Companhia Théâtre de la Ville faz duas sessões em BH de 'O rinoceronte'

Diretor diz que releitura do texto de Ionesco acentua aspecto da ameaça à liberdade individual

por Carolina Braga 22/05/2015 09:41

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Jean-Louis Fernandez/DIVULGAÇÃO
Elenco do Théâtre de la Ville participa da segunda montagem do texto de Ionesco pelo diretor franco-português Emmanuel Demarcy-Mota (foto: Jean-Louis Fernandez/DIVULGAÇÃO)
O diretor franco-português Emmanuel Demarcy-Mota não só é um apaixonado pela obra de Eugène Ionesco (1909-1994) como pode ser considerado especialista em 'O rinoceronte'. O texto escrito em 1959 já foi visitado duas vezes pelo encenador. É a segunda montagem, feita com a companhia residente do Théâtre de la Ville de Paris, que chega a Belo Horizonte para duas apresentações no Cine Theatro Brasil Vallourec, na sexta e sábado.

É raro que espetáculos desse porte passem pela cidade fora de um contexto de festival – e interessante que isso ocorra. Em meio a mostras, muitas vezes projetos estéticos diferenciados podem passar despercebidos. As comparações na programação são inevitáveis e, geralmente, cruéis. A proposta de Emmanuel Demarcy-Mota à frente do Théâtre de la Ville é a junção da fisicalidade com a força das palavras do dramaturgo. “É um teatro físico contemporâneo, próximo de nós e não só um teatro de linguagem”, define.

'O rinoceronte' estreou em 1960. A fábula se passa em uma pequena comunidade onde, inexplicavelmente, os moradores vão se transformando nesse animal de grande porte. Apenas um cidadão, Bérenger, consegue ficar imune. Para o diretor, revisitar a trama hoje significa levar ao palco um teatro que trata da condição humana e que fala de fragilidades que não se perderam com o tempo.

Como a peça foi escrita depois da Segunda Guerra Mundial, descreve em metáforas a mutação que a sociedade daquela época enfrentou. Abordada agora, a temática se volta mais às contaminações a que o homem está sujeito. “São várias, a contaminação pela linguagem, por exemplo. As pessoas repetem as mesmas ideias dos outros e perdem a originalidade”, afirma.

SINTONIA  O elenco desta montagem é o mesmo que trabalhou com Emmanuel em 2004, na primeira versão que ele fez para o clássico. O grupo trabalha junto há pelo menos 15 anos. “São atores que gostam do encontro”, diz. O protagonista Bérenger é papel de Serge Maggiani. Além dele, estão em cena outros 12 intérpretes.

Para Emmanuel, em suas entrelinhas 'O rinoceronte' fala sobre a liberdade individual. “Como a pessoa pode resistir a grandes modas: políticas, econômicas, midiáticas”, diz. Como o texto pretende propor uma reflexão sobre o ser humano, tem uma base filosófica robusta. “É uma peça importante sobre o futuro humano. Ela nos faz pensar no futuro do homem e na capacidade de resistência”, afirma o diretor.

A montagem do Théâtre de la Ville já percorreu vários continentes. No próximo semestre, tem turnê marcada para o Japão. Em Belo Horizonte, a peça será legendada. “Tenho a expectativa de que será um belo encontro com o público daí. Estou curioso, porque é uma peça que tem o lado da tragédia humana e também um lado cômico”, diz.

O rinoceronte
Sexta e sábado, 21h. Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec. Praça 7, Centro, (31) 3201-5211. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

SAIBA MAIS:
IONESCO

Eugène Ionesco nasceu na Romênia, em 1909 mas foi criado na França. Em 1934, publicou Nu!, uma coletânea de artigos e textos que criticava muitos escritores e poetas romenos e que escandalizou o meio literário oficial. Em 1948, escreveu a peça A cantora careca, uma de suas obras mais conhecidas. É classificado como um dos autores do chamado teatro do absurdo, apesar de o próprio descrever a obra como teatro insólito. Morreu aos 81 anos, em sua residência, e foi enterrado no cemitério de Montparnasse.

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