Livro 'A alma do negócio', de Alberto Villas, recapitula história da propaganda no país

Na publicação, autor descortina, além das técnicas para vender produtos, a atmosfera cultural e política do país à época

por Eduardo Tristão Girão 18/05/2015 08:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
REPRODUÇÃO DO LIVRO A ALMA DO NEGÓCIO
(foto: REPRODUÇÃO DO LIVRO A ALMA DO NEGÓCIO)
“Economize sua mulher: leve portáteis GE para casa.” “Geladeira é que nem marido, escolhendo bem dura a vida inteira.” Essas são apenas duas das muitas pérolas publicitárias brasileiras que recheiam o recém-lançado livro 'A alma do negócio' (Globo Estilo), escrito pelo jornalista belo-horizontino Alberto Villas, que recorreu a seu impressionante acervo próprio para mostrar como eram as propagandas no país entres as décadas de 1950 e 1970. De quebra, evidencia como a vida (hábitos, conceitos etc.) mudou de lá pra cá.


O lançamento da obra,nesta terça-feira à noite, será no Museu das Minas e do Metal, em Belo Horizonte, com a presença do autor, que conversará com o público no projeto Sempre um Papo. A julgar pela leveza do texto, quantidade de material reunido e, claro, pela memória de Villas, tanto o livro quanto o programa desta terça são recomendados. Os saudosistas serão só sorrisos; os curiosos vão compreender o Brasil do passado por outra ótica. Nessas imagens (hoje retrô), há noções (que um dia não foram antiquadas) sobre os mais variados temas.


“Propaganda de cigarro só faltava vender saúde. Daqui a 20 anos, acho que estaremos falando do suco de caixinha. Falam que não tem açúcar, que não tem conservante, que é natural. Natural é a fruta. No fundo, não é só um livro sobre propaganda, mas também comportamento. As propagandas mostram como era o mundo e é muito curioso observar essas mudanças”, diz Villas. Um dos seus capítulos favoritos é o que reúne peças refletindo a busca das mulheres por igualdade de direitos.


O autor conta que, ao contrário da cena que se habituou a ver – jornalistas ignorando páginas publicitárias –, ele sempre gostou de ver os anúncios. Somando a isso o fato de ter grande arquivo de jornais e revistas em casa (um acervo que ocupa três cômodos), percebeu que poderia contar um período dessa história com alguma propriedade e agrupando em blocos temáticos as propagandas. “Conto histórias, inclusive da minha família, para não ficar naquela coisa técnica. Fica mais divertido”, diz ele.


Além das impagáveis peças publicitárias da General Electric, estão lá as do Ovomaltine (“O poderoso alimento fortificante”), sapatos Hércules (“Topa qualquer parada”; ao lado de um revólver e um cinturão de balas) e Minister (“Um cigarro de agrado internacional”; com um casal flertando e fumando durante uma caçada), para ficar só em alguns casos mais controversos. Aliás, nesse sentido, não há melhor “exemplo” que o da propaganda criada para a Ford: uma mulher amordaçada e amarrada num porta-malas (“Agentes secretos acham bastante razoável o espaço do porta-malas do Galaxie”).

CHAVÃO “Tenho material para um outro livro, pois não dava para fazer um de 400 páginas. Estou pensando em um segundo volume, chegando aos anos 1980. Isso já tem 30 anos”, diz Villas. Entre as peças que lamenta terem ficado de fora está a que lançou o adoçante Suita (“Ninguém ama um homem gordo”). Ele observa que, mesmo após tantas mudanças, a publicidade ainda não se livrou de certos chavões, como os que costumam aparecer na época do Dia das Mães. “Ainda é clássico, apesar de ultrapassado. Não é mais a esposa ou a mamãe, mas o filhinho com uma rosa, por exemplo. Está em HD, mas no fundo é a mesma coisa”, resume.

Na opinião de Villas, além de a mensagem ter ficado mais rápida e curta, o perfil do anunciante também mudou. “A Veja dos anos 1970 tem página inteira com propaganda de fábrica de trator. Tampa de vaso sanitário, bateria de automóvel, motor de barco, isso saía em revistas que não eram especializadas. Hoje, basicamente, aparecem operadora de celular, carro, cerveja, banco e produtos das marcas líderes de alimentos. O resto é varejão, com algumas coisas locais. Concentrou muito. Antigamente, tinha sabonete, talco, sapato, sabonete, pilha”, cita.

Novos Volumes Alberto Villas prepara dois livros para lançamento no semestre que vem. O primeiro será uma biografia do escritor e desenhista Millôr Fernandes, intitulada Mil tons: O meu Millôr, inicialmente apenas em formato e-book pela Editora Galáxia. “Tenho tudo dele que foi publicado na Veja e na IstoÉ encadernado. E não fiz achando que fosse escrever livro sobre ele, é porque sempre gostei”, conta o jornalista.


Pela Planeta, publicará As canções que vocês fizeram para mim, com sua visão sobre a música que tocava na época do golpe de 1964, quando tinha 14 anos. “Sem a pretensão de contar a história da Tropicália ou da Bossa Nova. Eu era rock and roll e meu pai ouvia Orlando Silva. Um odiava a música do outro. Havia uma barreira, aquela coisa de música de velho. Hoje não há conflito aqui em casa. Eu ouço Tulipa Ruiz, minha filhas ouvem Beatles”, afirma.

 

Lançamento do livro de Alberto Villas pelo projeto Sempre um Papo
Nesta terça-feira, às 19h30, no Museu das Minas  e do Metal (Praça da Liberdade, s/nº, Funcionários). Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br

 


 

 

 

MAIS SOBRE E-MAIS