Marcio Abreu fala sobre início da carreira

Diretor, que dirigirá o novo espetáculo do Grupo Galpão, conta que o teatro é tão natural em sua vida que nem chegou a ser uma escolha

por Carolina Braga 05/06/2015 09:28

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Marcelo Almeida/DIVULGAÇÃO
(foto: Marcelo Almeida/DIVULGAÇÃO)
A época era efervescente. Final dos anos 1980, a cultura de Curitiba (PR) convivia com as ideias de Paulo Leminski, com grandes produções no Teatro Guaíra, com uma cena underground emergente, assim como com a literatura marginal. Foi nesse cenário borbulhante que desembarcou por lá, vindo do Rio de Janeiro, um jovem de 16 anos, curiosamente, sem dúvidas sobre o futuro que queria construir.


“O teatro nunca foi para mim uma decisão. Nunca tive que parar para pensar e escolher. Não foi um dilema, mas um fluxo que correspondeu ao meu movimento de vida”, diz Marcio Abreu. Aos 44 anos, o ator, dramaturgo, diretor, fundador da Cia. Brasileira de Teatro e um apaixonado por cidades terá encontros mais frequentes com o cenário cultural de Belo Horizonte.

Abreu será o diretor do novo espetáculo do Grupo Galpão. Sobre isso, ele ainda tem pouco a dizer. Somente que a estreia está prevista para o ano que vem. “Vamos fazer sem pressa”, avisa. É o feitio dele. Não lhe interessa fazer peças por fazer. Ele acredita que somente se o trabalho ganhar dimensão em sua própria vida poderá reverberar na dos outros.

Tem sido assim desde que Abreu chegou com a família a Curitiba. A mudança para o Paraná foi graças a uma transferência do pai. Ao chegar, já com algumas experiências teatrais, foi-se deixando contaminar pela cena da cidade. “Já fui meio fazendo tudo, escrevendo, dirigindo e atuando”, conta. Entrou no Lusco Fusco, grupo marginal da cena oitentista paranaense. Aprendeu muito com Luiz Carlos Teixeira da Silva. Logo fundou o grupo Resistência, e com ele, foram dez anos de trabalho e formação. O aprendizado do palco despertou ainda mais a necessidade de pesquisa.

Abreu entrou para a Escola Internacional de Teatro da América Latina e Caribe. Com sede na Cidade do México, mas fundada em Cuba nos anos 1980, tinha um caráter de itinerância. Seus “alunos” percorriam diversos países do continente em busca de trocas – e deslocamentos – teatrais. O nomadismo proporcionou a ele momentos inesquecíveis na Nicarágua, no Chile, na Argentina e também aqui no Brasil.

Em 1999, com Giovana Soar, Nadja Naira e Cassia Damasceno, Abreu criou a Cia. Brasileira de Teatro, espaço em que passou a desenvolver suas pesquisas. Aliás, ele se diz um obcecado por elas. Quando viaja, mantém o olhar atento para a observação de tudo que o cerca. Ao ler, abre-se aos campos da filosofia, das artes visuais, das ciências, da história, da antropologia.

ESCOLHAS
“O prazer do estudo me leva a determinadas escolhas”, diz. Não que a decisão de fazer ou não determinado espetáculo seja algo totalmente racional. “Quase nunca penso. Um trabalho vai levando a outro, uma pesquisa vai levando a outra, e isso vai criando necessidades artísticas.” O próximo espetáculo da Cia. Brasileira, por exemplo, batizado de 'Projeto Brasil', tem estreia prevista para setembro e começou a ser desenvolvido há pelo menos dois anos.

A origem remonta a 'Taubira' (2013), performance de 15 minutos a partir dos discursos de Christiane 'Taubira' sobre a aprovação da lei para a união de casais de mesmo sexo e a adoção. Taubira foi apresentado em BH, no Festival de Cenas Curtas, e arrebatou seu público. “Foi importante para a gente artisticamente, essa cena faz parte da pesquisa”, conta.

Abreu diz ter necessidade de escrever na mesma medida que deseja conhecer novos textos. Ele compreende a dramaturgia como algo que vai além daquilo que foi pensado e escrito por um autor. “Esse pensamento expandido me coloca em situação de lidar com outros autores. É bastante importante, mas não fico buscando.” Mais uma vez, ele reafirma sua crença no fluxo – agora das ideias. “E eu me sinto estimulado a me relacionar com elas.”

Se em 'Vida' (2010) ele mesmo convoca um diálogo com Paulo Leminski, 'Esta criança' (2013) é resposta ao estímulo provocado pela obra de Joël Pommerat, dramaturgo e diretor francês, hoje uma das principais referências do teatro em seu país. “Convivo com essa dramaturgia desde então e, nesse momento da companhia, da minha vida artística, achei importante me relacionar”, afirma. As questões que procura responder são as “obsessões de sempre”: “Como mais uma vez encontrar com o público e potencializar essa relação? De que maneira falar? Como provocar uma escuta?”.

NOS PALCOS
Confira algumas das principais montagens da carreira de Marcio Abreu


>>  'A vida é cheia de som e fúria', coprodução da com a Sutil Cia de Teatro, trabalho como ator (2000);
>>  'Volta ao dia…', texto e direção (2002);
>>  'Daqui a duzentos anos', textos de Anton Tchekhov, dramaturgia e direção, com ACT e Luis Melo (2004/2005);
>>  'Apenas o fim do mundo', de Jean-Luc Lagarce, direção (2005/2006);
>>  'Polifonias', dramaturgia e direção (2006);
>>  'Oxigênio', de Ivan Viripaev, adaptação e direção (2010);

>>  'Vida', texto e direção (2010);
>>  'Isso te interessa?', de Noëlle Renaude, tradução, adaptação e direção (2011);
>>  'Esta criança', coprodução com a atriz Renata Sorrah, direção (2013);
>>  'Enquanto estamos aqui', solo com a coreógrafa e dançarina Marcia Rubin, direção e roteiro (2012);
>>  'Nômades', com as atrizes Andrea Beltrão, Mariana Lima e Mallu Gali, roteiro e direção (2014);
>>  'Krum', segunda parceria da Cia Brasileira com a atriz Renata Sorrah, direção (2015).

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