Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima tentam lidar com a emoção da perda em peça

Espetáculo estreia neste fim de semana em Belo Horizonte

por Carolina Braga 08/05/2015 10:13

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ERNESTO VASCONCELOS/Divulgação
As atrizes Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima apresentam o espetáculo Nômades em BH neste fim de semana (foto: ERNESTO VASCONCELOS/Divulgação)
Coquetel de lançamento, uma conversinha aqui, outra ali. Tipo de encontro casual para colocar a vida em dia com os amigos e colegas de profissão. Há aquela pergunta sempre presente: “E aí, o que você tem feito?”.
 

Numa dessas, meados de 2014, as atrizes Mariana Lima e Malu Galli contam a Andréa Beltrão a boa-nova. Estariam juntas no palco. Ensaiavam com o ator Fernando Eiras uma peça sobre nomadismo, passando pelo universo dos ciganos e dos judeus. Teatro de pesquisa, criação colaborativa, trabalho exaustivo na sala de ensaio. Mas o ator vai precisar deixar o elenco, por razões pessoais.

Andréa ouve aquilo e se lembra de uma máxima que tem para si: trabalhar com gente querida. Soube, na sequência, que a direção seria de Marcio Abreu, da curitibana Cia Brasileira, com dramaturgia de Patrick Pessoa e colaboração de Newton Moreno, de quem já fez 'As centenárias', com Marieta Severo, e também Jacinta. Ou seja, estava cada vez mais difícil ficar longe desse projeto.

“Sempre procurei estar perto de gente que admiro, que me impressiona, instiga. O tamanho do papel nunca importou, se é bom, ruim, melhor ou pior. Poucas vezes isso me interessou na vida”, afirma. Não deu outra. “Ela se ofereceu para fazer com a gente”, conta Mariana Lima sobre a gênese de 'Nômades', que tem sessões hoje e amanhã, em Belo Horizonte. Para aumentar ainda mais a atração de Andréa pela parceria, Nômades fala de amizade.

As três já tinham um histórico de colaborações. Mariana e Malu estavam no elenco de 'Gaivota – Tema para um conto curto' (2006), dirigida por Enrique Diaz. Malu dirigiu Mariana em 'A máquina de abraçar' (2010) e Andréa dirigiu Malu em 'Diálogos com Molly Bloom' (2007). Em 'Nômades', é a primeira vez que as três participam da criação de um espetáculo e dividem a cena. Agora são amigas no palco e fora dele.

“Tem esse momento raro: somos três atrizes que têm um temperamento artístico próprio. Somos muito diferentes e isso influencia na intensidade da força que a gente tem em cena”, comenta Malu.

MORTE Do momento em que informalmente combinaram o encontro inédito até a estreia da peça, em outubro do ano passado, muita coisa se transformou. Inclusive o tema. Durante os dois meses de ensaios, a visão histórica do nomadismo deu lugar a uma reflexão: os deslocamentos que os atores inevitavelmente fazem para alcançar personagens e estados afetivos distintos do habitual.

Para isso, contam a história de três amigas impactadas com a notícia da morte inesperada de uma quarta. A forma como cada uma delas reage ao fato conduz a montagem. “Nômades traz a questão da morte. De uma perda muito grande, uma dor e que, ao mesmo tempo, é uma lição de vida”, diz Andréa. “É uma peça que não para de se movimentar. Tem uma estrutura fixa, nós não improvisamos. As personagens são fluidas. Carregam uma mistura de coisas, de pulsões”, detalha Mariana.

Para Malu, o espetáculo tem uma narrativa tão própria, “um jeito tão peculiar”,  de acontecer que isso é o bastante para pegar o espectador e arrebatá-lo. Para Mariana, habituada a profundos mergulhos em criações teatrais, Nômades é uma obra de “alta intensidade, com uma força muito singular” e uma demanda grande das atrizes.
Pesquisa com sentido

Nos dois meses em que ficaram concentradas em sala de ensaio, as três atrizes de Nômades estudaram a obra do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), assistiram aos filmes de John Cassavetes (1929-1989), ouviram e selecionaram muitas músicas. Canções de Donna Summer, Robert Smith, Maria Bethânia, Amy Winehouse, Tom Jobim, Kurt Kobain, Jennifer Beal e Michael Jackson contribuem para a dramaturgia.
 
Da atuação para a cantoria, eis aqui uma maneira de também ser nômade. Além da trilha, outros elementos da encenação experimentam essa transitoriedade. O mesmo ocorre com o cenário de Fernando Marés e Marcio Abreu. Muda de condição durante o espetáculo. “O cenário é um acontecimento”, resume Mariana.

“Gosto muito de me aventurar, experimentar e fazer todo tipo de teatro. Procuro passar por vários lugares, porque é mais divertido. A gente pode aprender mais. Acho que é o sal da vida, algo que faz a diferença nos níveis pessoal e profissional”, diz Andréa.

Ex-integrante do teatro da Vertigem, Mariana Lima diz que não sabe fazer teatro se não for por meio de escavações pessoais. “Não existe teatro que não seja de pesquisa, mesmo aquele que já está escrito. No nosso caso, foi mais difícil e arriscado, porque significava construir um texto a partir de uma pesquisa e em pouco tempo”, avalia.

Ok, é teatro de pesquisa, construído em sala de ensaio com a orientação de um diretor consciente de onde deseja chegar, mas Nômades não incorre no erro comum da experimentação gratuita. “Pesquisa por pesquisa acho muito chato. O público não merece ver um teatro que fala para o umbigo do artista”, sintetiza Andréa Beltrão.

 

Pesquisa com sentido

 

Nos dois meses em que ficaram concentradas em sala de ensaio, as três atrizes de 'Nômades' estudaram a obra do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), assistiram aos filmes de John Cassavetes (1929-1989), ouviram e selecionaram muitas músicas. Canções de Donna Summer, Robert Smith, Maria Bethânia, Amy Winehouse, Tom Jobim, Kurt Kobain, Jennifer Beal e Michael Jackson contribuem para a dramaturgia.


Da atuação para a cantoria, eis aqui uma maneira de também ser nômade. Além da trilha, outros elementos da encenação experimentam essa transitoriedade. O mesmo ocorre com o cenário de Fernando Marés e Marcio Abreu. Muda de condição durante o espetáculo. “O cenário é um acontecimento”, resume Mariana.


“Gosto muito de me aventurar, experimentar e fazer todo tipo de teatro. Procuro passar por vários lugares, porque é mais divertido. A gente pode aprender mais. Acho que é o sal da vida, algo que faz a diferença nos níveis pessoal e profissional”, diz Andréa.


Ex-integrante do teatro da Vertigem, Mariana Lima diz que não sabe fazer teatro se não for por meio de escavações pessoais. “Não existe teatro que não seja de pesquisa, mesmo aquele que já está escrito. No nosso caso, foi mais difícil e arriscado, porque significava construir um texto a partir de uma pesquisa e em pouco tempo”, avalia.


Ok, é teatro de pesquisa, construído em sala de ensaio com a orientação de um diretor consciente de onde deseja chegar, mas 'Nômades' não incorre no erro comum da experimentação gratuita. “Pesquisa por pesquisa acho muito chato. O público não merece ver um teatro que fala para o umbigo do artista”, sintetiza Andréa Beltrão.

 

'NÔMADES'
Com Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima. Sexta, às 21h, e sábado, às 20h. Cine Theatro Brasil Valourec. Praça Sete, s/nº, Centro, (31) 3201-5211. Plateia 1: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia); plateia 2, R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia); balcão, R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

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