns, familiares. A união entre o extraordinário e o normal resulta em textos que divertem, mas incomodam, especialmente pela sua enorme força humanista.

SENTIMENTO

“A diferença entre o real e o surreal só existe no plano objetivo”, comenta. “No subjetivo, a diferenciação importante seria entre o que é verdadeiro e o que é falso. A nossa experiência subjetiva pode ser surreal e verdadeira da mesma forma que muitas vezes pode ser realista e completamente falsa. Escrevo histórias subjetivas – não sei como fazer de forma objetiva – e, uma vez prontas, essas histórias servem apenas para representar meu pensamento e meus sentimentos, sem que sejam cientificamente corretas.”

Discussões à parte, Keret sabe do efeito provocado pela sua escrita fluente e estilosa. É o que sempre o convenceu, por exemplo, a produzir apenas textos fictícios. Segundo sua teoria, um escritor consegue expressar seus sentimentos por outras pessoas sem que isso seja facilmente identificável em textos de ficção. “As pessoas não conseguem se enxergar, mesmo nas entrelinhas”, conta o escritor, que, justamente por isso, decidiu não publicar ainda 'Sete anos bons' em Israel – ele teme magoar pessoas citadas nos contos, especialmente os familiares. “Por enquanto, quero apenas que sejam lidos por desconhecidos.”

A experiência, portanto, parece ter sido rara: “Com exceção de textos esporádicos para jornais e revistas, não me vejo escrevendo outro livro de não ficção”, admite ele, que já se exercitou em outra área artística – a do cinema. Keret escreveu e dirigiu (ao lado da mulher, Shira Geffen, também escritora) o filme Meduzot (Água-viva), que foi apresentado no Festival de Cannes, em 2007, quando recebeu o Caméra d’Or, dedicado aos melhores estreantes em longa-metragem. Keret também variou o estilo e, em 2005, publicou o álbum infantil Pizzeria Kamikaze, em elogiada parceria com o ilustrador Asaf Hanuka.

 

'SETE ANOS BONS'


. De Etgar Keret
. Tradução: Maira Parula
. Editora: Rocco, 192 págs.
. R$ 24,50 papel, R$ 16 e-book

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