Ações que, em Belo Horizonte, são desenvolvidos por diversas instituições e grupos, públicos e privados. Isso vai mudando a visão da arte e, especialmente, da carreira artística, não mais vista com preconceito, mas tratada como opção profissional, como qualquer outra. A prática, vale lembrar, é uma tradição no setor de arte, existindo inclusive artistas importantes que defenderam que os cursos livres seriam os ideais para a formação na área.
Direito de todos “A possibilidade de ter contato com a experiência artística é direito do cidadão”, afirma Sânia Veriane, gerente da Escola Livre de Artes Visuais da Fundação Municipal de Cultura. Trata-se de consolidação de ações do programa Arena da Cultura, dedicada à formação artística, que existe desde 1998. Em 2015, receberam 3.400 inscrições de interessados em ocupar 2 mil vagas gratuitas de cursos em sete áreas artísticas, com quatro anos de duração e três módulos independentes (iniciação, aprofundamento e especialização).
É fundamento da escola a busca de diversidade etária – atividades para todas pessoas a partir dos 14 anos – e territorial – está em todas as regionais de Belo Horizonte e no BH Cidadania. Valoriza o professor artista, enfatizando a atenção à criação. “É o grande elemento da atividade artística e cultural e é importante que a pessoa se veja como sujeito da criação. Estimulamos o que é desestimulado em outros processos”, explica Sânia Veriane. A escola oferece conhecimentos para atuação profissional na área, mas quer também acesso mais qualificado da arte e da cultura.
“As pessoas estão querendo se expressar”, observa Sânia Veriane, suspeitando que é tal sentimento que está movendo a multiplicação de cursos livres. A escola, conta, é resposta a um pedido da sociedade. “A oportunidade de adentrar o mundo da arte e da cultura ainda é muito distante das pessoas”, avisa. “Estamos começando a ter outro tipo de visão da arte e da cultura, não mais como a tal cereja do bolo, mas como direito de todos”, enfatiza. Há desafio posto no setor, avisa: a questão da formação nas áreas técnicas é essencial para dar suporte ao crescimento das atividades no setor.
“Nos cursos de extensão recebemos público variado, com diferentes experiências de vida, o que enriquece a universidade e a caracteriza como escola aberta”, acrescenta Giselle Safar. Os cursos de extensão da Escola de Design da UEMG, no geral, são semestrais, com uma aula/hora por semana. Para a professora, por serem de curta duração levam uma vantagem: “O aluno cansa menos e se adequada à proposta de se sensibilizar para certos conteúdos”. Se o aluno não comparecer no dia de aula e não justificar, perde a vaga.
Primeiros passos
Por serem uma tradição na área de arte e cultura, é comum que inclusive artistas formados na universidade façam cursos livres, oficinas e seminários, seja como complementação, aprofundamento ou especialização. A artista plástica e professora Cláudia Renault, por exemplo, tem curso acadêmico, mas já fez e ministrou cursos livres. “Eles oferecem contato com a escola, com professores, com as linguagens artísticas e, às vezes, com técnica ou propostas que abrem horizontes”, conta, lembrando que quando começou a estudar na Escola Guignard ela era uma escola livre, inclusive não reconhecida pelo MEC.
“Os cursos livres, em muitos casos, são o primeiro passo no sentido de decidir por um curso na universidade”, observa Cláudia Renault. Ela gosta especialmente dos cursos de imersão, como são os oferecidos nos festivais de inverno. “É um viver a arte em tempo integral, o dia inteiro, desde o trabalho de ateliê até o acesso à programação cultural. O que é um sonho para todos que querem trabalhar com arte”, afirma. O estudo da arte, sem a estruturação da escola formal, para ela faz bem à arte. “A pessoa fica mais solta, menos presa a notas, tudo fica mais prazeroso. E esses aspectos contam na hora de fazer arte”, avisa.
A mineira Sônia Gomes, única brasileira selecionada para a 20ª Bienal de Veneza, em vez de fazer curso em escola de arte preferiu fazer apenas as disciplinas que atendiam às necessidades dela. “Sabia que minha vida era trabalhar com criação, então o diploma não era o mais importante. O que eu procurava era saber o que eu era”, recorda. “Como não desenhava, achava que não poderia ser artista. Fiz então a disciplina voltada para desenvolvimento da criatividade e descobri que, na arte contemporânea, você tem muitas formas de se expressar. Foi uma libertação”, explica a artista.
“Fazer matérias isoladas de curso universitário, na minha opinião, é uma boa opção”, continua. “Cursos livres, por ser de curta duração, oferecem pouca oportunidade de convivência com colegas, o que também considero importante para a formação”, acrescenta.
Alternativas
*Tem atividades para todos os tipos de públicos. Podem ser gratuitos ou pagos.
*As inscrições, em geral, são feitas duas vezes por ano, normalmente nos fins de semestres de anos letivos. Além dos citados aqui, existem muitos outros, públicos e privados, que podem ser encontrados por meio de pesquina na internet.
*Escola de Design da UEMG – Cursos gratuitos. Informações: www.ed.uemg.br.
*Escola Guignard da UEMG – Cursos pagos. Em média, R$ 550 (em três vezes) ou R$ 500 (à vista). Informações: (31) 3194-9310, das 11h às 12h; e das 13h às 21h. Informações: www.uemg.br/unidade_guignard.php
*Escola de Belas Artes da UFMG – Cursos (inclusive nas áeras de literatura, moda, dança, audio visual) pagos, entre R$ 200 e R$ 510. Informações: https://www.eba.ufmg.br/cenex.
*Escola Livre de Artes da Fundação Municipal de Cultura – Cursos gratuitos. Informações: www.bhfazcultura.pbh.gov.br.