Chica da Silva inspira espetáculo de dança

Peça, em cartaz no Rio de Janeiro, tem datas marcadas em cidades mineiras

por Estado de Minas 29/05/2015 13:34

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Cláudia Ferreira/Divulgação
Cena de 'Chica', que está em cartaz no Rio de Janeiro e tem temporada prevista em BH e Diamantina (foto: Cláudia Ferreira/Divulgação)
Ao tomar conhecimento, em março de 2013, via internet, do polêmico trote aplicado por veteranos em calouros da Faculdade de Direito da UFMG, no qual uma jovem, com o corpo tingido de preto, era retratada como “Caloura Chica da Silva”, a coreógrafa carioca Carmen Luz, da Cia. Étnica de Dança, não teve dúvida em criar 'Chica'. O espetáculo, que está em cartaz no Rio de Janeiro, deverá passar em breve por Belo Horizonte e por Diamantina, a segunda cidade onde viveu a mais famosa escrava brasileira.

Com sua trajetória já retratada na literatura, no teatro e no cinema, Chica da Silva agora é o tema de um espetáculo de dança. “Todas nós, negras, mulatas e afrodescendentes, quando punidas, esculachadas e assassinadas, somos sempre Chica da Silva”, escreve Carmen no programa do espetáculo, lembrando que, hoje, ‘Chica’ está na luta diária, nas favelas, nas repartições públicas e privadas, em cargos de comando ou não. “Hoje nós compramos cartas de alforria, estamos sempre em situações de risco”, afirma Carmen Luz.

Para conceber o espetáculo, cujo projeto ainda prevê a realização de um documentário e de uma videoinstalação (esta na Casa de Chica da Silva, em Diamantina), a coreógrafa diz ter ido para as ruas pesquisar o gestual do dia a dia da mulher brasileira. Ela observa que, mesmo as oriundas do campo adquirem uma outra maneira de gestualizar ao se transferir para a cidade. Carmen conta que, na pesquisa, observou muito, também, a ousadia de transformistas e travestis, que, em sua opinião, têm tudo a ver com Chica da Silva.

Livros da historiadora mineira Júnia Furtado e da norte-americana Liv Sovik, radicada no Rio, também serviram de fonte para a pesquisa da coreógrafa, que vê Chica como símbolo de ousadia. “Trata-se de uma mulher que soube buscar e cuidar de sua própria liberdade. Não consigo pensar em Chica como um apêndice de João Fernandes”, diz, a respeito do contratador de diamantes que se apaixonou pela então ex-escrava.

Além da utilização de vídeos de arte, ela também faz com que 'Chica' interaja com a poesia. Em cena, sete bailarinos: cinco mulheres e dois homens, que dançam ao som de trilha sonora original de Rodrigo Brayner. O espetáculo foi contemplado com o Prêmio Afro 2014. Para Carmen Luz, a escrava é um grande fantasma, um espectro, que ela tenta ressignificar para que, em algum momento, o público se identifique e se afaste do mito. “Sempre em situação de risco, Chica da Silva soube se transformar em vida plena. Exatamente o que nós, mulheres, buscamos o tempo inteiro: a vida.” (AM).

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