As antigas formas de impressão, como aponta Ana Utsch, coordenadora do projeto do museu, ainda estão na memória dos mais velhos, mas são praticamente desconhecidas dos mais jovens. A tipografia, recorda a professora, é um desdobramento direto da impressão com tipos móveis, invento atribuído a Johannes Gutemberg (1398-1468). Foi com este processo que, do século 15 ao início do século 20 fez-se uma revolução nos modos de produção e difusão da palavra escrita, democratizando o acesso a todo tipo de informação e conhecimento.
“O impresso é tão banal no nosso cotidiano que pouco paramos para pensar que ele tem uma história”, observa Ana Utsch. “Com o museu, os processos gráficos, a memória e o saber dos profissionais que aturam na tipografia, o impacto do impresso sobre a cultura vão poder ser conhecidos e reconhecidos como bens culturais, patrimônio imaterial e material.” A nova instituição tem uma causa: quer que a expressão patrimônio gráfico entre no vocabulário como forma de afirmar a necessidade de atenção, pesquisa e apoio à cultura do impresso.
“Museus são locais que afirmam o estatuto cultural de certos objetos e da presença humana que eles evocam, dando a esses aspectos outra dimensão”, argumenta, lembrando que museu não é só de arte.
O acervo do Museu vai ser composto por ex-votos dos séculos 17 e 18, da coleção Márcia Moura e Castro; uma biblioteca com cerca de três mil volumes sobre Congonhas, devoção, arte e fé e, ainda em negociação, uma coleção de arte sacra da arquidiocese de Mariana que está sob a guarda da basílica do Senhor Bom Jesus Matozinho. “Vamos ressignificar uma história de fé, devoção e arte em Congonhas”, afirma Reis. O trabalho se articula com a requalificação de outros museus da cidade.
“Se a mineração em Congonhas se esgota em 30 anos, o turismo é uma perspetiva real de futuro”, diz o presidente da Fundação. A prova, aponta, é o Jubileu, peregrinação religiosa, realizada em setembro, que vem desde o século 19 e leva a Congonhas, segundo estima, cerca de 200 mil visitantes. “Quando instalamos um equipamento cultural deste porte, estamos trabalhando para dar ao visitante condições de entender que ele está em um lugar especial, um dos 12, no Brasil, que são patrimônio mundial”, explica.
CAETÉ Mais de mil imagens de Nossa Senhora, mostrando as designações que a mãe de Jesus recebeu em várias partes do mundo, coleção organizada por Humberto Matarelli, vai se tornar acervo do Museu Maria Regina Mundi, previsto para ser criado no alto da serra da Piedade, em Caeté. É um projeto da Arquidiocese de Belo Horizonte, que cultiva o sonho de inaugurar a instituição em 2017, por ocasião das comemorações dos 250 anos de peregrinação ao local. O convite ao papa Francisco para que venha para a inauguração (ele estará em visita ao Brasil na época) já foi enviado.
O projeto, que está em fase de definição arquitetônica (com Gustavo Penna) e museológica (com apoio de Ângela Gutierrez), prevê, também espaço musical, voltado para canções e composições marianas sacras, clássicas e populares. E, ainda, biblioteca digital, além de ampla informações sobre o tema Maria e a Bíblia, com reprodução de ilustrações, pinturas, mosaicos, esculturas etc.
“Vai ser um museu-escola sobre uma figura feminina especial, exemplar como mãe, amiga e discípula de Jesus”, explica Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte. “O museu contempla desde o devocional mariano até aspectos teológicos passando por consideração estética. Um local com perfil assim, que soma fé, teologia e arte não deixa ninguém de fora, independentemente de classe social ou formação intelectual”, enfatiza.
O museu na serra da Piedade não é a única empreitada da arquidiocese no setor. O projeto da catedral Cristo Rei, a ser erguida no bairro Juliana, região de Venda Nova, prevê rede de cultura com cinco museus: de arte sacra, da liturgia, da construção da catedral, de Minas Negra Brasil e da música católica barroca mineira. “Cuidar da cultura nascida da evangelização tem força evangelizadora”, afirma Dom Walmor, defendendo ainda a necessidade de se afirmar a cultura da paz. O local, explica, serve ainda para sanar o problema de falta de espaço para o acervo da arquidiocese.
Museu Tipografia Pão de Santo Antônio
Inauguração, neste sábado, a partir das 10h. Praça Professor José Augusto Neves, 171, Bairro Rio Grande, (38) 3531-3861,
Diamantina. De quarta a domingo, das 10h às 13h, e das 14h às 18h. Acervo: jornais, equipamentos tipográficos de impressão, como cavaletes tipográficos de madeira, tipos, ornamentos de chumbo, clichês etc.